Falar em algoritmos parece estar na moda assim como cuidar das políticas LGBT. Algo o quê, podem perguntar alguns? Algoritmos, ou no original “algo selection”, são, basicamente, responsáveis por tudo que você lê e recebe quando navega na internet. É uma novidade, ou uma modinha, tão poderosa, que os reguladores do setor estão de cabelo em pé para saber o que fazer com o poder da máquina e, em especial, como ela empodera os intermédios da comunicação digital.
Basicamente, os algoritmos são responsáveis por moldar a nossa realidade virtual, ou seja, o jeito como a internet é acaba sendo determinado hoje por sistemas de processamento ultrarrápidos e parametrizados para dar respostas prontas, de acordo com parâmetros e critérios pré-definidos.
Um artigo da Universidade de Zurique sobre a economia política da seleção de algoritmos revela os prós e os contras dessa nova lógica na rede; entre eles, os benefícios econômicos e sociais para indivíduos, corporações, administrações e sociedade, tais como a redução nos custos de transação, as vantagens do aumento de desempenho e personalização das soluções da internet.
Isso vale no caso de aplicativos de busca, uso de filtros, agregação e recomendação e, também, na funcionalidade da publicidade computacional e redes publicitárias, tudo moldado pela automação de processos em massa.
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Por outro lado, significa “adeus emprego”, inclusive, na área de produção de conteúdo pela internet, como no caso das notícias, funções que podem vir a ser substituídas, por exemplo, por um tipo de “jornalismo algorítmico.”
O resultado são o aumento do consumo de notícias por parte dos agregadores de notícias; aumento do consumo de TV devido aos sistemas recomendadores ou aumento de vendas devido a sistemas de busca e recomendação em lojas online. Até aí tudo bem. O problema são os desafios advindos dos chamados “riscos sociais significativos”, ou seja, a carga de tendências que carrega essa pseudo “automação” da informação virtual. O artigo cita alguns dos riscos associados, como manipulação e preconceito, ameaças à privacidade e violações dos direitos de propriedade intelectual que comprometem os efeitos econômicos e de bem-estar social das aplicações de seleção de algoritmos.
PublicidadeA discussão parece ter um nível tão técnico que ainda nem chegou na esfera política, mas, indiretamente, torna ainda mais relevante o debate da política de proteção de dados, que caminha lentamente na Câmara dos Deputados por meio de projeto de lei. Se os aplicativos e mecanismos de busca da internet estão fazendo mal-uso dos seus dados, ainda não temos certeza, mas que eles estão lucrando milhões de reais às suas custas, isso é um fato economicamente incontestável.
E essa discussão precisa tornar-se palpável no seio das estratégias políticas de Estado, afinal, governo nenhum tem uma clientela tão grande quanto à do Facebook, e esse chamado “poder paralelo” é tão abrangente quanto disfarçado. É o que podemos chamar de “Bomba Google”, seja para bem, seja para o mal, dizem os especialistas.
Os estudos da ciência política demonstram que qualquer tipo de manipulação é extremamente perigosa para a saúde das democracias, visto que a otimização de motores de busca exerce uma influência majestosa sobre nossas vidas. Isso fica bem claro, por exemplo, nas recomendações de hotéis ou produtos. Nada mais tendencioso! Dito em outras palavras, as empresas e suas regras próprias deixam de lado certos aspectos da realidade e incorporaram valores específicos que discriminam inconscientemente o conteúdo particular.
Craque nos fenômenos de massificação da nova economia digital, a inglesa Robin Mansell alerta que as mudanças são ultra velozes e que os intermediários da informação on line, ou plataformas de poder, como ela chama, ganham cada mais economia de escala graças às suas estratégias para monopolizar o mercado.
E ainda não está claro, nem para os reguladores ou para os políticos, qual o destino de tanta mudança, por mais que a pluralidade de opiniões e informações seja uma questão central na internet.
Na prática, moda por moda, os algoritmos, ou algos selection, são mega-fashion! Automação é pop!!! O problema é o preço que se paga!!!!
Poderá haver diferenças entre o texto escrito e a coluna realizada ao vivo no programa “Câmara é Notícia”, da Rádio Câmara