O ex-procurador da República Marcelo Miller recebeu com ao menos um dia de antecedência a informação de que a força-tarefa da Lava Jato deflagraria uma de suas mais importantes operações: a que levou à prisão de Andrea Neves e do empresário Frederico Pacheco, irmã e primo do senador Aécio Neves. Na ocasião, ele já atuava como advogado da J&F e acertava os termos de seu contrato com o escritório Trench Rossi Watanabe, por meio do qual atuou no acordo de leniência do grupo.
As informações são da Folha de S.Paulo. O vazamento foi registrado por ele mesmo em mensagem a uma advogada com quem atuava em parceria no caso. Segundo a repórter Daniela Lima, Miller discutia com Esther Flesch um contrato que ampliaria os valores de honorários pagos pela JBS aos dois. O ex-procurador pediu a Esther que fechasse logo os termos do contrato com o escritório.
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“Vamos correr porque a informação insider é a de que a operação pode ser deflagrada amanhã”, escreveu em mensagem enviada pelo Whtasapp. No dia seguinte foi deflagrada a Operação Patmos. A ação também resultou na prisão de um assessor do senador Zezé Perrella (MDB-MG) e no afastamento temporário de Aécio do mandato.
Miller foi contratado pela J&F por meio do Trench Rossi Watanabe para cuidar do acordo de leniência. Mas há indícios de que ele também orientou a colaboração premiada dos irmãos inclusive quando ainda estava na PGR.
Em outra troca de mensagens com Esther, ele diz ter recebido a informação do então chefe de gabinete da PGR, Eduardo Pelella, de que o órgão soltaria nota negando a participação dele na delação premiada, o que ocorreu duas horas depois.
Em resposta à Folha, Miller disse que já estava desligado dos quadros do MPF há mais de 40 dias quando enviou a primeira mensagem a Esther. “O conteúdo da mensagem não adveio de nenhum órgão estatal, tendo origem na sua atuação como advogado, o que o obriga a preservar o sigilo profissional”, declarou por meio de sua assessoria. De acordo com o jornal, o ex-procurador não esclareceu como obteve a informação sobre a nota de Pelella, disse apenas que as ilações mereciam uma “resposta enérgica”.
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