É o que mostram investigações da Aeronáutica a serem divulgadas no início de fevereiro, mas adiantadas em manchete de capa do jornal O Estado de S. Paulo desta sexta-feira (16). Assinada pela jornalista Eliane Cantanhêde, a matéria revela que o “resultado decisivo” que levou à queda do avião foi a tentativa de abortar o pouso e arremetê-lo abruptamente, quando Martins teria deixado de operar os instrumentos devidos de acordo com recomendações do fabricante do Cessna.
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Essa situação, provocada pela falta de perícia do piloto, levou-o a sofrer o que é tecnicamente chamado de “desorientação espacial”, quando o piloto perde a noção referencial entre aeronave e solo. Ou seja, o piloto passa a ignorar a posição do avião – se está inclinado para cima ou para baixo, se suas asas estão na vertical, se está emborcado, ou mesmo se o avião simplesmente mantém a normalidade do voo.
“Essa conclusão sobre a ‘desorientação espacial’ baseou-se em informações sobre os últimos segundos do voo, no momento em que o avião embicou num ângulo de 70 graus e em potência máxima, como se o piloto acelerasse pensando que estava em movimento de subida, quando na verdade estava voando para baixo, rumo ao solo”, diz trecho da reportagem, lembrando que, além de Campos, morreram quatro de seus assessores e os dois tripulantes – além de Martins, o copiloto Geraldo Magela Barbosa.
Sem simulação
Segundo a reportagem, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão da Aeronáutica, debruçou-se sobre as causas do acidente em cerca de cinco meses de trabalho. Nesse período, traçou todo o perfil psicológico, pessoal e profissional dos pilotos, listou a sequência de erros de Martins e chegou à conclusão de que o acidente foi exclusivamente provocado por falha humana – o piloto não passou por simulador de voo do Cessna, aeronave “sofisticada e nova”, diz o Estadão.
“Não foi encontrado nenhum indício de falha técnica ou de operação do sistema aeronáutico. As duas turbinas foram detalhadamente analisadas e estavam em perfeita condição de uso, mas a caixa preta de voz não foi útil para as conclusões. Ela simplesmente não estava ligada, não gravou as conversas durante o voo”, registra outro trecho do texto.
O jornal informa ainda que piloto e copiloto não tinham bom relacionamento, e que aquele provavelmente seria o último voo conjunto da dupla, mesmo se o acidente não lhes tivesse abreviado a vida. O Cenipa registrou um histórico de desentendimentos entre os dois, inclusive um pedido de Magela para não voar mais com o piloto. Além disso, “circunstâncias objetivas” se somaram ao despreparo do piloto e à falta de sinergia da tripulação na cabine de comando: o tempo chuvoso e a conhecida complexidade de pouso, mesmo para pilotos experientes, na pista da Base Aérea de Santos.
“Apesar de todos esses agravantes, e talvez por excesso de autoconfiança, Martins cometeu, segundo os investigadores da Aeronáutica, o erro que deflagrou todo o desfecho trágico: ele desdenhou a rota determinada pelos manuais para o pouso na Base de Santos, não fez a manobra exigida para aquela pista e tentou pousar direto, de primeira”, explica a reportagem.