Principal organizadora da greve que há cinco dias balança o país, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) divulgou nota oficial há pouco por meio da qual critica o presidente Michel Temer (MDB) e, “preocupada com a segurança dos caminhoneiros”, pede que lideranças da categoria iniciem um movimento de desobstrução de rodovias. Um das duas entidades autônomas que não aceitaram o acordo apresentado ontem (quinta, 24) pelo governo, que teve adesão de sete patronais e apenas uma da classe trabalhadora, a Abcam orientou os filiados a manter a mobilização, mas de maneira pacífica e sem impedir o fluxo em estradas Brasil afora.
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A entidade lamentou que Temer, que só cinco dias depois do início da greve resolveu tomar decisão, tenha determinado o uso das Forças Armadas para pôr fim às interdições. “A culpa do caos que o país se encontra hoje é reflexo de uma manifestação tardia do presidente Michel Temer, que esperou cinco dias de paralisações intensas da categoria. Estamos desde outubro do ano passado na expectativa de sermos ouvidos pelo governo. Emitimos novo alerta no dia 14 de maio, uma semana antes de iniciarmos os protestos”, diz trecho da nota assinada por José da Fonseca Lopes, presidente da Abcam.
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Além da entidade, a União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam) também recusou a proposta do governo. Os dirigentes da entidade deixaram a reunião que se desenrolou por cerca de sete horas na Casa Civil da Presidência da República, quando o grupo comandado por entidades patronais chegaram até a se declarar contra a greve. Contrariado pela falta de acordo, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, criticou o presidente da Unicam, José Araújo Silva, e fez referência há pouco, em entrevista coletiva, à “minoria barulhenta” que continua mobilizada.
As negociações do governo, que chegaram a incluir membros da base aliada no Congresso, receberam críticas ferrenhas de caminhoneiros e parlamentares. Projetos de redução da tributação no setor, isenções imediatas concedidas pela Petrobras, desoneração da folha de pagamento das transportadoras e outras providências, a maioria disposta na tentativa de acordo da Casa Civil, só atenderam aos interesses da classe empresarial e nem de longe conseguiram a simpatia dos autônomos.
Presidente da Petrobras, Pedro Parente parecia dar as cartas das medidas para serenar os ânimos dos caminhoneiros, e chegou a anunciar a redução de 10% no diesel e congelamento do preço por 15 dias, algo que resultaria em redução mínima desse combustível nas bombas. Enquanto isso, Temer participava de eventos de entrega de carros e solenidade para dar posse a novo comando da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemge), ontem (quinta, 24), ao passo em que a crise se agravava.
Mais cedo, Temer resolveu tomar a medida extrema de acionar as Forças Armadas para atuar no desbloqueio das rodovias, sem prévia reunião com o comando militar. Paralelamente, Advocacia-Geral da União (AGU) acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para que a ilegalidade da greve fosse declarada e a Polícia Federal anunciou esforços para flagrar prática de crimes contra a organização do trabalho, a segurança dos meios de transporte e outros serviços públicos.
Leia a íntegra da nota:
Comunicado Oficial
Brasília, 25 de maio de 2018
Após o pronunciamento do presidente da República, Michel Temer, no início da tarde desta sexta-feira, 25, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros – Abcam, preocupada com a segurança dos caminhoneiros envolvidos, vem publicamente pedir que retirem as interdições nas rodovias, mas, mantendo as manifestações de forma pacífica, sem obstrução das vias.
Já mostramos a nossa força ao Governo, que nos intitularam como minoria. Conseguimos parar 25 estados brasileiros com mais de 504 interdições.
Vale lembrar que a Abcam continua sem assinar qualquer acordo com o Governo e mantém o pedido de retirada do PIS/Cofins sobre o óleo diesel.
A culpa do caos que o país se encontra hoje é reflexo de uma manifestação tardia do presidente Michel Temer, que esperou cinco dias de paralisações intensas da categoria. Estamos desde outubro do ano passado na expectativa de sermos ouvidos pelo Governo. Emitimos novo alerta no dia 14 de maio, uma semana antes de iniciarmos os protestos.
É lamentável saber que mesmo após tanto atraso, o presidente da República preferiu ameaçar os caminhoneiros por meio do uso das forças de segurança ao invés de atender às necessidades da categoria.
Sendo assim, nos resta pedir a todos os companheiros que desobstruam as rodovias e respeitem o decreto presidencial.
JOSÉ DA FONSECA LOPES
Presidente da ABCAM
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