O Brasil deve colher neste ano quase 230 milhões de toneladas de grãos, exibindo desempenho extraordinário do nosso setor agropecuário, superior a 22% em comparação ao do ano anterior, que já havia sido muito expressivo – 186 milhões de toneladas.
Infelizmente as tensões provocadas pelas crises econômica, política e ética que atravessamos ofuscam a percepção dessa conquista. Devemos, é claro, celebrá-la, mas não sem considerar os inumeráveis problemas que enfrentamos em todos os estágios da produção e o que dela colhemos.
Sou do ramo. Nasci em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, numa família que se dedica à atividade agrícola há várias gerações. Meu campo de estudos é a agronomia e minhas atividades profissionais e políticas expressam o meu interesse e conhecimento sobre o setor. Certamente por isso vejo o desempenho agropecuário de nosso país com o olhar de quem se habituou à emoção de ver a vida brotar a partir do trabalho de milhares de pessoas e o avanço que a dedicação deles tem proporcionado ao nosso país, cuja riqueza, hoje como no passado, se forma e evolui em estreita vinculação com o que se produz no campo.
A nossa agropecuária, hoje, é a que mais cresce em todo o mundo, conforme avaliação recente do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Entre 2006 e 2010, o rendimento setorial aumentou 4,28%, seguido pela China (3,25%), Japão (2,86%), Argentina (2,7%), Indonésia (2,62%), Estados Unidos (1,93%) e México (1,46%), indicador que expressa a Produtividade Total dos Fatores (PTF) e considera os produtos das lavouras e da pecuária relacionados com os insumos empregados na produção.
Esse desempenho, colocou o Brasil na condição de maior exportador mundial de carne bovina, primeiro também na exportação de carne de aves, quarto de carne suína, alternando, em função das condições climáticas, a primeira posição nas exportações de soja.com os Estados Unidos, tudo isso depois de abastecer uma população que já passa dos 211 milhões de habitantes.Devo destacar dois aspectos fundamentais nessa trajetória vitoriosa. O primeiro diz respeito ao esforço destinado ao desenvolvimento tecnológico, em particular a atuação da Embrapa, da qualificação de nossos profissionais, como também a inovação e emprego dos fatores de produção. Provém disso a excelência e diversidade de nossa escala de produção, dos grãos e proteínas aos energéticos.
Me anima que o melhor de todo esse tesouro está por vir. O crescimento da produção, do agronegócio nas duas últimas décadas se deu com redução de áreas plantadas, numa confirmação dos ganhos de produtividade, e muito há que se fazer com a recuperação de áreas degradadas, sobretudo por pastagens descontinuadas.
Bastaria projetar o mercado nacional numa perspectiva de ganhos crescentes da renda das famílias para que o potencial de crescimento da agropecuária se assegurasse. Somam-se a essa possibilidade, as demandas de países como China, Índia, Paquistão e a manutenção mínima do consumo europeu e das economias asiáticas, sem contar com o esforço dos países que se esforçam para ingressar na rota do desenvolvimento e também dos que ressurgirão depois de ultrapassadas as conflagrações em que se encontram.
Internamente, enfrentamos deficiências gravíssimas na infraestrutura de armazenamento, transportes, e portos, mas vislumbramos possibilidades concretas e promissoras com o esforço de maior nivelamento da capacitação de nossos produtores e numa integração mais efetiva da agropecuária com a indústria, com o que ganharemos na exportação de mais valor agregado, no aumento de nossa matriz produtiva com mais renda, mais impostos e mais empregos.