Depois de um dia de intensa movimentação no Senado, a quatro dias para a eleição para a presidência da Casa, o tucanato mantém o mistério. Com a segunda maior bancada na Casa, ao lado do DEM (13 senadores), o PSDB ainda não decidiu como vai votar na próxima segunda-feira (2), na sessão marcada para as 10h.
Se por um lado é sintomática a visita do líder tucano Arthur Virgílio (AM) a um dos candidatos ao pleito, José Sarney (PMDB-AP), levando a lista de reivindicações do partido (em encontro na casa da líder do governo no Congresso, Roseana Sarney, PMDB-MA), dá novo tom à disputa o fato de o próprio Virgílio admitir ter visto com bons olhos a “carta-compromisso” de Tião Viana (PT-AC), adversário de Sarney, em sinalização “ao PSDB, extensiva aos partidos e ao país”.
“Fiquei muito honrado em receber a carta do senador Tião Viana, nos termos em que ele expôs sua opinião”, disse Virgílio, que, ao lado do presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, tentava explicar o porquê da indefinição, em rápida conversa no gabinete do colega de legenda, na noite desta quarta-feira (28). “O senador Tião deu um passo à frente. Eu me senti muito bem em lê-la.”
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Sempre amparado por Sérgio Guerra em suas colocações, Virgílio diz não ver problema no fato de o partido ainda ter não definido a escolha de um candidato, e que a carta de Tião – bem como a conversa com Sarney, mais cedo – será levada à bancada. “O partido deve maturar”, arrematou o senador, admitindo que o PSDB pode chegar a um consenso já neste domingo (1º), por meio de um “debate exaustivo”, mas sem descartar que a indefinição adentre a segunda-feira, dia da decisão. “Possibilidade [de definição no domingo] existe. Necessidade, não.”
“A bancada não vai vacilar”, avalizou Sérgio Guerra, lembrando que, à época da votação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, cuja prorrogação de cobrança foi derrubada no Senado), o partido fez, “por um, dois, três, quatro meses” a mesma “reflexão” sobre o rumo a ser tomado. “Não estamos inventando nada. Não pode deixar de existir no Senado uma reflexão sobre a política.”
Segundo Guerra, no PSDB não há veto ao nome de Tião pelo fato de ele ser petista. “Não tem essa atitude”, disse, emendado por Virgílio. “Somos oposição, mas não sofremos de ‘petefobia’ [sic]. Somos muito diferentes.”
Precipitação
Segundo vice-presidente do Senado, o tucano Alvaro Dias (PR) protagonizou uma situação controversa na tarde desta quarta-feira. Preterido para a vice-presidência em favor de Marconi Perillo (GO), Alvaro decidiu antecipar em seu blog que será o líder do PSDB no Senado em 2010, e aproveitou para anunciar o que ainda não havia sido definido pelo tucanato: o apoio a Sarney.
“A decisão respeita a tradição da Casa que privilegia a maior bancada”, disse o tucano, para momentos depois retirar de sua página na internet o texto de apoio à candidatura de Sarney. Ao Congresso em Foco, o senador disse ter imaginado que o consenso em torno do peemedebista já havia sido alcançado na reunião da bancada, e que não esperava o "refluxo" negativo do anúncio precipitado (leia-se não autorizado). (leia)
Sérgio Guerra não quis alimentar a polêmica. "Ele retirou isso [o texto veiculado no blog de Alvaro], não retirou? Então pronto, tá resolvido." Virgílio também contemporizou ao afirmar que, se Alvaro Dias declara apoio a Sarney, Tasso Jereissati (PSDB-CE) demonstra preferência por Tião. Mas tanto Virgílio quanto Guerra garantem que, uma vez firmada a posição do partido, senadores tucanos votarão "unidos".
Comando
Tanto Virgílio quanto Sérgio Guerra minimizam a especulação sobre as composições da Mesa Diretora e das comissões temáticas – em que os cargos de comando são usados, tanto por candidatos como por “eleitorado”, como moeda de troca na hora de definição de apoio. Ambos negaram que o novo quadro do Senado, e a conseqüente disputa por presidências de colegiado e cadeiras na Mesa, não influenciarão na escolha do PSDB.
Para Virgílio, o que importa é que as reivindicações e compromissos do partido “estão sendo levados a sério”. “O resto é bobagem”, emendou Guerra.
Duas comissões são as vedetes em tempos de sucessão no Senado: a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Enquanto o DEM quer manter a presidência da CCJ – o senador democrata Marco Maciel (PE) é o atual titular –, com a indicação de Demóstenes Torres (DEM-GO), é bem possível que a CAE seja entre ao tucano Tasso Jereissati.
A cúpula tucana vê como natural que o partido, uma das maiores bancadas no Senado, mantenha representação política no comando de comissões e em cargos na Mesa Diretora. E não crê que Jereissati, economista por formação, deixe de receber a presidência da CAE. Também é tida como certa pelos caciques tucanos, sob a alegação de “proporcionalidade partidária”, a indicação de Eduardo Azeredo (PSDB-MG) para presidir a Comissão de Relações Exteriores. (Fábio Góis)
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