Condenado a 37 anos de prisão por comandar o crime organizado em Mato Grosso, o ex-policial civil João Arcanjo Ribeiro disse que o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) foi à sua fazenda em Cuiabá, em 2002, pedir dinheiro para a campanha eleitoral. Em entrevista ao repórter Hudson Corrêa, da Folha de S. Paulo, o “Comendador”, como é mais conhecido, afirmou que não sabe se o dinheiro foi repassado ao tucano ou não, já que teria encaminhado o pedido ao seu ex-gerente de factoring Nilson Roberto Teixeira.
Em depoimento à Justiça em 2002, Luiz Alberto Dondo Gonçalves, ex-contador de Arcanjo, disse que a empresa Confiança Factoring liberou R$ 5,7 milhões para bancar a campanha de Antero por meio do Grupo Gazeta. A operação teria sido um caixa dois. O ex-presidente da CPI do Banestado nega ter mantido qualquer relação com o bicheiro.
Inquérito da Polícia Federal apura o suposto caixa do PSDB em Mato Grosso nas eleições de 1998 e 2002. Nesse último ano, Antero disputou e perdeu o governo do estado: “Ele me cumprimentou. E falou: ‘Olha, a minha visita aqui é oficial. Eu vou enfrentar uma campanha e vou precisar de recurso’. De antemão disse: ‘Antes até do que você vai falar, procure o Nilson. Empréstimos nós fazemos'”, disse Arcanjo.
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O Comendador prosseguiu: “Ele falou inclusive: ‘Empréstimo não pode’. (Eu disse) Isso a gente dá um jeito. Teriam que ser operações (comerciais de fomento). Nós tínhamos feito muitos empréstimos na Confiança. Queríamos parar”. As factorings só podem comprar cheques de empresas. Não têm permissão para fazer empréstimos.
Preso em abril de 2003 no Uruguai, Arcanjo foi extraditado em março passado. Ele é acusado de controlar a exploração de cassinos, caça-níqueis, jogo do bicho, uma rede de pistolagem e de ser o mandante do assassinato do dono do jornal Folha do Estado, Domingos Sávio Brandão, morto em setembro de 2002. O Comendador será ouvido nos próximos dias pela CPI dos Bingos, que deve enviar uma comitiva a Cuiabá.
De acordo com a Folha, Arcanjo afirmou ainda que está disposto a fazer uma acareação com o senador, caso o tucano negue o encontro. “Tinham pessoas que estavam lá comigo e viram. Ele estava acompanhado de uma pessoa. Estou tentando lembrar quem era”, disse.
“Ele (Antero) me procurou na fazenda. Era antes da campanha. Queria tomar dinheiro (emprestado). Eu falei que tomar empréstimo tinha que ser com o Nilson. Agora supostamente ele deve ter procurado o Nilson. Ele não falou em valores”, relatou. “Ele estava de chapéu, que deixou no carro”, acrescentou.
Anteontem, Arcanjo já havia confirmado à Polícia Federal as declarações prestadas em abril por Nilson Roberto Teixeira, ex-gerente da Confiança Factoring, empresa de sua propriedade. Os dois acusaram o ex-governador do Mato Grosso Dante de Oliveira (PSDB) de pegar dinheiro com a empresa e pagar a dívida, referente às eleições de 1998 e 2002, com cheques do Dvop (antigo órgão de obras públicas do governo tucano de 1995 a 2002). De acordo com a Justiça Federal em Mato Grosso, a Confiança Factoring recebeu do Dvop R$ 8,3 milhões de janeiro de 1998 a fevereiro de 2003.