Uma onda de ataques que começou na madrugada e se continuou ao longo do dia espalhou o terror no Rio de Janeiro. O último balanço da Secretaria de Segurança Pública anuncia a morte de 18 pessoas – nove civis, dois policiais e sete bandidos -, além de contabilizar 23 feridos.
Entre os mortos, sete eram passageiras do ônibus da empresa Itapemerim que saiu do Espírito Santo com destino a São Paulo, mas foi interceptado por 30 homens quando passava pela Avenida Brasil, no Rio de Janeiro. Dentro do ônibus havia 28 pessoas. Após o assalto, os bandidos atearam fogo ao ônibus e os passageiros que estavam sentados nas poltronas traseiras do veículo não conseguiram descer e morreram carbonizados. Os corpos foram recolhidos pelo Corpo de Bombeiros e serão identificados por meio de exame de DNA.
Durante a manhã, policiais e traficantes trocaram tiros nas favelas de Arará, na Zona Portuária do Rio, e da Mineira, no Catumbi. O policiamento foi reforçado em dez favelas da cidade.
No total, nove ônibus foram incendiados e seis cabines da Polícia Militar foram atacadas.
Na Zona Sul, um grupo de criminosos matou um PM, na Avenida Epitácio Pessoa, na altura da Rua Maria Quitéria, na Lagoa. Em frente ao Botafogo Praia Shopping, uma cabine da PM foi atacada. A vendedora ambulante Suely Maria Lima de Souza, de 33 anos, morreu e o filho dela, Gabriel, de 4, ficou ferido. Um policial militar e um outro homem também foram atingidos no local.
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Nos locais dos ataques, foram espalhados cartazes com a assinatura do Comando Vermelho (CV), afirmando que a ofensiva é uma resposta da facção criminosa ao Comando Azul, conjunto de milícias formadas por policiais que já dominariam cerca de de 80 favelas da cidade.
A versão oficial da Secretaria de Segurança Pública é que ordem para os crimes partiu de dentro dos presídios e teria sido dada por líderes do tráfico de droga. Uma das hipóteses é que o Comando Vermelho (CV), o Terceiro Comando (TC) e a Amigos dos Amigos (ADA) tenham atuado, de maneira inédita, conjuntamente.
Três homens acusados de participar da ação foram presos na favela da Cidade Alta, em Cordovil, no subúrbio. De acordo com a polícia, eles estavam com queimaduras nas mãos. Diante dos ataques, donos de empresas ônibus suspenderam a circulação dos veículos que fazem o percurso entre a Baixada Fluminense e o Rio.
Tropas do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Batalhão de Choque e Grupamento Aéreo-Marítimo, com o auxílio de carros blindados, foram colocadas nas ruas na caçada aos criminosos. Os comandantes dos batalhões foram chamados para retomarem seus postos nos quartéis.
Governadora do Rio recusa apoio da Força Nacional
A governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus (PMDB), recusou a ajuda do governo federal para enfrentar os ataques criminosos que deixaram pelo menos 18 mortos na capital desde a madrugada. O Ministério da Justiça ofereceu o envio de tropas da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP).
“Nós, pelo sistema de inteligência da polícia, monitoramos os presídios e tomamos as providências necessárias: colocamos a polícia na rua. O que a bandidagem queria era reeditar São Paulo, mas não conseguiram. E nem conseguirão”. Rosinha se referiu aos ataques na região metropolitana de São Paulo em maio deste ano.
A Força Nacional de Segurança Pública foi criada em agosto de 2004 para atuar em situações de emergência ou quando for detectada a urgência de reforço na área de segurança pública dos estados ou do Distrito Federal. É composta por policiais e bombeiros, considerados os melhores de cada estado e treinados para agir em momentos de crise.
Segundo a governadora, a idéia dos bandidos era matar centenas de policiais para forçar o fim do regime diferenciado dentro dos presídios. “Nós não vamos negociar com bandidos”, afirmou Rosinha.
Em nota, o governador eleito, Sérgio Cabral (PMDB), declarou que o "governo não vai se intimidar e não vai tolerar esses ataques”. Cabral disse que, se necessário, chamará a Força Nacional de Segurança Pública assim que for empossado, na próxima segunda-feira (1º).
Divergência no governo
O Secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira, afirmou que a Cúpula da Segurança Pública do Rio sabia que os bandidos estavam organizando um ataque contra policiais. "Recebi no dia 26 do Serviço de Inteligência da Polícia uma informação de que eles iriam atacar policiais em represália à atuação de milícias nas comunidades que estariam expulsando traficantes", disse Astério.
Ele também rebateu as afirmações do Secretário de Segurança Pública, Roberto Precioso, de que um dos motivos para o ataque seriam as mudanças na administração penitenciária com a possível saída de Austério. O governador eleito do Rio, senador Sérgio Cabral, já havia feito o convite para que Austério Pereira permaneça no cargo.