Em conversa gravada e entregue à Procuradoria-Geral da República pelo empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou ao empresário que pressionou o presidente Michel Temer (PMDB) para que realizasse mudanças na Polícia Federal. A conversa foi gravada no dia 24 de março, no Hotel Unique, em São Paulo. No encontro de Aécio com Joesley, o tucano disse ao empresário que o governo deveria aproveitar a crise gerada pela Operação Carne Fraca para fazer mudançasque incluíam a troca do diretor-geral da PF, Leandro Daiello.
Diante do comentário, Joesley ressaltou: “Não vai ter outra. Porque nós nunca tivemos uma chance onde a PF ficou por baixo, né?” Aécio concordou: “Aí vai ter quem vai falar, ‘é por causa da Lava Jato”’. No próprio comentário, o senador já emendou uma possível resposta que poderia ser dada pelo governo: “Não, é por causa da Carne Fraca”.
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O nome de Daiello não é citado em nenhum momento da conversa, mas de forma cifrada, algumas referências são direcionadas a ele – conforme afirma delação de Joesley. “Tem que tirar esse cara”, disse Joesley. Aécio repetiu: “Tem que tirar esse cara”. Em um dos trechos, Aécio diz que “ele próprio [referência a Daiello] já estava preparado para sair”.
Em nota assinada pelo advogado Alberto Zacharias Toron e enviada ao Congresso em Foco, a defesa de Aécio afirma que a conversa com Joesley se referia “à Operação Carne Fraca, ocorrida naqueles dias, e suas consequências para o Brasil no mercado internacional”. Além disso, explica que o “mea culpa” mencionado na conversa estava no contexto que isso ajudasse “embaixadores e diplomatas nas negociações para recuperar os mercados perdidos pelo Brasil”. “Portanto, transformar isso em tentativa de desestabilizar o diretor-geral da PF é absurdo”, ressalta Toron.
De acordo com Joesley, Aécio, na ocasião, disse que outros empresários estavam também preocupados e “pressionando” Temer pela mudança na PF. O tucano citou um jantar com o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, uma pessoa identificada como Pedro e Michel Temer.
“Pressionaram. A polícia tem que fazer um gesto. Errou. Não adianta os caras ficarem falando que não, a Polícia Federal tem que falar: ‘Ó, realmente foi um erro do delegado que, enfim, não dimensionou a porra. Era um negócio pontual. Em três lugares. Já está contido e tal’. O laudo, pãpãpã, e zarpar com esse cara”, disse o senador.
Na conversa, Aécio também faz críticas à nomeação de Osmar Serraglio para o Ministério da Justiça. De acordo com o senador, ele “não dá nenhum alô” – o comentário é uma referência a intervenção dele na Operação Lava Jato. Neste domingo (29), Temer tirou Serraglio do cargo e colocou Torquato Jardim.
Desde o dia 18 de maio, Aécio está afastado do cargo por uma decisão do ministro Edson Fachin, responsável pela Operação Lava Jato na Corte. A PGR havia pedido ainda a prisão preventiva do senador e do deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), mas o ministro negou. Alvo de seis inquéritos na Corte, Aécio foi citado pelo empresário Joesley Batista, dono do grupo JBS, em delação premiada.
Nos depoimentos de Joesley e de seu irmão Wesley Batista, Joesley contou aos procuradores que Aécio lhe pediu R$ 2 milhões para pagar despesas com sua defesa na Operação Lava Jato. O empresário disse que o primeiro contato sobre o pedido do dinheiro foi realizado pela irmão de Aécio, Andrea Neves – presa em caráter preventivo desde o dia 18.
Leia integra da nota enviada ao Congresso em Foco assinada pela defesa do senador Aécio Neves:
“É absolutamente equivocada a análise de que o senador, em conversa gravada ilegalmente pelo senhor Joesley Batista, “tramava a queda do diretor-geral da Polícia Federal”.
Basta uma escuta atenta aos diálogos, para perceber que o senador se referia, em conversa com um empresário do setor de carnes, à Operação Carne Fraca, ocorrida naqueles dias, e suas consequências para o Brasil no mercado internacional.
O senador defendia, em conversa privada, um mea culpa da PF que ajudasse nossos embaixadores e diplomatas nas negociações para recuperar os mercados perdidos pelo Brasil.
Em certo momento, o senador diz, referindo-se ao delegado que conduziu a Operação Carne Fraca: “tem que fazer um mea culpa para dar pelo menos mais um instrumento pros negociadores novos, pros embaixadores, para os diplomatas novos.” E, referindo-se ao delegado que conduziu o inquérito sob muitas críticas, disse “o delegado tem que cair. Dizer o seguinte: foi um erro de avaliação, foram questões pontuais em dois ou três lugares (frigoríficos) que não afeta o Brasil”.
Portanto, transformar isso em tentativa de desestabilizar o diretor-geral da PF é absurdo.
O senador reitera, inclusive, a correção e eficiência com que o doutor Leandro Daiello conduz há anos a PF, cujo fortalecimento é essencial ao país, e registra ainda a fidalguia com que foi tratado sempre que o encontrou.
Alberto Zacharias Toron – Advogado”
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