Entre os convidados, apenas seis candidatos, quatro dos quais favoritos na disputa eleitoral, faltaram aos debates promovidos ontem à noite pela TV Globo e suas afiliadas nos 26 estados e no Distrito Federal. Foram duas horas e 15 minutos de programa.
Em Minas Gerais, o candidato à reeleição pelo PSDB, Aécio Neves, líder disparado nas pesquisas, não compareceu. Sozinho no estúdio, o candidato do PT, Nilmário Miranda, foi entrevistado. No Maranhão, a candidata do PFL, Roseana Sarney, e o candidato do PSDC, Doutor Aragão, também não foram ao debate. O mesmo ocorreu em Mato Grosso, onde o governador Blairo Maggi (PPS), que concorre à reeleição, também deixou a cadeira a ele reservada vazia.
No Amapá, o governador Valdez Góes (PDT), que disputa a reeleição, e Erronflyn Paixão, candidato do PT, também não compareceram. Outro ausente foi o governador Ottomar Pinto (PSDB), candidato à reeleição em Roraima.
Veja como foi o debate em alguns dos principais estados:
São Paulo
No maior colégio eleitoral do país, participaram os cinco candidatos mais bem colocados nas pesquisas de opinião. As perguntas foram feitas sempre de candidato para candidato. O caso do dossiê contra tucanos e críticas à segurança pública dominaram as discussões.
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O candidato do PT, Aloizio Mercadante, antecipou-se ao seu principal adversário ao condenar a negociação de um dossiê que envolveria José Serra (PSDB) ao esquema dos sanguessugas. O petista usou o tempo destinado a responder sobre funcionalismo público para dizer que é "inconcebível" que militantes do PT tenham se envolvido no que ele mesmo chamou de "ação clandestina".
O petista disse que considerava "mais grave e mais doloroso" o fato de seu coordenador-geral de campanha, Hamilton Lacerda, também ter tomado parte na ação contra Serra. Em seguida, porém, Mercadante direcionou os ataques ao seu principal adversário.
O ex-líder do governo Lula citou o nome de Abel Pereira, empresário ligado ao PSDB, acusado de intermediar a negociação da máfia das ambulâncias com o ex-ministro tucano Barjas Negri. A Polícia Federal investiga se Abel também estaria negociando a compra do dossiê com Luiz Antonio Vedoin, coordenador da quadrilha. "Todos os indícios são de que ele (Abel) estava tentando comprar o silêncio da família Vedoin", afirmou o senador.
Líder disparado nas pesquisas, Serra evitou a polêmica e preferiu esperar os comentários finais para retrucar: "Se tentou armar uma grossa baixaria, que se revelou um tiro no pé", declarou, em referência ao dossiê que reuniria provas contra ele.
O tucano também se defendeu sobre as críticas à gestão tucana na segurança pública. "Crime organizado é inimigo público número um do Estado. Tem muito a fazer ainda e o governador de São Paulo tem de ser capitão para combater essa questão."
Mercadante acusou Serra de não tratar com profundidade do tema da segurança pública durante sua campanha e de não ter se manifestado durante os ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). Serra contra-atacou. Disse que o petista, como senador, nada fizera para trazer para São Paulo os recursos do Fundo Penitenciário.
Também participaram do debate em São Paulo os candidatos Plínio de Arruda Sampaio (Psol), Orestes Quércia (PMDB) e Carlos Apolinário (PDT).
Rio de Janeiro
Os candidatos subiram o tom dos ataques no debate realizado no Rio de Janeiro, onde Denise Frossard (PPS) e Marcelo Crivella (PRB) disputam voto a voto a condição de ir para o segundo turno contra o peemedebista Sérgio Cabral, apontado como favorito nas pesquisas.
A juíza mirou o peemedebista ao afirmar que "o estado foi sucateado e se tornou inoperante" nos governos de Anthony e Rosinha Garotinho. O senador retrucou, afirmando que Denise se aposentou com apenas 14 anos como juíza, enquanto o servidor precisa de 35 anos para se aposentar. A deputada respondeu que antes fora advogada e promotora e contou os 30 anos de serviço.
Perguntado por Crivella sobre sua posição em relação aos deficientes, Eduardo Paes (PSDB) acusou a juíza de ser preconceituosa, ao lembrar de um parecer polêmico da ex-juíza sobre o assunto.
"Não fiz nenhum comentário ou parecer escrito como o da deputada com expressões que de certa forma causam pavor como o a ‘deformidade física fere o senso estético’ do ser humano", lembrou o tucano citando o parecer jurídico. Crivella fez coro: "Esse tema me preocupa. Ninguém tem culpa de ser deficiente".
"Eu dei parecer num processo jurídico. Por isso fui buscar pessoas com deficiência e dois deles estão aqui comigo. Pedi desculpas", respondeu Denise Frossard. A juíza aposentada também atacou Crivella e chamou a política de segurança de Rosinha Garotinho de "burra e assassina".
