Roseann Kennedy
O tom da campanha presidencial aumentou e foi elevado dos dois lados – oposição e Governo – frente ao escândalo das quebras de sigilo na Receita Federal. No ninho tucano, a ordem é fazer barulho, vincular o caso com a campanha de Dilma Roussef e tentar mostrar à população que a vulnerabilidade da Receita é um risco a qualquer cidadão.
Nessa linha, o PSDB passou a explorar o caso no programa eleitoral de José Serra. O tema será abordado permanentemente em várias frentes tucanas, que relembram, também, o episódio da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa e questionam a atuação da Receita na investigação do caso.
Já no PT, a estratégia é tentar desconstruir o discurso dos adversários. Para isso, o partido vai rebater na Justiça todas as acusações de envolvimento na quebra de sigilo fiscal e confecção de dossiês. Além disso, junto à militância, vai entoar o discurso de que os adversários querem ganhar a corrida presidencial no tapetão.
Nos bastidores do Governo e da campanha de Dilma Roussef, representantes políticos manifestaram a preocupação de o episódio na Receita ganhar dimensão semelhante ao escândalo dos aloprados em 2006. Na ocasião, petistas negociaram um dossiê com informações contra os adversários. O impacto político levou a disputa para o segundo turno.
Ainda é cedo para saber o real impacto que o escândalo da Receita terá na corrida presidencial. Para saber qual dos dois discursos, o tucano ou o petista, terá mais peso junto ao eleitor. Mas o estrago na Receita Federal esse já foi feito e ainda não foi reparado.
A Receita, que figurava entre as mais respeitadas instituições do País, está desmoralizada. A proteção que se pensava existir aos dados sigilosos, conforme determinado na Constituição, é praticamente uma lenda. O que se viu nos últimos dias foi a revelação de que senhas pessoais são compartilhadas com muitos; computadores com informações sigilosas ficam abertos e que é possível comprar dados de quaisquer pessoas.
Portanto, independentemente da politização do episódio e se houve ou não motivação eleitoral para a quebra de sigilo, é preciso que as instâncias competentes se empenhem na investigação. Não dá para manter o cidadão vulnerável.
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