Minutos após estourar no noticiário uma das denúncias mais devastadoras contra o presidente Michel Temer (PMDB) relativas à Operação Lava Jato, parlamentares da oposição e também da base do governo se manifestaram sobre a mais grave crise da gestão peemedebista. Enquanto a oposição gritava aos quatro cantos no Parlamento e nas redes sociais, a base aliada demostrava perplexidade com a notícia de que o empresário Joesley Batista, dono do grupo J&F e da JBS, teria entregado áudios à Procuradoria-Geral da República com gravações nas quais Temer teria pedido a Joesleu a manutenção de mesadas ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e a Lúcio Funaro, um dos operadores do petrolão, para que ficassem em silêncio sobre o esquema de corrupção. Tanto entre governistas quanto entre oposicionistas, a certeza é uma só: a situação do governo Temer nunca foi tão grave. Temer nega as acusações.
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Ainda no plenário da Câmara, assim que soube da notícia, o líder do Psol, Glauber Braga (RJ), foi à tribuna. “Acaba de sair uma revelação, a notícia de uma gravação onde Michel Temer dá orientações para manter Eduardo Cunha calado na unidade prisional em que se encontra”, discursou o deputado.
Sem perder tempo, o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) informou ter protocolado pedido de impeachment de Temer. “As denúncias mostram um comportamento incompatível com a função de presidente, com o decoro do cargo”, disse o parlamentar, que também afirmou não ver outra saída para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a não ser receber o pedido.
Ainda na mesma noite, um segundo pedido de impeachment foi feito pelo deputado JHC (PSB-AL). O parlamentar alagoano afirma no documento que a denúncia contra Temer revela “sua total ausência de condições mínimas para liderar o país rumo à saída da maior crise econômica de sua história”.
A assessoria do deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), que teria ficado com a missão de intermediar negociações para Temer, disse que “o empresário e deputado federal Rodrigo Rocha Loures está em Nova York, onde proferiu palestra sobre a política brasileira a um grupo de investidores internacionais. Rocha Loures tem retorno programado para amanhã. Em seu retorno, o deputado deverá se inteirar e esclarecer os fatos divulgados”.
Três opções
Já o líder da minoria, José Guimarães (PT-CE), disse que os partidos de oposição vão trabalhar em três direções: a renúncia, “que deixaria o país mais tranquilo, com a convocação de novas eleições”, o impeachment e a realização de novas eleições diretas.
Membro de um dos principais partidos da base, o líder do DEM, Efraim Filho (PB), ressaltou que, se confirmado o crime, o rito tem que ser seguido como foi o processo de impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff. “É preciso buscar, de forma rápida, respostas para a sociedade brasileira. […] A investigação dos fatos irá dizer se houve qualquer infração à Constituição. Em se configurando qualquer infração à Constituição, o rito tem que ser seguido como foi com a presidente Dilma, de impedimento”, afirmou o deputado paraibano.
Líder do DEM no Senado e um dos principais defensores do impeachment de Dilma, Ronaldo Caiado (GO) disse que, diante da gravidade dos fatos, só resta renúncia de Temer e uma mudança na Constituição. “Diante da gravidade do quadro e com a responsabilidade de não deixar o Brasil mergulhar no imponderável, só nos resta a renúncia do presidente Michel Temer e a mudança na Constituição. É preciso aprovar a antecipação das eleições presidencial e do Congresso Nacional”, afirmou.
Por sua vez, a deputada Eliziane Gama (PPS-MA) pediu convocação de Cunha para prestar esclarecimentos em uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) e defendeu a renúncia de Temer. “Este episódio é o mais grave envolvendo o presidente da República, o que exige o seu imediato afastamento das funções para que os brasileiros possam ir às urnas e escolher diretamente um novo mandatário”, disse a deputada, também membro da base aliada.
Aécio diz que relação era “estritamente pessoal”
De acordo com a coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, em uma conversa de áudio, que durou cerca de 30 minutos, o presidente do PSDB aparece pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, dono da JBS, sob a justificativa de que precisava pagar despesas com sua defesa na Lava Jato. Sua irmã, Andréa Neves, foi quem realizou os primeiros contatos.
Fred, um primo de Aécio cujo nome é Frederico Pacheco de Medeiros, foi quem recebeu o dinheiro entregue pelo diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud. Ao todo, foram quatro entregas de R$ 500 mil cada uma. Uma delas foi filmada pela Polícia Federal.
Por meio de nota, a assessoria de Aécio disse que o senador “está absolutamente tranquilo quanto à correção de todos os seus atos. No que se refere à relação com o senhor Joesley Batista, ela era estritamente pessoal, sem qualquer envolvimento com o setor público. O senador aguarda ter acesso ao conjunto das informações para prestar todos os esclarecimentos necessários”.
Mas a nota de Aécio não parece ter convencido seus colegas de partido. O vereador tucano Mário Covas Neto, homônimo do ex-governador de São Paulo (Mário Covas, 1930-2001), dirigiu-se ao senador em registro no Facebook e pediu sua saída do comando do PSDB. “Como presidente do PSDB na cidade de São Paulo faço um apelo ao senador Aécio Neves: deixe a presidência nacional do partido. O senhor está sendo acusado de uma série de coisas e não tem condições de estar a frente do nosso partido nesse momento”, escreveu o político paulistano.