O deputado ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) entregou nesta quarta-feira (19) sua carta de renúncia à Câmara. O objetivo é escapar do julgamento do mensalão mineiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pelo qual é acusado pelo Ministério Público de participar de desvios de R$ 9 milhões do governo do Estado por meio da agência do publicitário Marcos Valério Souza, condenado como operador do mensalão do PT. Alegando “infeliz coincidência” com o escândalo petista, Azeredo diz que passou a “sofrer ataques para compensar delitos cometidos por outros” e reafirmou sua inocência no caso.
A “coincidência” de a SMP&B de Valério ter se envolvido no mensalão em Brasília fez do ex-governador, segundo ele, um “cúmplice” de ações das quais não participou. Azeredo disse que a empresa de publicidade foi contratada “antes mesmo” de seu governo (1994-1998). Ele afirmou que a acusação da Procuradoria Geral da República (PGR), que pediu ao Supremo a condenação do deputado a 22 anos de cadeia por peculato e lavagem de dinheiro, é baseada em depoimentos e documentos falsos. Nas alegações finais contra Azeredo, o procurador Rodrigo Janot, que se baseia ainda em transferências bancárias e cheques, afirma que a Polícia Federal considerou autênticos os documentos apresentados para pedir sua condenação.
Leia também
Leia a íntegra da carta de renúncia do deputado
Com a renúncia, o deputado deixa de ter foro no STF. Seu processo, em análise pela corte desde 2007, deve voltar para a Justiça de primeira instância em Minas Gerais. A medida atrasa a condenação ou absolvição do réu. Nos últimos anos, deputados réus como Ronaldo Cunha Lima (DEM-PB) e Natan Donadon (PMDB-RO) tomaram o mesmo caminho adotado hoje por Azeredo para tentar retirar o caso das mãos do Supremo, onde previam condenação iminente.
Mas só o primeiro teve sucesso na manobra. Cunha Lima faleceu em 2012 sem nunca ter sido condenado pela tentativa de homicídio cometida em 1993. Já Donadon, sentenciado pelo STF a 13 anos de cadeia, está preso na Papuda desde o ano passado por desvio de dinheiro e formação de quadrilha.
Tragédia
Na carta de renúncia, Azeredo diz que se sente atingido por uma “tragédia”, como um “atropelamento inesperado na travessia de uma rua”. Ele insistiu não ser culpado de nenhum desvio de dinheiro. E afirmou que as acusações de Janot são “injustas, agressivas, radicais e desumanas”. “Não fiz nenhum empréstimo fictício para a minha campanha de reeleição em Minas em 1998. Não fiz, nem faria, por uma questão de princípio, nenhuma lavagem de dinheiro.”
Ele afirma que não teve responsabilidade na movimentação financeira de sua campanha, mas que não adianta se defender. “Não vou […] me sujeitar à execração pública por ser um membro da Câmara dos Deputados e estar sujeito a pressões políticas”, afirmou Azeredo. “Esta sanha não quer que prevaleça a ponderação da Justiça, mas, sim, ver, pendurado e balançando no cadafalso, o corpo de alguém exemplado para satisfazer os mais baixos apetites em ano de eleição.”
Fora do Congresso, Azeredo afirma que vai se dedicar a defender-se. “Deixar o Parlamento para dedicar todos os meus dias à defesa de minha honra e de minha liberdade.”