Veja a íntegra da nota em que a Associação dos Magistrados Brasileiros rebate as críticas feitas pelo futuro presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, à atuação dos juízes em entrevista ao Congresso em Foco.
"AMB responde declarações da OAB
As recentes declarações do ilustre advogado dr. Cezar Britto, candidato a Presidente do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), no site “Congresso em Foco”, em matéria do dia 17/01/2007, intitulada ‘Justiça Burocrática’, merecem veemente repúdio da AMB.
Ele demonstrou, pela entrevista, desconhecer que a morosidade na Justiça é combatida por toda a população e, em especial, pela maioria dos operadores do Direito. Ao atribuir ao Judiciário a culpa pela demora processual porque o juiz aceita recursos ajuizados por advogados, sua atitude chega a ser inacreditável. Defender o não-seguimento dos recursos legalmente previstos é defender o autoritarismo judicial, é ferir o regime democrático.
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Não engrandece a Justiça essa visão, data vênia equivocada, do juiz ‘todo poderoso’, que indefere ao bel prazer recursos ajuizados pelo Poder Público. Numa democracia, cabe constitucionalmente ao Congresso Nacional mudar as leis processuais. De outro lado, se entende o futuro Presidente que aquele juiz que não conhece os bairros das cidades está impossibilitado de efetuar um julgamento justo, então a conclusão absurda a que chegaremos é de que sobretudo os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e os desembargadores estão impedidos de julgar, pois trabalham bem longe de onde reside a maioria das partes. Na verdade, os magistrados proferem decisões seguindo suas consciências, o direito e as normas legais após detalhado estudo do processo, provas,
contraditório, e não tendo de ser andarilhos.
Se também imagina S. Excia. que a magistratura desconhece a realidade brasileira, engana-se. Talvez, sim, o futuro Presidente esteja
dissociado da realidade do Brasil, pois todos nós magistrados, advogados e demais operadores do Direito crescemos em um mesmo país, estudamos nas mesmas faculdades de Direito, somos filhos de mesmas famílias – pobres ou não –, pagamos os mesmos impostos, vivemos nas mesmas cidades, ouvimos e sofremos os mesmos noticiários. Desse modo repudiamos e, lamentavelmente, até entendemos tais críticas momentâneas e afobadas, bem próprias de candidatos em campanha eleitoral.
Aliás, a AMB tem, nos últimos anos, dado exemplos de campanhas voltadas para modernizar a Justiça e interagir com a sociedade, tais como a Simplificação da Linguagem Jurídica, a Operação Eleições Limpas, a campanha Mude um Destino para adoção de crianças, seminários e projetos de lei. Todas iniciativas bem próximas do povo, embora S.Excia. desconheça.
Ao que nos parece, o entrevistado não sentiu ainda a real grandeza da OAB, dos advogados brasileiros, dos ministros do STF e de toda a magistratura. Além disso, esqueceu de registrar que, se o país convive com grandes injustiças sociais, como disse – e isso todos sabemos –, elas são reflexos e fruto das legislações, decisões e das políticas públicas implementadas pelo Poder Executivo durante anos. O Poder Judiciário não integra o Executivo, e nem este necessita consultar aquele para governar.
*Doorgal Gustavo Borges de Andrada
Presidente em exercício da Associação dos Magistrados Brasileiros"
Clique aqui para ler a entrevista de Cezar Britto ao Congresso em Foco.
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