A atriz canadense Ellen Page, que concorreu ao Oscar de melhor atriz em 2008 por sua atuação no filme Juno, divulgou nesta sexta-feira (11) uma entrevista que fez com o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) para sua série Gaycation. Ellen, que assumiu ser lésbica em 2014, identificou o parlamentar como “uma das principais vozes do movimento anti-gay” no Brasil e lamentou que ele tenha “tanta influência e poder”. Ao fim da entrevista, a atriz disse ao deputado que ele demonstra ter ódio e medo dos homossexuais.
Ellen perguntou a Bolsonaro por que ele defende que uma criança seja tratada “à base da porrada” para “não virar gay” e por que declarou preferir ter um filho morto a um filho homossexual. “Quando um filho está muito violento, novo, dando corretivo nele, ele deixa de ser violento. Por que o contrário não vale? Se você estimular desde criança e mostrar que é normal isso ou aquilo, a criança vai praticar aquilo”, respondeu o parlamentar, que trocou na semana passada o PP pelo PSC.
Veja a entrevista:
Corretivo
Lançado como pré-candidato à Presidência pelo seu novo partido, o deputado disse que o número de homossexuais cresceu nos últimos anos por causa das “liberalidades” e do ingresso da mulher no mercado de trabalho. “Quando eu era jovem, existiam poucos (gays). Com o passar do tempo, as liberalidades, a mulher também trabalhando, aumentou-se bastante o numero de homossexuais”, disse. “Se o seu filho começa a andar com certo tipo de pessoa, ele vai ter aquele tipo de comportamento, acha normal”, declarou.
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Bolsonaro criticou a orientação sexual da atriz. “Você foge da normalidade. Com todo respeito, beira a teoria do absurdo. Até porque você e sua companheira não geram filhos. Se forem gerar, vai depender de algo doado por nós héteros, homens. Não vou brigar contigo pra te transformar em hétero, nem você me transformar em homo. Levar nossa vida…”
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A artista canadense respondeu: “Como uma pessoa gay, se eu puder fazer você se sentir melhor, com esse medo que você parece ter, não quero que alguém que não seja gay vire gay. Quero que gays que estejam sofrendo no armário com desejo de suicídio fiquem bem e amem a si mesmos. Mas não quero que as pessoas que não são gays virem gays. Com exceção talvez da Kate Winslet (risos)”. Sem a tradução da fala da atriz, o deputado brincou: “Estou rindo, não sei o que ela falou”.
No encerramento da entrevista, Ellen Page lastimou o poder que o deputado fluminense exerce no país. “Piadas à parte, Bolsonaro é um político com grande poder e influência. É devastador saber que uma pessoa com tamanha influência tenha tanto desdém com a comunidade gay”, criticou. O nome de Jair Bolsonaro foi incluído em possíveis cenários simulados para a disputa presidencial em pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto Datafolha. Ele oscilou entre 5% e 6% das intenções de votos.
Ellen Page passou a ter protagonismo na militância LGBT após assumir ser gay durante uma conferência nos Estados Unidos dois anos atrás. “Estou cansada de esconder, e estou cansada de mentir por omissão. Estou aqui hoje porque sou gay, e porque talvez eu possa fazer a diferença”, discursou. “Eu sofri durante anos, porque estava com medo de sair [do armário]. Meu espírito sofreu, minha saúde mental sofreu, meus relacionamentos sofreram. E eu estou aqui hoje, com todos vocês, no outro lado da dor”, emendou. Além de Juno, a atriz também atuou em outros filmes exibidos no Brasil, como X-Men, Menina Má.com e A origem.