Guillermo Rivera |
Em um depoimento marcado por evasivas e negativas, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares voltou a assumir a responsabilidade exclusiva pela constituição do chamado caixa dois do PT – chamado por ele, insistentemente, de “dinheiro não contabilizado” – e reafirmou que os recursos levantados pelo empresário Marcos Valério Fernandes não foram utilizados na campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Delúbio depõe desde as 9h30 na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Mensalão. Delúbio confirmou a informação do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, de que houve um acordo financeiro entre ambos os partidos para a coligação eleitoral na campanha de 2002. Ele reforçou a declaração de Valdemar de que houve uma reunião entre os dois partidos para definir qual o valor a ser pago ao PL para compensar as perdas causadas pela verticalização (pela legislação eleitoral, em todos os estados, o PL só poderia se coligar com o PT, algo que prejudicou severamente o partido). Pelo acordo, o PT iria repassar R$ 10 milhões, ou seja, 25% do valor total da arrecadação da campanha presidencial, ao Partido Liberal. Leia também Ao responder a perguntas de senadores do PT, o ex-tesoureiro reforçou a suspeita de que o ex-ministro da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP) tinha conhecimento dos empréstimos feitos por Valério ao partido. Perguntado se os membros da Executiva do PT sabiam da procedência dos recursos da campanha eleitoral de 2002, o ex-tesoureiro afirmou que as decisões eram tomadas por um comitê financeiro, do qual Dirceu também fazia parte. "A campanha nacional de 2002 não teve problema. Os problemas foram com o PT, nos estados, e com partidos da base", ressaltou o ex-tesoureiro, que fez questão de ressaltar que não houve utilização de dinheiro público no “caixa dois” do PT. O ex-tesoureiro garantiu ainda que o PTB foi contemplado pelo esquema de empréstimos montado para quitar dívidas do PT e de partidos aliados. Ele não confirmou, no entanto, a informação de que teria repassado R$ 4 milhões ao PTB. Delúbio foi questionado pelo relator da CPI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), sobre qual seria o valor exato da transação financeira. Mas se esquivou, dizendo que somente as investigações lhe permitirão conhecer esses números. Série de negativas Ele repetiu também que seria o único responsável pelas decisões envolvendo empréstimos feitos pelo PT. Delúbio não confirmou que Marcos Valério tenha viajado a Portugal como representante do governo brasileiro ou “emissário do PT”, versão sustentada tanto pelo deputado Roberto Jefferson (RJ) quanto pelo tesoureiro informal do PTB Emerson Palmieri. Abi-Ackel perguntou quais foram as garantias dadas a Marcos Valério para que ele concedesse R$ 50 milhões ao PT. Delúbio respondeu que o empresário queria ampliar a atuação de suas empresas na área de marketing político. Abi-Ackel não se satisfez com a resposta, observando que “ninguém empresta uma quantia tão alta em troco de nada, e sem nenhuma garantia”. O ex-tesoureiro limitou-se a responder que o PT irá pagar os R$ 50 milhões que deve a Marcos Valério, mas não explicou como. Admitiu, porém, que a atual Executiva do PT poderá negar o pagamento. Delúbio Soares negou também duas acusações que lhe foram feitas em depoimentos anteriores. Ele refutou ter a informação de que teria orientado o publicitário Duda Mendonça a abrir uma conta nas Bahamas para receber o montante referente a dívidas da campanha de 2002 – versão dada pelo publicitário em depoimento na semana passada. O ex-tesoureiro disse que esse foi um acerto entre Duda e Marcos Valério. “Só sabia que foi feito o pagamento, mas a forma do pagamento eu só fiquei sabendo no depoimento de Duda, aqui.” Delúbio também rebateu a declaração do doleiro Antonio Oliveira Claramunt, chamado de Toninho da Barcelona, de que o partido teria dinheiro no exterior. A reunião teve de ser suspensa por alguns minutos pelo presidente da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO). Um tumulto envolveu parlamentares que protestavam e falavam ao mesmo tempo, pedindo ao PT para que o partido pedisse desculpas ao país. Lando ainda tentou convencer Delúbio a dar respostas mais firmes. Assegurou que, embora o depoente estivesse sem a proteção de um habeas-corpus, não corria risco de ser preso na comissão. |