Primeiro membro do PSDB a ser tornar réu na Operação Lava Jato, o senador Aécio Neves (MG) disse há pouco que o fato de a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) ter recebido a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), na verdade, é uma oportunidade de provar sua “inocência”. No vídeo abaixo, o tucano volta a desqualificar seus acusadores e tenta emplacar a versão de que foi vítima de armação, em contraposição ao conteúdo de um áudio que, segundo a acusação, enquadra-o nos crimes de corrupção e tentativa de obstruir a Justiça.
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Aécio iniciou sua fala, de pouco mais de um minuto, dizendo ter recebido “com absoluta tranquilidade, até porque já esperava” a notícia de que agora é réu na mais importante corte de Justiça do país. “Agora terei a oportunidade, que não tive até aqui, de provar de forma clara e definitiva a absoluta correção dos meus atos. Estou sendo processado, agora, por ter aceito empréstimo de um empresário – portanto, recursos privados de origem lícita – para pagar os meus advogados”, discursou o tucano, na entrada do plenário do Senado, para onde voltou sem responder perguntas da imprensa.
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Para o senador, o que houve foi uma “gravíssima ilegalidade” das ações que levaram à denúncia. Ele se refere à operação coordenada pela força-tarefa da Lava Jato que, entre outras coisas, demonstrou a correlação do diálogo com o empresário Joesley Batista (dono do grupo J&F), gravado com autorização do STF, e a receptação de dinheiro vivo pelo primo do tucano, Frederico Pacheco. As cenas da entrega do dinheiro foram filmadas pela Polícia Federal. A esse respeito, ficou famosa a referência do senador a “Fred”.
“Tem que ser um que a gente mata eles antes dele fazer delação [risos]. Vamos combinar o Fred com um cara desse [ligado à empresa]. Porque ele sai lá e vai no cara. Isso vai me dar uma ajuda do caralho. Não tenho dinheiro pra pagar nada. […]. Sabe porque eu tenho que segurar esse advogado. […] Porque não tem mais, não tem ninguém que ajuda”, disse o tucano.
Veja no vídeo:
Para os investigadores do Ministério Público Federal (MPF), trata-se de propina em troca da atuação de Aécio em benefício da J& F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que compõe “farto material probatório – palavras do subprocurador da República Carlos Alberto Coelho, que representou a PGR, titular da investigação, na sessão deliberativa da Primeira Turma. A tese é reforçada em delações premiadas homologadas pelo STF.
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Para o senador, era apenas um empréstimo para pagar advogados para defendê-lo na Lava Jato. Além da ação penal iniciada hoje (terça,17), Aécio é alvo de oito inquéritos. Ele se defendeu ainda da acusação sobre obstrução de Justiça. “A outra acusação que me fazem diz respeito a esta Casa do Congresso Nacional. Sou acusado por votos que dei, por opiniões que proferi”, acrescentou Aécio.
Delegado favorito
Nesse ponto da fala, Aécio se refere ao apoio que deu à aprovação do projeto de lei que endurece pena para abuso de autoridade (PLS 85/2017), que foi visto como uma forma encontrada por congressistas investigados na Lava Jato para ameaçar juízes e demais operadores do Direito. Além disso, como anota a denúncia da PGR, o senador se manifestou favoravelmente à anistia para o crime de caixa dois, um dos principais sob investigação no petrolão, quando da tramitação do projeto que sugeriu dez medidas contra a corrupção. A matéria foi desfigurada por deputados.
Mas não é só essa a implicação do senador na acusação de obstrução de Justiça. Segundo as investigações, no diálogo com Joesley fica clara a disposição de Aécio em interferir nas investigações da Polícia Federal, por meio da indicação de delegado de sua preferência para a condução de seu caso. Na ocasião, o tucano critica e até xinga o então ministro da Justiça, o deputado Osmar Serraglio (MDB-PR), a quem a PF era subordinada (hoje, o vínculo é com o recém-criado Ministério da Segurança Pública). Osmar o acusa de pressão para nomear quem pudesse ajudá-lo a se salvar das acusações.