Rudolfo Lago
Um José Serra com a faca nos dentes. Bem longe do clima modorrento do debate na TV Band, há duas semanas, o debate UOL-Folha, o primeiro embate pela internet da história política brasileira, trouxe um pouco mais de calor à discussão eleitoral. Especialmente pela postura do candidato do PSDB. Acuado pelos resultados das últimas pesquisas, que apontam para o início de uma vantagem ampla da candidata do PT, Dilma Rousseff, com possibilidade de até de vitória no primeiro turno, Serra saiu das cordas e partiu para o ataque. Ao ser mais contundente, acabou fazendo Dilma assumir também essa postura. Assistindo em posição privilegiada, Marina Silva, do PV, chegou a dizer que ambos estavam ensaiando “cenas de pugilato”. Ao final, porém, Marina acabou dando também suas estocadas, ao não reconhecer “grandes diferenças” entre Serra e Dilma.
Assista à integra do debate
O primeiro ataque de Serra sobre Dilma foi logo no primeiro bloco. Serra respondia a uma pergunta feita por Dilma, que questionava o fato de o DEM ter entrado com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra o Prouni, o programa que concede bolsas a universitários. Serra fugiu de comentar as razões ou erros do DEM.
Na sua resposta, porém, igualou qualquer possibilidade de a ação do seu partido parceiro na campanha ter sido irresponsável. Lembrou o fato de o PT ter sido contra a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, contra a Constituição, contra o Plano Real, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. “Em matéria de quanto pior, melhor, o PT é campeão”, bateu Serra.
A resposta de Dilma ensejou a primeira de duas admissões que poderão vir a ser exploradas agora por Serra na campanha eleitoral. Dilma reconheceu que o PT errou em todas essas acusações. “A diferença é que o PT reconhece seus erros”, disse ela. Mais tarde, ela fez um reconhecimento que foi mais comemorado pelos assessores de Serra: admitiu que a conquista da estabilidade econômica no Brasil foi obtida pelo governo Fernando Henrique Cardoso, com o Plano Real.
Ela, porém, fez ressalvas: “Foi uma estabilidade com problemas. A estabilidade econômica com crescimento, fomos nós que conseguimos”, disse Dilma. Os assessores de Serra, porém, avaliaram que a admissão permite agora uma exploração mais positiva da era Fernando Henrique, que era visto até agora na campanha como um vilão.
O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), minimizou o tom mais pesado contra Dilma usado por Serra. “Ele só falou algumas verdades”, disse. Para Sérgio Guerra, Serra começou mais tenso, mas acabou o debate mais solto. Dilma, ao contrário, acabou mais tensa, especialmente depois das perguntas feitas pelos internautas. “Ela ficou nervosa com as perguntas, e ainda leu suas considerações finais. Ora, uma candidata que tem que ler seu discurso de saudação aos eleitores?”, questionou Sérgio Guerra.
Houve ainda outros ataques. Serra acusou claramente o PT de ter feito dossiês contra ele (nas eleições passadas, no episódio que ficou conhecido como “aloprados”) e agora contra o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge. Dilma respondeu com dureza: “Nós temos processado todos que nos caluniam. Quem acusa, tem que provar”, disse ela.
Os ataques mais fortes no início a José Serra passaram a impressão de que Marina Silva, do PV, fazia uma dobradinha com Dilma. Marina disse que o PSDB, em 20 anos de governo em São Paulo, nada fizera pela educação na cidade. Depois, criticou o fato de Serra ter usado em seu programa eleitoral uma favela virtual, com “tanta favela real” que ele poderia usar. Mas,no fim, Marina reservou também uma estocada para Dilma, criticando o fato de ela ser chamada de “mãe do PAC”. “Estão infantilizando a política brasileira com essa história de mãe, tio”, atacou.
Medo do internauta
O grande diferencial do debate UOL-Folha foi a interatividade com os leitores na internet. Para o jornalista Fernando Rodrigues, que mediou o debate, o ideal era que essa interatividade tivesse sido maior. Segundo ele, os assessores dos candidatos resistiram ao máximo contra as perguntas dos internautas. Queriam um debate nos mesmos moldes dos feitos pela televisão. Temiam pelo conteúdo dessas perguntas.
E, de fato, os questionamentos vindos dos leitores pela internet deixaram os candidatos numa saia justa. Dilma, especialmente, traiu sua contrariedade com a pergunta sobre sua falta de experiência. O leitor lembrava que ela tinha criticado a escolha do deputado Índio da Costa (DEM) como vice de Serra, dizendo que ele era um candidato improvisado. “A senhora não é também uma candidata improvisada?”, perguntou o leitor, lembrando a sua falta de experiência política e o fato de Dilma ter sido escolhida depois que os nomes inicialmente preferidos – José Dirceu e Antonio Palocci – terem caído em conseqüência das situações decorrentes do escândalo do mensalão e da CPI dos Bingos.
Diante da manifestação de parte da platéia, que aplaudiu a pergunta, Dilma pediu que seu tempo fosse descontado, visivelmente contrariada. Dilma disse que era uma candidata não tradicional. “Não tenho experiência parlamentar, mas tenho experiência administrativa”.
Um internauta perguntou sa Marina sobre os grandes financiadores de campanha, empresários, se as doações que eles faziam era por amor ao Brasil.
Um internauta perguntou a Serra sobre os altos preços dos pedágios. Ele falou da qualidade das estradas e não tocou no assunto preço. Questionada sobre as conquistas de PT e PSDB, Dilma afirmou que reconhece o plano real como moeda estabilizadora, ao mesmo tempo em que disse a economia não estava tão boa assim quando o governo Lula assumiu o país, em 2003.
Nas perguntas feitas pelos jornalistas, Serra foi questionado sobre se seus aliados não eram iguais aos de Dilma, em termos de conservadorismo e fisiologismo. Questionada sobre sua o câncer que enfrentou, Dilma disse que está curada da doença. Perguntada sobre quem apoiaria num segundo turno, Marina igualou o tucano e a petista: “Segundo turno eu discuto no segundo turno”.
Veja em vídeo a íntegra do debate
Bloco 1: Dilma cita ameaça ao Prouni e Serra diz que ela é “muito ingrata”
Bloco 2: Segundo bloco aborda vazamento e Marina ataca
Bloco 3: Dilma diz que tucanos não devem discutir saneamento
Bloco 4: Candidatos saem de saias justas dos internautas
Bloco 5: Sobre pedágio, Serra fala de qualidade de estrada
Bloco 6: No final, Dilma fala de preconceito contra câncer
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