Vladimir Palmeira (PT) arrancou risos da platéia ao chamar Paes de bacharel. O vice-líder do PSDB na Câmara diz ser advogado, mas não tem registro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O petista encerrou sua participação no debate dizendo que a população tem três opções: a continuidade do atual governo, com Sérgio Cabral; a direita, que segundo ele é representada por Denise; e ele, que se apresenta como representante e parceiro do governo federal.
Distrito Federal
O debate entre os candidatos ao governo do Distrito Federal começou com o candidato Toninho (Psol) questionando o deputado pefelista José Roberto Arruda a respeito da saúde. A grilagem de terras, no tocante à questão dos condomínios, e a corrupção, também foram discutidas na primeira parte do programa. A candidata petista Arlete Sampaio questionou a atual governadora do Distrito Federal, Maria Abadia (PSDB), a respeito das medidas preventivas em relação à corrupção.
Abadia respondeu que em seu governo existe apuração dos casos e afastamento de envolvidos em esquemas de corrupção. Em relação ao tema "emprego e educação". O candidato do Psol afirmou que a situação do emprego e da educação no Distrito Federal era precária.
No segundo bloco, o deputado José Roberto Arruda questionou a governadora Abadia em relação às verbas destinadas à educação para o próximo ano. De acordo com Arruda, as verbas destinadas para a educação que constam no orçamento para o ano de 2007 não atingem 25% do orçamento, como prevê a legislação. Abadia destacou que o orçamento foi realizado em conjunto com diversas e afirmou que a educação era um prioridade de seu governo.
O candidato Toninho perguntou se a petista Arlete não tinha vergonha de pertencer ao PT devido aos constantes casos de corrupção que assolam o país. Arlete afirmou que em nenhum outro governo o Ministério Público e a Polícia Federal tiveram tanta independência quanto no atual. Em relação aos dirigentes petistas envolvidos em atos condenáveis, a petista afirmou que eles serão julgados pelo conselho de ética do partido.
Toninho afirmou que se eleito governador do Distrito Federal, concluirá as obras do metrô. O candidato do Psol afirmou que a atual governadora é incapaz de combater a grilagem de terras no Distrito Federal e que possui grileiros apoiando o seu governo. A candidata repeliu a afirmação de Toninho. "Eu não permito grilagem", afirmou Abadia.
O pefelista Arruda também questionou a petista Arlete sobre a geração de emprego no Distrito Federal. "Temos que criar oportunidade de trabalho próximas das residências das pessoas", afirmou a petista, ressaltando que o turismo e a informática são opções para o desemprego no Distrito Federal. "Nós somos muito burocratizados, as nossas taxas são muito altas", disse Arruda. "É preciso desburocratizar a instalação de empresas em Brasília", rabateu a petista. Arlete questionou o candidato do Psol sobre a crise na área de saúde no Distrito Federal. Toninho afirmou que, de fato, a saúde no DF vive a sua "pior crise".
A governadora tucana Maria Abadia, quando questionada por Toninho sobre o dossiê que indicaria a ligação de candidatos tucanos com a máfia dos sanguessugas, afirmou que confia no candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra. Toninho afirmou que o Congreso Nacional está cheio de "bandidos". O candidato do Psol declarou que existem "pedófilos e grileiros" na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Abadia afirmou ter orgulho de ser uma política e ressaltou que uma reforma política é necessária. "Eu concordo que o Brasil está indignado", afirmou a governadora.
Bahia
A troca de acusações entre o governador Paulo Souto (PFL) e o ex-ministro Jaques Wagner (PT) marcou o debate promovido pela TV Bahia, afiliada da Globo em Salvador. Também participaram do programa, mediado pelo jornalista William Waak, os candidatos Hilton Coelho(Psol), Teresa Serra (Prona) e Átila Brandão (PSC), que correm por fora na disputa.
Wagner criticou os indicadores sociais da Bahia questionando a política de investimentos do atual governo. O ex-ministro do Trabalho perguntou ao atual governador por que ele não se empenhou para trazer a empresa de alimentos Bungue, que investiria R$ 40 milhões no terminal exportador e importador no porto de Salvador.
Souto retrucou, ao dizer que o petista não seria a pessoa mais indicada para falar sobre emprego, porque, quando esteve no Ministério do Trabalho, houve o maior índice de desemprego dos últimos 50 anos. O governador disse que a empresa não foi para a Bahia porque a decisão caberia ao governo federal, e não ao estadual. Na réplica, o pefelista classificou como “desleal” a declaração de seu adversário.
O governador disse ainda que a Bahia cresceu mais que o Brasil e que os números divulgados por Wagner, inclusive nos programas eleitorais, não representam a realidade do estado. Souto também questionou Jaques Wagner sobre os investimentos do governo federal na Bahia, citando os casos da duplicação da BR-101 e da ferrovia transnordestina. "Essa pergunta é fruto de falta de conhecimento do governador Paulo Souto. A BR-101 vai ser duplicada integralmente. A discriminação não é prática do governo Lula, é prática de outros grupos políticos", disse Wagner. O petista disse, ainda, que Paulo Souto nunca pediu uma audiência com o presidente para tratar dos interesses do estado.
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