Em março de 2014, o então vice-presidente da República Michel Temer voou em um helicóptero registrado em nome da empresa Juquis Agropecuária LTDA, quando o protocolo recomendava deslocamento em aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB). O motivo da viagem: o peemedebista foi participar dos festejos de 172 anos de emancipação do município de Tietê, no interior de São Paulo. A informação foi veiculada nesta terça-feira (13) pelo site do jornal Zero Hora, na esteira da notícia de que Temer viajou a lazer em um jatinho do Grupo JBS, cujos executivos o acusam, em delação premiada já homologada no Supremo Tribunal Federal, por recebimento de propina – motivo da investigação do presidente por corrupção, associação criminosa e obstrução de Justiça.
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Segundo a reportagem, Temer foi a Tietê em compromisso oficial, com registro formal na agenda da Vice-Presidência da República do dia 9 de março de 2014 (veja imagem abaixo). Em quatro meses teria início a corrida eleitoral que o reelegeria para mais quatro anos de mandato, que agora se confunde com o exercício da Presidência da República depois do impeachment de Dilma Rousseff.
A matéria diz ainda que o presidente foi recebido com festa e homenagens da prefeitura local, com direito a apresentação da Orquestra Bachiana Filarmônica, regida pelo celebrado maestro João Carlos Martins. “Talvez seja exagerado. Não faço nada mais do que faz qualquer cidadão brasileiro”, disse Temer em discurso.
“Procurado, o Palácio do Planalto disse inicialmente que Temer viajou em um helicóptero da FAB, o que contraria relatos de testemunhas e as próprias fotografias do então vice-presidente descendo da aeronave da Juquis. Após a publicação da reportagem, no entanto, o Planalto corrigiu a informação e reconheceu que a viagem foi feita no helicóptero de um ‘amigo’ de Temer, Vanderlei de Natale – sócio-administrador da Juquis. Ao mudar de versão, o Planalto justificou que, na resposta ao questionamento de Zero Hora, houve confusão de datas durante a pesquisa à agenda oficial”, diz trecho da matéria, assinada por Fábio Schaffner.
A reportagem informa ainda que, quase simultaneamente ao desembarque de Temer, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), chegou a Tietê para os festejos oficiais. Além do tucano, lembra o site de Zero Hora, também foi à celebração foi o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf, nome do PMDB bancado por Temer para disputar o governo de São Paulo nas eleições gerais de 2014.
“Temer chegou pela manhã, após um voo de cerca de 40 minutos desde São Paulo. Ele desembarcou do helicóptero Bell prefixo PR-VDN no aeroclube de Tietê, acompanhado de auxiliares e do amigo e futuro assessor José Yunes — que pediria demissão no final de 2016, após ser citado nas delações da Odebrecht por supostamente ter recebido R$ 1 milhão para campanhas do PMDB”, acrescenta a reportagem.
Viagens, flores e recuos
Não é a primeira vez que Temer dá uma versão seguida de recuo sobre viagens do tipo. Quando foi à Bahia, em 2011, a bordo de uma aeronave da JBS, a Presidência da República inicialmente afirmou que a FAB havia providenciado o deslocamento do então vice-presidente, no início do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. No dia seguinte, diante de evidências e registros documentais, o Planalto teve que admitir que o voo, na verdade, foi por meio de um jatinho Learjet PR-JBS, com sigla a indicar a propriedade da empresa de Joesley Batista, um dos delatores de Temer.
Na verdade, o presidente deu duas versões sobre o uso do Learjet PR-JBS, que o levou com a primeira-dama, Marcela Temer, e o filho do casal, Michelzinho, para Comandatuba a lazer, viagem que figura nos registros de voo apresentados pelo empresário Joesley. Inicialmente, o presidente negou ter voado em avião particular, e deu a versão de que ele e a mulher haviam voado até lá com a FAB. Mais tarde, divulgou outra nota e admitiu a viagem no Learjet, mas disse que não sabia que a aeronave pertencia a Joesley.
A nova resposta dele se choca, porém, com outro detalhe apresentado pelo delator da Lava Jato. Joesley disse que mandou flores para enfeitar a aeronave. Mas que, ao perceber que Temer havia ficado enciumado, o piloto atribuiu o presente à mãe do empresário. O empresário relatou que o então vice-presidente lhe telefonou para questionar sobre as flores e pedir o telefone de sua mãe para agradecê-la pela gentileza.