Um dos partidos da base aliada do presidente Michel Temer, o PSB não aceita a versão encaminhada pelo Palácio do Planalto para a reforma da Previdência. Recém-conduzida à liderança da bancada na Câmara, a deputada Tereza Cristina (MS) defende que o texto sofra mudanças, sem ser “desfigurado”. Na rara condição de quem virou líder já em seu primeiro mandato, Tereza acredita que pontos considerados essenciais pelo governo, como a exigência de 49 anos de contribuição para a aposentadoria integral e a eliminação de regras especiais para trabalhadores rurais e deficientes físicos, serão revistos pelos deputados. O aviso será dado pelo partido ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em reunião com a bancada marcada para esta terça-feira (14).
Leia também
“Vamos votar unidos na essência da reforma, mas com algumas emendas de modificação ao texto original. Já fiz essa pergunta ao meu partido, ninguém me disse que é contra a reforma. Todos somos a favor dela, mas queremos ter a oportunidade de contribuir para que essa reforma saia melhor do que julgamos que ela tenha vindo do governo”, diz a deputada ao Congresso em Foco.
Assista a trechos da entrevista:
PublicidadeProdutora rural, neta, bisneta e trineta de ex-governadores de Mato Grosso, Tereza Cristina chegou à Câmara em fevereiro de 2015, carregada por 75 mil votos, após disputar pela primeira vez uma eleição. Vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, a deputada cobra regras diferenciadas para a aposentadoria de trabalhadores rurais e também para as mulheres que trabalham no campo, entre outros ajustes. Segundo ela, essas alterações serão apoiadas pela bancada de 35 deputados.
“Temos de rever esses pontos. Exigir 49 anos de contribuição do trabalhador rural é demais. O governo diz que o rombo é maior nessa área, que paga R$ 90 bilhões em benefícios e arrecada R$ 8 bilhões. Mas não podemos desamparar essas pessoas. É preciso que elas tenham idade especial para se aposentar porque o desgaste delas é muito grande”, afirma Tereza.
Em busca de votos para a reforma, Meirelles se reuniu com outras bancadas, como a do PMDB e a do PSD, na semana passada. Mesmo ocupando o Ministério de Minas e Energia, com o deputado licenciado Fernando Coelho Filho, o PSB ainda enfrenta discussões internas sobre as mudanças no sistema previdenciário. O presidente da legenda, Carlos Siqueira, já manifestou insatisfação com pontos polêmicos da proposta do governo, chamada por ele de “mercadológica”. O partido abre, nesta segunda-feira (13), uma consulta na internet para saber a posição de seus filiados sobre o assunto.
Tereza Cristina chegou à liderança da bancada sem o apoio de Siqueira, que preferia a ascensão do deputado Tadeu Alencar (PSB-PE), seu conterrâneo. Mesmo apenas em seu terceiro ano de mandato, a parlamentar conseguiu o apoio de 22 dos 35 colegas de partido. Engenheira agrônoma, com passagens por multinacionais e pelo serviço público, Tereza Cristina foi secretária estadual de Desenvolvimento Agrário da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo na gestão do ex-governador André Puccinelli (PMDB-MS).
A deputada admite que nenhum parlamentar passará “impune” pela reforma da Previdência. Por isso, é preciso aprovar as mudanças necessárias custe o que custar, avalia. “Já estamos num mandato em que temos um desgaste natural por sermos políticos, mas precisamos ter responsabilidade pelo bem do país. Essas reformas precisam sair do papel. Quando o país estiver melhor, podemos re-reformá-las”, afirma.