Documentos em poder da CPI dos Correios mostram que o contrato do Banco do Brasil com a DNA Propaganda, empresa de Marcos Valério Fernandes, foi usado como garantia a empréstimos de R$ 29 milhões concedidos pelo Banco Rural e que, segundo o empresário mineiro, teriam ajudado a financiar o PT e aliados políticos do governo.
"Já podemos afirmar que os contratos de publicidade com as estatais – Banco do Brasil, Correios e Eletronorte – foram usados por Marcos Valério no financiamento do caixa dois", disse o sub-relator da CPI dos Correios Gustavo Fruet (PSDB-PR) ao jornal Folha de S. Paulo. "Não podemos falar em desvio de dinheiro público porque dinheiro não tem carimbo, mas a triangulação está clara", afirmou o tucano, que vai apresentar um relatório parcial na próxima quinta-feira.
A garantia aceita pelo Banco Rural em empréstimos concedidos às empresas SMP&B e Graffiti contrariou dispositivo do contrato do BB com a DNA, que proibia o uso dos futuros pagamentos como garantia, "salvo com autorização prévia". De acordo com o Banco do Brasil, em ofício encaminhado à CPI, a autorização não foi concedida. O banco alega desconhecer que a DNA "tenha concretizado qualquer operação financeira ofertado em garantia os contratos que mantinha com o Banco do Brasil".
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O Rural, por sua vez, diz a Folha, garante que o BB foi notificado "formalmente" pela DNA a transferir os pagamentos decorrentes do contrato de publicidade para o banco.
Até o rompimento do contrato, em julho, a DNA recebeu mais de R$ 150 milhões em pagamentos do contrato com o Banco do Brasil.
Os empréstimos do Rural, no entanto, nunca foram pagos e receberam recentemente a mais alta classificação de risco, quando o calote é considerado inevitável. Os R$ 29 milhões liberados pelo Rural para alimentar o caixa dois do PT valem hoje cerca de R$ 50 milhões.
Na quinta-feira passada, o relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que R$ 10 milhões adiantados pelo BB à DNA para a publicidade de cartões de crédito e débito da bandeira Visa foram transferidos ao BMG apenas quatro dias antes de o banco mineiro conceder empréstimo no mesmo valor a Rogério Tolentino, sócio de Valério. Na avaliação do relator, essa é a primeira prova de desvio de dinheiro público para o "valerioduto".