Fábio Góis
O senador Flávio Arns (sem partido-PR) fez nesta tarde em plenário um discurso (veja íntegra abaixo) de despedida do PT, legenda à qual estava filiado há mais de dez anos. A saída de Arns foi anunciada na última quinta-feira (20), depois da audiência em que o Conselho de Ética manteve o arquivamento de 11 pedidos de investigação contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Depois de Marina Silva, Flávio Arns diz que deixa o PT
“(…) venho comunicar meu desligamento das fileiras do Partido dos Trabalhadores, pedindo que seja este formalizado internamente, ao tempo em que enalteço o trabalho da militância responsável pela construção desse Partido, cujo respeito aos princípios que o fundamentaram poderia ter estabelecido uma nova maneira de se fazer política no país”, destaca a última frase do discurso de Arns, que alega compromisso com os eleitores de seu estado e “dever de lealdade com entidades sociais” para justificar a desfiliação.
O engavetamento de representações e denúncias contra Sarney foi assegurado com o voto dos três membros titulares do PT – Ideli Salvatti (SC), Delcídio Amaral (MS) e João Pedro (AM) –, em um conselho com 15 integrantes e apenas cinco oposicionistas. A postura dos petistas abriu uma crise no partido, com ônus para as pretensões dos senadores que, no próximo ano, disputam eleições majoritárias.
E foi exatamente o apoio dos petistas, com a pressão de uma carta enviada à bancada no Senado pelo presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, que levou Arns à indignação contra seus pares – que, em mais de uma ocasião e capitaneados pelo líder do partido, Aloizio Mercadante (SP), assinaram notas em que sugeriam o afastamento de Sarney do
comando da Casa.
“Como todos sabem, os 12 senadores do Partido dos Trabalhadores, nós elaboramos e assinamos uma nota em conjunto, já há cerca de dois meses, pedindo que houvesse o afastamento do Presidente desta Casa”, disse Arns, antes de iniciar o discurso. “Apesar de haver esta nota por escrito, os três votos do Partido dos Trabalhadores naquela reunião foram a favor do arquivamento do processo e não do esclarecimento.”
Para Arns, a ingerência velada do presidente Lula e, explicitamente, de Berzoini não constrangeu apenas a bancada do Senado. “Criou mal-estar entre Prefeitos do Partidos, Vereadores, Deputados, e principalmente na militância, na base do Partido”, reclamou o senador, informando que vai encaminhar amanhã (sexta, 28) o pedido de desfiliação à direção nacional do PT tanto ao Tribunal Regional Eleitoral do Paraná quanto ao diretório municipal do partido em Curitiba.
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Confira a íntegra do discurso de Flávio Arns:
“Por ocasião do meu ingresso no Partido dos Trabalhadores, no ano de 2001, dirigi-me à sociedade brasileira, por meio de carta, externando os motivos por tal decisão. Na ocasião, afirmei que os Partidos precisavam ser fortes, democráticos e respeitadores da doutrina e dos programas a eles inerentes, exigindo-se daqueles que foram eleitos para representar o povo posicionamentos firmes, convicção de que a dignidade da pessoa humana precisa ser priorizada e transparência na gestão da coisa pública.
Durante toda a minha trajetória política, mesmo antes do meu ingresso no Partido dos Trabalhadores, venho atuando em atenção aos movimentos sociais que visam ao bem comum, atento ao combate às desigualdades, injustiças, exclusão e quaisquer formas de discriminação.
Entretanto, considerando:
– a atitude do Partido dos Trabalhadores, que orientou Senadores a votarem pelo arquivamento de representações junto ao Conselho de Ética contra o Presidente daquela Casa, em flagrante distanciamento e violação aos princípios e diretrizes que sempre nortearam o ideal do Partido;
– que a referida orientação ignorou o documento assinado por todos os Senadores da Bancada do Partido dos Trabalhadores, em que requeriam a apuração e investigação das denúncias encaminhadas ao Conselho de Ética;
– a discriminação relativa à minha pessoa e ao meu mandato popular, manifestada por membros do Partido e até mesmo pelo Senhor Presidente da República;
– o meu dever de lealdade para com as entidades sociais, segmento que me colocou na vida pública e que, reconhecidamente, presta inestimável serviço a toda a comunidade paranaense e brasileira;
– o meu compromisso com o povo paranaense, que me outorgou o mandato de Senador da República, compromisso ess e em consonância com as bandeiras originais do Partido, as quais propugnam a defesa intransigente do comportamento ético no trato da coisa pública como condição básica para o exercício do mandato;
– por fim, o princípio da indissociabilidade do meu mandato com os anseios de toda a sociedade brasileira;
venho comunicar meu desligamento das fileiras do Partido dos Trabalhadores, pedindo que seja este formalizado internamente, ao tempo em que enalteço o trabalho da militância responsável pela construção desse Partido, cujo respeito aos princípios que o fundamentaram poderia ter estabelecido uma nova maneira de se fazer política no País.
Flávio Arns”