Fábio Góis
Um dos fundadores do PMDB, o senador Jarbas Vasconcelos (PE) subiu hoje (segunda, 6) à tribuna do plenário para, em discurso de cerca de dez minutos, fazer críticas ao tratamento dado pelo presidente Lula ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), frente à crise institucional que tem o peemedebista como um dos protagonistas.
Iniciando sua fala com “a cantilena adotada” por Lula (“A crise do Senado é gravíssima, seu desfecho é imprevisível, tudo pode acontecer”), o senador pernambucano disse que o presidente da República desrespeita as leis e a própria Constituição quando, em nome da governabilidade e visando eleger seu sucessor em 2010, manifesta apoio à permanência de Sarney no comando do Senado.
“[Lula] interveio para impor a permanência do Presidente Sarney. Constrangendo e ameaçando seus próprios partidários, decidiu que, contra todos os fatos, irá impor sua vontade imperial, sustentando um presidente do Senado que não tem apoio interno para permanecer no cargo, um presidente que se transformou em uma rara unanimidade negativa frente à opinião pública. Ainda assim, como intuiu que o afastamento pode frustrar seu projeto [de eleger a ministra da Casa Civil Dilma Rousseff ], vai impor ao Senado e ao Brasil a permanência de Sarney”, discursou Jarbas, um dos “dissidentes” peemedebistas.
Confira a íntegra do discurso de Jarbas Vasconcelos
Jarbas fez menção à reunião entre Lula e petistas realizada na quinta-feira (2) no Palácio do Planalto, quando o presidente ouviu de pelo menos cinco dos 12 senadores do partido as razões pelo afastamento de Sarney da presidência do Senado. Na ocasião, como adiantou o Congresso em Foco, Lula fez uma longa exposição de argumentos a favor da permanência do peemedebista no posto.
Leia: Lula volta a defender Sarney em reunião com petistas
Para o senador peemedebista, Lula compromete os próprios correligionários e a dignidade do Congresso para se perpetuar no poder e, “numa análise megalomaníaca”, resolveu entrar em campo para manter a influência da base aliada no Senado. “Uma ingerência sem limites, vista anteriormente apenas durante a ditadura militar”, arrematou Jarbas, na primeira vez em que pede publicamente o afastamento de Sarney.
“A atual crise impõe uma tomada de posição, e a minha é estar ao lado daqueles que defendem o afastamento imediato do Presidente desta Casa, para que possamos voltar a desempenhar o papel institucional para o qual fomos eleitos”, arrematou Jarbas.
Reclusão
José Sarney chegou ao Senado hoje por volta das 9h e permaneceu toda a manhã despachando no gabinete, segundo sua assessoria de imprensa. Ritual mantido durante a tarde, quando Sarney não deixou a presidência para presidir a sessão não deliberativa desta tarde. O senador deixou a Casa por volta das 19h.
Está prevista para amanhã (terça, 6), ao meio-dia, uma reunião da bancada do PT para discutir um eventual apoio à permanência de Sarney, como quer o presidente Lula. O posicionamento dos petistas tem oscilado devido a divergências internas (leia aqui, aqui e aqui): a postura do presidente é questionada, ao menos, por Marina Silva (PT-AC), Eduardo Suplicy (SP), Paulo Paim (RS), Flávio Arns (PR) e Tião Viana (AC), candidato derrotado por Sarney na eleição para o comando do Senado, em fevereiro.
Leia mais:
Oposição pressiona Sarney a deixar a presidência
Seguranças de Sarney agridem repórter do CQC
PT e PSDB propõem comissão para esvaziar Sarney
Roseana: Sarney virou ”bode expiatório” da crise
“Crise do Senado não é minha”, diz Sarney
Deixe um comentário