Com dificuldade para fazer a defesa jurídica, líderes da base governista na Câmara decidiram radicalizar os argumentos para livrar o presidente Michel Temer das denúncias que deverão ser apresentadas na próxima semana pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Os governistas alegam que haverá uma forte desorganização na economia, com fuga de capitais e aumento de desemprego, se a Câmara autorizar a abertura de processo contra o presidente e torná-lo réu.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve denunciar Temer pelos crimes de corrupção passiva, obstrução de justiça e formação de quadrilha com base na conversa gravada pelo empresário Joesley Batista, do grupo JBS, no Palácio do Jaburu. A denúncia deverá ser desmembrada em duas ou três, com o agrupamento de crimes correlatos em cada uma delas.
Leia também
O líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE), pretende desprezar as alegações técnico-jurídicas oferecidas pelo Ministério Público Federal sobre o diálogo de Temer com Joesley com o argumento de que a abertura do processo, por si só, provocará um desarranjo generalizado da economia.
“Neste momento temos que ter estabilidade política porque o país começa o caminho da retomada do crescimento e da estabilidade econômica, os números mostram isso. Precisamos fazer com que este momento seja encerrado, virar a página e fazer a travessia para outro momento de segurança, para que os investidores tenham a certeza que o Brasil é um porto seguro para seus investimentos”, disse André Moura ao Congresso em Foco (assista ao vídeo).
PublicidadeBuraco
Os parlamentares mais próximos de Temer trabalham para rejeitar rapidamente a denúncia, após a análise pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com o argumento de que é preciso retomar a votação das reformas política e da Previdência. Desde que foi divulgada a conversa de Temer com Joesley, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), adiou a votação da proposta da reforma previdenciária para dar tempo ao governo de tentar conquistar os 308 votos exigidos para a aprovação do texto.
Mesmo considerando a situação “gravíssima”, o vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), espera manter a Casa funcionando para tentar mostrar serviço. Amigo de Temer, o deputado assumiu o lugar de Rodrigo Maia, que substituiu o presidente da República durante sua viagem à Rússia e à Noruega. “Não se pode escutar tudo que os donos da JBS fala. Porque eles colocaram o país dentro do buraco e inviabilizaram a vida de milhares pessoas no país”, diz Ramalho (assista ao vídeo).
O deputado Carlos Marun (PMDB-MS) também utiliza o argumento de que haverá caos econômico para tentar convencer os colegas a rejeitar a denúncia de Rodrigo Janot contra Temer. O parlamentar espera provas “efetivamente cabais” do PGR e ainda duvida que a denúncia será feita.
“Denunciar o presidente da República é criar uma situação de instabilidade, principalmente no momento em que o país que tenta se reerguer social e economicamente. É uma situação que exige provas efetivamente cabais do que se pretende. Não é baseado em suposições ou diferenças ideológicas”, disse Marun (assista ao vídeo).
O mesmo argumento de que a denúncia do procurador pode comprometer a retomada do crescimento é utilizado pelo deputado Mauro Pereira (PMDB-RS), para tentar livrar Temer do processo. “Não vejo razão nenhuma para abrimos um processo contra o presidente. Não podemos, em hipótese nenhuma, atrapalhar o crescimento da economia do país simplesmente autorizando o processo contra a autoridade que vem tentando acertar e equilibrar as finanças do país”, disse o deputado (assista ao vídeo).
Para barrar a denúncia e impedir a abertura da ação penal, Temer precisará ter o apoio de pelo menos 172 deputados.
Janot tem cinco dias para apresentar denúncia contra Temer ou arquivar inquérito
Aliados de Temer na Câmara avisam que reforma da Previdência só avança no próximo governo