Eduardo Militão e Edson Sardinha
Entre aliados e até opositores, a expectativa é de que Renan Calheiros (PMDB-AL) seja absolvido por seus pares no plenário do Senado, na quarta-feira (12). Relatório aprovado pelo Conselho de Ética o acusa de quebrar o decoro parlamentar por oito razões. Mas mesmo os mais fiéis defensores do presidente da Casa admitem que o voto secreto, tão defendido por eles no Conselho, pode agora prejudicá-lo.
“A previsão é que Renan ganhe no plenário”, diz o líder do PMDB, Valdir Raupp (RO). “Mas é imprevisível, porque o voto secreto tanto pode ser bom por um lado como pode não ser por outro”, pondera. Raupp reconhece que o sigilo da votação pode levar senadores da base governista a se renderem à pressão da opinião pública e a cometerem “traições”, ou seja, a votarem pela cassação do colega peemedebista. A mesma avaliação é feita por algumas lideranças da oposição.
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Dois senadores que se transformaram em implacáveis críticos de Renan desde o início da atual crise lembram que, no PT, cresce a cada dia o número de parlamentares favoráveis à cassação do presidente da Casa. “Antes, contávamos com dois petistas; agora, com pelo menos cinco”, comenta um integrante do Conselho de Ética também confiante nas traições por parte dos aliados do acusado.
Ideli (E) liberou a divida bancada do PT para votar com sua consciência. Para Raup, a decisão não vai ser tomada por blocos (Fábio Pozzembom/ABr)
Petistas divididos
Reservadamente, senadores do PT admitem que a bancada, de 12 parlamentares, está dividida. A fome de Renan por cargos no governo, admitem, nunca foi bem digerida pelos petistas. Para piorar a situação, o alagoano também perdeu a simpatia de alguns expoentes da oposição, dos quais foi aliado no governo Fernando Henrique Cardoso.
Em plenário, por exemplo, bateu boca com o líder do DEM, José Agripino (RN). “Vossa Excelência não resistiria a duas semanas de investigação”, disse, em tom ameaçador. Adversário de Renan na disputa pela presidência da Casa, em fevereiro, Agripino desafiou o peemedebista a esclarecer a acusação.
O senador alagoano ainda perdeu o apoio do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM). Alegando respeitar o amplo direito de defesa no início do processo, o tucano protegeu o quanto pôde o presidente do Senado. Agora, não se cansa de apontar, nos corredores, os sucessivos erros cometidos pelo colega na condução da crise. Em plenário, Virgílio pede o seu afastamento da presidência e o responsabiliza pelo contínuo desgaste da instituição.
Aliança inusitada
Num cenário inusitado, a oposição conta agora com o PT para derrubar Renan. “Se a oposição, o PSDB, o DEM e os independentes firmarem posição, vamos depender de outros votos. O voto do PT, que já demonstrou no Conselho ser favorável à cassação, vai ser decisivo”, aposta o tucano Marconi Perillo (GO).
Mas os petistas não querem se comprometer a votar em bloco. A líder do partido, Ideli Salvatti (SC), reafirma que a decisão, tanto no Conselho quanto no plenário, não será orientada pelo PT, mas pela “consciência de cada parlamentar”. Eduardo Suplicy (SP), que votou contra Renan no Conselho, não aceita a idéia de que o partido será decisivo na cassação ou absolvição do presidente da Casa. “Cada um votará conforme sua consciência”, diz, na mesma linha de Ideli.
Ele não descarta, inclusive, mudar seu voto no plenário. Mas reconhece que essa chance é remota. “Vamos supor que ele dê explicações tão claras – o que eu acho difícil –, teremos que examinar qual o grau da sanção”, disse Suplicy.
Cobrança de fidelidade
Aliado do presidente do Senado, Gilvam Borges (PMDB-AP) destaca que o PT, um dos principais integrantes da coalizão do governo Lula, deve fidelidade aos peemedebistas. “Nós, do PMDB, temos força e damos sustentação política. Esperamos deles a mesma coisa. Iremos pedir que o PT se posicione a favor de Renan”, disse ele.
Gilvam nega que suas palavras signifiquem uma ameaça. “É um jogo de poder. Via de mão dupla. Quando os membros do PT estão em crise, nós apoiamos.” Outro peemedebista aposta na fidelidade petista até por questão de sobrevivência. A permanência do atual presidente seria de interesse do Palácio do Planalto.
Mas a tese é negada pelo líder do partido. Para Valdir Raupp, os parlamentares votarão baseados na amizade e na convicção sobre o caso. “Os senadores não vão votar em bloco”, afirmou ao Congresso em Foco.
A relação interna da base governista não pode influenciar o futuro de Renan, na opinião de um senador petista. Ele considera impensável que um senador se submeta a esse tipo de pressão. “Espero que não. Como você vai obrigar o senador a votar desse ou daquele jeito?”
Em entrevista coletiva, o presidente Lula também descartou ontem (6) pressões do PMDB para o governo mobilizar suas bancadas para salvar Renan da degola. “Eu não vejo possibilidade de o Renan ou o PMDB misturar as votações que estão no Congresso Nacional com as coisas que estão para ser votadas”, declarou.
As retaliações viriam contra a prorrogação da CPMF, que está em tramitação na Câmara e deve seguir, no próximo mês, para o Senado. A aprovação do tributo que rende quase R$ 40 bilhões aos cofres públicos está atrasada e pode influenciar a arrecadação em 2008.
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