Senadores presentes à sessão plenária da tarde de hoje (9) recrudesceram a pressão para que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afaste-se espontaneamente da direção da Casa. A situação do senador alagoano agravou-se depois das denúncias de que ele operou plano de espionagem de senadores desafetos. O PT, o PSB e o PDT, partidos da base aliada, se uniram ao coro oposicionista pela saída de Renan
Para amenizar a previsível pressão que sofreria, o presidente anunciou o afastamento do assessor especial Francisco Escórcio, o Chiquinho. Ele voltou a negar a espionagem.
O líder do DEM, José Agripino (RN) insinuou que o presidente só pensa em si próprio: “Vossa Excelência não pensa na instituição. Se pensasse, ouviria o apelo dos seus pares. O pedido, da Casa toda, é um só: que vossa excelência se licencie”, disse o senador potiguar, olhando fixamente para um acuado Renan.
“Não é que o senador Renan Calheiros não pense no Senado, mas ele não serve à Casa estando onde está, na cadeira de presidente”, completou o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN).
Por sua vez, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) usou metáfora recorrente para pedir o afastamento de Renan da cadeira de presidente da Casa. “Volte à planície para se defender. Não há mais condições políticas para sua permanência no cargo”, sintetizou. Na opinião de Álvaro Dias, o presidente deveria ouvir o clamor popular e se defender das acusações como senador comum.
Eduardo Suplicy (PT-SP), Renato Casagrande (PSB-ES), Marisa Serrano (PSDB-MS), entre outros senadores, estão entre os que pediram na tarde de hoje a saída de Renan.
Irritado com o bombardeio de pronunciamentos desfavoráveis na tribuna, Renan Calheiros abandonou a sessão. Ele foi à presidência da Casa e, de lá, foi inaugurar uma exposição de arte no Salão Negro, quando aparentou tranqüilidade ao ser questionado sobre a pressão dos colegas.
“Já tínhamos tido outros embates. Levo isso com tranqüilidade. Faz parte do jogo.” Ele disse que não houve conflito entre ele e os senadores. “Minha característica é da harmonia. Não sou do confronto”, afirmou Renan pouco antes de retornar à presidência, à noite.
Confronto, sim
Mas não foi isso que se viu na tarde de hoje. Renan confrontou, sim, seus colegas. Ele ficou irritado com as afirmações de Aloízio Mercadante (PT-SP), Demóstenes Torres (DEM-GO) e Agripino. Renan deixou a tribuna quando o petista falava e voltou à cadeira da presidência. Na vez de Agripino, o presidente abandonou a sessão, que se encerrou mais tarde, às 19h05.
Para o líder do DEM, o alagoano ficou desnorteado quando viu até colegas da base governista pedirem sua saída. “Isso o irriquieta e fez com que ele se digladiasse com alguns senadores”, afirmou Agripino. O parlamentar acredita ser necessário apressar os processos contra Renan no Conselho, porque, hoje, Renan seria cassado.
“Livre-nos”
A sessão foi marcada pela audição de uma gravação em que o advogado Hely Dourado admite o encontro de Chiquinho, assessor afastado da presidência, com o empresário Pedro Abrão. Chiquinho estaria no encontro por ordem de Renan. Demóstenes Torres (DEM-GO) exibiu o áudio e engrossou o coro pela saída do alagoano.
Do plenário, Cristovam Buarque (PDT-DF) disse a Renan que ele pode até ser inocente, mas a situação mostra a falta de credibilidade do presidente. “Livre-nos, senador, de ouvir esses áudios”, apelou o parlamentar.
Como Renan reafirmou que não deixa a cadeira onde está, Demóstenes o chamou de “pecilotermo”. “É um animal de sangue frio. Ele não vai se abalar com isso [os pedidos de saída].”
Pressão
Para compensar, a oposição e os governistas jogaram pressão sobre o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-AL). Eles exigem que os processos mais importantes contra Renan e pendentes de julgamento sejam resolvidos até 2 de novembro. Caso contrário, a oposição promete fazer obstrução. E alguns governistas estudam a medida. “Nesse tempo, nós vamos avaliando”, afirmou o líder do PSB, Renato Casagrande (ES).
Quintanilha prometeu hoje definir o relator para a acusação de quem Renan comprou um jornal e duas rádios em Alagoas de forma oculta, usando “laranjas”. Nos corredores do Senado, parlamentares dizem haver um acordo pelo nome de Jefferson Péres (PDT-AM). Resta saber se Quintanilha vai aceitar. Ele terminou por adiar a escolha, mais uma vez. (Fábio Góis, Erich Decat e Eduardo Militão)
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Atualizada às 20h25