Mário Coelho
Com o pretexto de protestar contra a volta do deputado Leonardo Prudente à presidência da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), distritais que formam a base do governador José Roberto Arruda (sem partido) já ameaçam obstruir a pauta do Legislativo a partir de amanhã (11).
É nesta segunda-feira que a Câmara Legislativa volta aos trabalhos, após quase um mês de recesso. Os distritais terão uma pauta específica neste mês: dar início à CPI da Corrupção, que vai investigar contratos dos últimos 18 anos do governo do DF com empresas de informática, e à comissão especial que analisará os pedidos de impeachment contra Arruda.
Entre a aprovação do orçamento do Distrito Federal e a volta dos distritais do recesso parlamentar, terão se passado 26 dias. Esse período, no qual os envolvidos no mensalão do governador Arruda puderam se esconder da opinião pública, serviu também para reforçar uma tática que tem como objetivo descartar as denúncias e livrar boa parte dos parlamentares acusados das punições políticas. A estratégia começou a ser colocada em prática em 30 de dezembro, com a volta do “deputado da meia” à presidência da Câmara Legislativa.
Prudente tornou-se o foco dos protestos desde que voltou à presidência. O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, lançou nota dizendo que o retorno era um “desfecho lamentável” para os brasilienses. A imprensa noticiou o fato amplamente, relembrando o vídeo em que Prudente colocava dinheiro de propina, recebido do ex-secretário de Relações Institucionais do GDF Durval Barbosa, nas meias e nos bolsos do paletó.
Nesse período, Arruda foi para as sombras. Só reapareceu para fazer piada e pedir perdão pelos “pecados cometidos”. E teve tempo suficiente para conversar com os deputados da base. Desde então, a tática tem sido questionar os trabalhos da Mesa Diretora. Tanto que a partir de amanhã os distritais da base pretendem entrar em obstrução. Eles querem a saída de Prudente do cargo. Porém, o presidente, até o momento, está irredutível. Disse a membros da Mesa que não sai por “ainda não ter sido julgado” e por ter parecer favorável da Procuradoria da Casa pela sua volta.
Blindagem a Arruda
Obstruir a pauta da Câmara significa colocar freio nas investigações contra Arruda. A CPI da Corrupção, que já tem seus membros indicados, terá sua primeira reunião nesta segunda-feira. A comissão especial também será instalada. Nenhuma das duas interessa ao governador e ao seu grupo político, envolvidos em sérias acusações no inquérito que resultou na Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF).
“É uma operação abafa em andamento”, disse o vice-presidente da CLDF, Cabo Patrício (PT), ao Congresso em Foco. O andamento da tática governista motivou o PT a reunir sua bancada na sexta-feira (8). Os deputados Erika Kokay, Cabo Patrício, Chico Leite e Paulo Tadeu vão apresentar um requerimento pedindo o afastamento de Leonardo Prudente da presidência da Câmara Legislativa até o término das investigações de quebra de decoro parlamentar. Além disso, o PT vai disputar a presidência tanto da CPI da Corrupção quanto da comissão especial.
“Arruda fez uma grande articulação para fazer voltar a atenção à Mesa Diretora”, disse a líder do partido, Erika Kokay. Nos corredores da Câmara, especula-se o motivo da volta de Prudente ao cargo. Principal símbolo do mensalão do Arruda ao colocar o dinheiro nas meias, ele não precisa de mais desgaste ao ser constantemente questionado por reassumir o cargo. Porém, conhecedores do meio político brasiliense acreditam que deve ter pesado os contratos que empresas de sua família mantêm com o GDF. O parlamentar não pode se candidatar porque, ameaçado de expulsão, desfiliou-se do DEM (leia mais).
Quando estourou o escândalo no Distrito Federal, no fim de novembro, Prudente não cogitava sair da presidência. Porém, com a exposição cada vez maior, acabou convencido pelos deputados da base e da oposição a pedir uma licença e se afastar pelo período das investigações. Na época, 15 membros da base de Arruda concordaram com o afastamento. Somente Eurides Brito (PMDB), também implicada nas denúncias, e Wilson Lima (PR) eram contra.
Com ou sem obstrução, os deputados vão instalar a CPI da Corrupção e começar os trabalhos da comissão especial que vai analisar os pedidos de impeachment contra Arruda. Já os processos por quebra de decoro contra oito deputados, incluindo Prudente, só terão início em fevereiro. Assim como projetos de interesse do governo, que só terão seu trâmite a partir do próximo mês.
Manifestações retomadas
Não serão apenas os deputados e servidores que voltarão à Câmara. Os movimentos Fora Arruda e Toda a Máfia, que pedem o afastamento do governador, convocaram a população para um grande ato de protesto contra a corrupção em frente à sede do Legislativo local nesta segunda-feira (leia mais). Correligionários de Arruda também prometem se manifestar em frente à Câmara desde cedo.
Por causa disso, a bancada do PT assinou uma representação, que foi protocolada no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), na tentativa de impedir que ocupantes de cargos comissionados tentem novamente impedir a continuidade dos trabalhos na Câmara Legislativa, ao fazer manifestações a favor do governador Arruda.