No mesmo horário em que está prevista a votação do parecer da comissão especial do impeachment, em Brasília, o ex-presidente Lula e um grupo de artistas e intelectuais comandam, nesta segunda-feira, protestos contra o afastamento da presidente Dilma Rousseff, no Rio. O ato está previsto para começar às 17h, nos Arcos da Lapa, e foi convocado por personalidades como o cantor e compositor Chico Buarque, o teólogo Leonardo Boff, o escritor Fernando Morais e o ator Wagner Moura.
Ao menos outros cinco atos em defesa de Dilma estão previstos para esta segunda. Um deles está marcado para as 18h na Praça dos Três Poderes em Brasília. Também há manifestações contrárias ao impeachment em Teresina, Ribeirão Preto e duas na capital paulista.
O ato no Rio será dividido em dois. Na primeira parte será lido um manifesto de artistas e intelectuais na Fundição Progresso. Além de Chico Buarque, confirmaram presença as atrizes Letícia Sabatella, Bete Mendes e Silvia Buarque, o cartunista e escritor Ziraldo e o ator Gregorio Duvivier, entre outros. Às 18h, será realizado um comício comandando pelo ex-presidente Lula.
“O que vivemos hoje no Brasil é uma clara ameaça ao que foi conquistado a duras penas: a democracia. Uma democracia ainda incompleta, é verdade, mas que soube, nos últimos anos, avançar de maneira decidida na luta contra as desigualdades e injustiças, na conquista de mais espaço de liberdade, na eterna tentativa de transformar este nosso país na casa de todos e não na dos poucos privilegiados de sempre”, diz o texto de convocação para o ato no Rio.
Leia também
O manifesto é assinado por Fernando Morais, Leonardo Boff, Chico Buarque, Wagner Moura e Eric Nepomuceno. Segundo eles, a democracia está em risco e que o uso irresponsável do impeachment é sim um golpe.
Leia a íntegra do manifesto:
Publicidade“COM ESTE MANIFESTO ESTAMOS CONVOCANDO A TODOS PARA UM ATO UNITÁRIO EM DEFESA DA DEMOCRACIA. SERÁ NA PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA, DIA 11 DE ABRIL, ÀS CINCO DA TARDE, NA FUNDIÇÃO PROGRESSO, NA LAPA, RIO DE JANEIRO.
O que vivemos hoje no Brasil é uma clara ameaça ao que foi conquistado a duras penas: a democracia. Uma democracia ainda incompleta, é verdade, mas que soube, nos últimos anos, avançar de maneira decidida na luta contra as desigualdades e injustiças, na conquista de mais espaço de liberdade, na eterna tentativa de transformar este nosso país na casa de todos e não na dos poucos privilegiados de sempre.
Nós, trabalhadores das artes e da cultura em seus mais diversos segmentos de expressão, estamos unidos na defesa dessa democracia.
Da mesma forma que as artes e a cultura do nosso país se expressam em sua plena – e rica, e enriquecedora – diversidade, nós também integramos as mais diversas opções ideológicas, políticas, eleitorais.
Mas nos une, acima de tudo, a defesa do bem maior: a democracia. O respeito à vontade da maioria. O respeito à diversidade de opiniões.
Entendemos claramente que o recurso que permite a instauração do impedimento presidencial – isso que em português castiço é chamado de ‘impeachment’ – integra a Constituição Cidadã de 1988.
E é precisamente por isso, pelo respeito à Constituição, escudo maior da democracia, que seu uso indevido e irresponsável se constitui em um golpe branco, um golpe institucional, mas sempre um golpe. Quando não há base alguma para a sua aplicação, o que existe é um golpe de Estado.
Muitos de nós vivemos, aqui e em outros países, o fim da democracia.
Todos nós, de todas as gerações, vivemos a reconquista dessa democracia.
Defendemos e defenderemos, sempre, o direito à crítica, por mais contundente que seja, ao governo – a este e a qualquer outro.
Mas, acima de tudo, defendemos e defenderemos a democracia reconquistada. Uma democracia, vale reiterar, que precisa avançar, e muito. Que não seja apenas o direito de votar, mas de participar, abranger, enfim, uma democracia completa, sem fim. Em que cada um possa reivindicar o direito à terra, ao meio-ambiente, à vida. À dignidade.
Ela custou muita luta, sacrifício e vidas. Custou esperanças e desesperanças.
Que isso que tentam agora os ressentidos da derrota e os aventureiros do desastre não custe o futuro dos nossos filhos e netos.
Estamos reunidos para defender o presente. Para espantar o passado. Para merecer o futuro. Para construir esse futuro. Para merecer o tempo que nos foi dado para viver.
Leonardo Boff
Chico Buarque de Hollanda
Wagner Moura
Fernando Morais
Eric Nepomuceno”