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E na Argentina vive há 18 anos. No entanto, hoje se considera “brazuca” e prefere ser chamado simplesmente de “correspondente brasileiro na Argentina”. A partir de segunda-feira (11), Palacios lança seu livro Os Argentinos (Contexto) em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, obra em que tenta entender a complicada cultura dos hermanos, sua política, economia, futebol, gastronomia e artes.
É com essa bagagem que Palacios vê com ceticismo os próximos capítulos do país governado pela peronista Cristina Kirchner. “O Brasil sempre foi pra frente, um passo gradual, na base do consenso. Na Argentina, é sempre a política do antagonismo. Você dá dois passos pra frente e volta três”, afirmou o jornalista em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.
O futuro, a médio prazo, é de idas-e-vindas, na opinião dele, apesar da boa base educacional dos argentinos. “Não é um país que tem um futuro bastante garantido como o Brasil. Há um grau alto de incertezas por causa da classe política de todos os partidos, que não apostam sério no país e isso fica claro pelos próprios investimentos pessoais desses políticos.”
Para Palacios, hoje, a Argentina é um país “atravancado”, após mais de 40 anos de instabilidade política e uma economia “esquizofrênica”. Desde os anos 1990, Nestor Kirchner – o falecido marido de Cristina – e Carlos Menem foram os últimos presidentes eleitos que conseguiram terminar seus mandatos. A violenta ditadura militar argentina matou “somente” 8 mil civis nos anos de chumbo, segundo um general declarou na TV.
Futebol, comida e gírias
Na conversa com o site, Palacios afirma que o objetivo de seu livro é desmontar clichês falsos sobre a Argentina. Ao contrário do que se pensa, os argentinos amam o Brasil e não nos odeiam no futebol. Mais de um milhão de turistas argentinos visitam nosso país por ano, adoram a comida e a música daqui, de Michel Teló a João Gilberto. Até nossas gírias são usadas em português nas ruas de Buenos Aires, embora com uma pitada de sotaque ou novas interpretações.
E haja, coração! A possível frustração para Galvão Bueno e muitos torcedores brasileiros é que os grandes rivais do futebol argentino não somos nós, mas a Inglaterra, disputa derivada da Guerra das Malvinas. Em 2002, quando o Brasil bateu os ingleses por 2 a 1 na corrida para o penta, os argentinos torciam pela seleção comandada por Felipão: era tudo contra a Inglaterra.
A música argentina não é só tango, que é ouvido por um quarto da população, mas também rock e canções folclóricas, como as da falecida Mercedes Sosa. E a literatura não se resume aos mitos Jorge Luís Borges e Julio Cortázar, de O jogo da amarelinha. O jornalista diz que jovens talentos já escrevem contos geniais no país. O cardápio da Argentina é muito bom, mas limitado a carnes e massas, visto que mais da metade do povo é descendente de italianos.
Brigas familiares
Serviço |
“Os Argentinos”, de Ariel Palacios (Contexto, 368 páginas). R$ 49,90 Lançamento em São Paulo (Livraria Cultura da Avenida Paulista, dia 11, às 18h30), Brasília (Shopping Iguatemi, dia 14, às 20h) e Rio de Janeiro (Travessa de Ipanema, dia 21, às 19h). |
Para Palacios, os hermanos são bem mais politizados que os brasileiros. Por outro lado, ele critica a forma de disputa política entre amigos e parentes e, por extensão, entre os políticos. Não existe diálogo e sobram brigas. Quando Palacios e sua família querem chamar amigos para jantarem, têm de colocar na mesma reunião ou só apoiadores do governo, ou só opositores do governo. Senão, é briga certa. “Agora a coisa piorou tanto que temos que fazer três reuniões, porque os neutros começaram a ser criticados pelos outros dois grupos”, revela o correspondente.
Mestre em Jornalismo pela Universidade Autônoma de Madri, Ariel Palacios é correspondente em Buenos Aires do jornal O Estado de S.Paulo e do canal de tevê por assinatura Globonews. O jornalista cobre o que se passa também no Uruguai, Paraguai, Chile e Venezuela.
Chavismo e peronismo
Para ele, o chavismo deve sobreviver mesmo depois da morte de Hugo Chávez. Mas, a exemplo do que aconteceu com o peronismo após a morte de Juán Perón, os seguidores de Chávez podem criar uma corrente multifacetada, atribuindo políticas ao líder morto que talvez ele nunca tenha defendido claramente, tal como acontece na Argentina com os herdeiros políticos de seu mais famoso ex-presidente.