Sônia Mossri |
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, declarou na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado que a política econômica do país “não vai mudar, não pode mudar e não deve mudar”, mas informações obtidas pelo Congresso em Foco junto a interlocutores do ministro garantem que em pelo menos um ponto ele começa a pensar em mudanças: na taxa de juros. Em relação à taxa de juros, Palocci não está em total sintonia com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O ministro avalia que o Banco Central já poderia ter adotado um cronograma de redução da taxa de juros básicas da economia. No Congresso, alguns integrantes da base governista com trânsito junto ao Ministério da Fazenda já comentam essa divergência. Por enquanto, essa diferença entre Palocci e Meirelles é um segredo para boa parte do governo Lula, sendo um tema discreto em alguns gabinetes do Ministério da Fazenda e na diretoria do Banco Central. Oficialmente, a assessoria de imprensa de Henrique Meirelles se recusa a fazer comentários sobre esse assunto. Já o Ministério da Fazenda sequer retornou aos telefonemas do Congresso em Foco. Leia também Em março, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, passando de 16,5 % para 16,25 % ao ano. Se dependesse da própria equipe do ministro Palocci, essa redução poderia ter sido um pouco mais generosa. Além da taxa de juros, a equipe econômica começa a estudar reservadamente a conveniência da meta de inflação de 5,5% para 2004. Na Fazenda, já se duvida se um índice tão apertado seria adequado para a recuperação da economia. No Banco Central, esse assunto é controverso. Meireles, mais ortodoxo, defende a busca da meta. De qualquer forma, o ministro Palocci quer manter a meta apertada de superávit primário (sem incluir os juros da dívida) acertada com o Fundo Monetário Internacional (FMI), de 4,25 % do Produto Interno Bruto (PIB), mas pretende afrouxar os juros e até mesmo a meta de inflação para que haja uma recuperação da economia no segundo semestre. Aliás, o ministro prometeu a Lula que o país terá índices econômicos melhores a partir de julho. O escândalo envolvendo o ex-assessor da Presidência da República Waldomiro Diniz e as ligações dele com Rogério Buratti, ex-secretário da prefeitura de Ribeirão Preto (SP) entre 1993 e 1994, quando Palocci era prefeito, forneceram argumentos favoráveis para que o ministro da Fazenda convencesse o presidente Lula da necessidade de cautela na redução da taxa de juros. O problema é que nem mesmo Palocci, com toda a calma zen budista que busca demonstrar nas entrevistas e solenidades, anda suportando as pressões do Palácio do Planalto e do PT para baixar as taxas. Recentemente, o próprio Lula pegou o telefone e disparou ligações distribuindo broncas entre ministros e parlamentares. Alguns dos alvos foram Jaques Wagner, ministro-chefe da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil, por causa de comentários contra a política econômica de Palocci. O ministro da Fazenda sabe que, a partir de junho, as cobranças vão aumentar e ele terá que produzir resultados mais favoráveis, como prometeu ao presidente Lula. Por isso mesmo, uma queda maior na Selic é considerada por ele fundamental. |