Edson Sardinha
Um terremoto de proporções ainda desconhecidas sacudiu a capital do país em novembro, deixando dezenas de autoridades locais feridas. Um dos sobreviventes, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, perdeu o partido, respira com a ajuda de aliados e tem a movimentação comprometida: não poderá ser candidato à reeleição em 2010. Há suspeita de que existam outros atingidos sob os escombros.
Quando o brasileiro esperava ter visto de tudo em matéria de escândalo político, eis que um pastelão panetônico rouba a cena com imagens explícitas de um esquema de fraude em licitações e pagamento de propinas a autoridades, revelado pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal.
Refestelado em um sofá, o governador era flagrado em vídeo recebendo volumoso pacote de dinheiro do secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, integrante do grupo e autor da gravação e das denúncias. Dinheiro contado, diria Arruda ao se defender posteriormente, para comprar panetone para famílias carentes. Explodia em Brasília o “panetonegate”, uma tragicômica alusão ao caso Watergate, que derrubou nos anos 1970 o presidente Richard Nixon nos Estados Unidos.
A Operação Caixa de Pandora, da PF, fez dos últimos quatro dias de novembro os mais intensos do mês. Considerado por especialistas um dos casos mais bem documentados de corrupção do país, o inquérito aponta o governador do DF como “chefe de organização criminosa ou quadrilha” acusada de praticar crime eleitoral, peculato, corrupção passiva e fraude a licitação.
O dinheiro arrecadado de empresas contratadas pelo governo era repassado a autoridades do Executivo e do Legislativo em troca de apoio político, segundo a denúncia, detalhada pelo Congresso em Foco.
Uma sucessão diária de vídeos deu cor, som e vida ao escândalo: deputados distritais e aliados embolsando dinheiro do mesmo Durval, guardando dinheiro no paletó, na bolsa, na meia e na cueca, e orando a Deus pelos sagrados recursos recebidos. E novas versões desencontradas tentavam negar as cenas captadas pelas lentes da máquina do secretário, que fizera um acordo com os procuradores para amenizar a pena por outros processos por corrupção a que respondia.
Exonerado e desqualificado pelo governador, Durval Barbosa era velho conhecido da Justiça e do leitor do Congresso em Foco. Ainda em setembro de 2008, este site advertia: “A ‘turma da informática’ do governo Arruda – Governador José Roberto Arruda (DEM) mantém pessoas, empresas e práticas que tumultuaram gestão de Roriz no Distrito Federal”.
Em novembro, Arruda ainda tentava se explicar ao seu partido, o DEM, que lhe cobrava explicações “convincentes” sobre o caso.
Veja as principais matérias do “panetonegate” em novembro:
Polícia Federal investiga governo Arruda
Os personagens envolvidos na Operação Caixa de Pandora
PF apreende R$ 700 mil com envolvidos
Caixa de Pandora: DEM mantém apoio a Arruda
Arruda afasta secretários e funcionários acusados
Durval: Arruda é chefe da organização criminosa
Esquema na Codeplan para eleger Arruda
Arruda comprou adesão dos partidos em 2006, diz Durval
Pacotes de dinheiro na casa do governador
Durval detalha “mensalinho” de Arruda em depoimento
Durval: propina era dividida em pelo menos seis partes
O grampo que compromete Arruda
Os crimes imputados à organização de Arruda
Confira a íntegra do inquérito que investiga Arruda
Durval: Roriz autorizou esquema
Veja os deputados que recebiam mensalão
“Campanha difamatória” motivou denúncias de Durval
Assista ao vídeo que mostra Arruda recebendo dinheiro
Operação Pandora foi antecipada porque vazou
Arruda e vice-governador do DF se dizem “vítimas”
Veja os vídeos da propina aos deputados
Veja os vídeos que atingem o governo de Arruda
Vice-governador do DF recebeu propina, diz dono da Linknet
Deputada flagrada recebendo dinheiro se diz “perplexa”
Arruda ignorou processos contra Durval
Oposição entrará com pedido de impeachment de Arruda
Três partidos anunciam saída da base aliada a Arruda
Distritais agradecem a Deus pela vida de Durval
Golpes
O escândalo envolvendo o governo do Distrito Federal será o assunto mais lembrado de novembro. Mas há outros que passaram pelas páginas virtuais do Congresso em Foco que não podem cair no esquecimento.
Um golpe contra o Estado e contra aqueles que deveriam ser atendidos por ele. Pelo menos R$ 1 milhão de prejuízo contra os cofres públicos e um valor sem preço pela dignidade de famílias carentes. Dois gabinetes de deputados estão envolvidos, pelo menos. A Polícia Legislativa da Câmara investiga a ação de um grupo que incluía falsos funcionários na folha de pagamento da Casa, a maioria pessoas humildes da periferia de Brasília, para ficar com os salários das vítimas. Em troca, as famílias recebiam uma peq