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Pronto. Está dada aí, em ligeiras pitadas, a receita do sucesso da candidatura de Celso Russomanno à prefeitura de São Paulo, na visão de lideranças do PT e do PSDB, os dois principais partidos que disputam uma vaga no segundo turno para enfrentar o candidato do PRB. Apesar de estarem atrás nas pesquisas, petistas e tucanos apostam que a receita de Russomanno vai desandar assim que o eleitor for convocado a mexer nesse caldeirão que é a eleição em São Paulo.
“Ele está pisando no tomateiro. Fez propostas ruins para os pobres, como a que prevê que quem anda menos de ônibus vai pagar menos. Ora, quem anda mais de ônibus é o pobre, que terá de pagar mais”, diz o deputado Paulo Teixeira (SP), vice-líder do PT na Câmara e integrante do conselho político da campanha de Fernando Haddad.
“Momento da razão”
“As pessoas começam a entrar no momento da razão com a chegada da eleição. Os eleitores vão refletir que, para comandar São Paulo, é preciso ser muito mais do que um defensor do consumidor”, afirma Vanderlei Macris (SP), vice-líder do PSDB na Câmara e vice-presidente estadual do PSDB.
Na avaliação tanto do tucano quanto do petista, Russomanno tem sabido tirar proveito de sua popularidade como “defensor dos direitos do consumidor”. Um papel que ganha maior relevância num momento em que cresce o poder de consumo da chamada nova classe média, num país em que o consumidor é historicamente maltratado.
“Ele trabalhou muito o tema do consumo, que interessa aos pobres”, avalia Teixeira. “Há uma identificação muito forte dele com o eleitorado da nova classe média, que vê nele um defensor. Houve identificação, mas as pessoas desconhecem quem, realmente, é o Russomanno”, diz Macris.
Despolitização
Para os adversários, a “despolitização” favorece o candidato em tempo de descrédito na atividade partidária. “Não ter imagem de político ajuda ele. Mas, como ele foi, todo o passado político dele volta. E se volta contra ele”, acrescenta o vice-líder do PT, lembrando de posições polêmicas do ex-deputado, divulgadas recentemente na internet e na imprensa. Entre elas, ter votado a favor de um dispositivo que invalidava a aplicação da Lei da Ficha Limpa.
Vice-presidente estadual do PSDB, Vanderlei Macris acredita que, diferentemente de Serra e Haddad, que têm dois partidos fortes como ponto de sustentação, Russomanno corre riscos por não ter uma estrutura partidária que lhe dê suporte. Num primeiro momento, isso pode ajudá-lo a se eleger, mas pode trazer complicações em seu eventual governo. “Ele passa a impressão de que vai fazer as coisas todas individualmente. Não dá para fazer assim. A cidade tem assuntos mais complexos do que a defesa do consumidor, como saúde, educação, segurança e transporte. Um eventual governo dele será uma geleia geral, porque, diferentemente do PSDB e do PT, ele não tem time”, afirma o tucano.
Vanderlei Macris admite que a forte rejeição a José Serra, apontada pelas pesquisas, emperra a candidatura do tucano na capital paulista. Para ele, a renúncia de Serra à prefeitura, no meio do mandato, após ter se comprometido em cartório a concluir sua gestão, e a avaliação negativa da administração de Gilberto Kassab (PSD), explicam a resistência de parte do eleitorado ao nome do ex-prefeito, ex-governador e ex-candidato à Presidência da República. As últimas pesquisas indicam que cerca de 40% dos entrevistados dizem rejeitar o tucano.
Confiança
Ainda assim, o deputado mantém a confiança em seu candidato. “Apesar da rejeição, ele é a pessoa em que as pessoas mais têm confiança por sua capacidade de gerenciar. Não faz propostas mirabolantes. Em termos de partido, Serra não tem desgaste. O PSDB está bem no estado e tem chances no Brasil inteiro. Serra é uma liderança considerada”, avalia Macris.
Comemorando ainda a divulgação da pesquisa do Ibope, que apontou Haddad à frente de Serra, ainda que dentro da margem de erro, Paulo Teixeira acredita que Russomanno poderá ser ultrapassado pelo petista ainda no primeiro turno. É algo difícil, mas viradas desse tipo já aconteceram em eleições anteriores “O Serra é um político que já desgastou. A eleição começou agora”, afirma o vice-líder petista. “Lulinha não vai sair mais de São Paulo antes de um mês. E a presidenta Dilma vai entrar ainda mais na campanha”, avisa Teixeira.
Vanderlei Macris diz que o maior envolvimento de Lula e Dilma na campanha de Haddad na reta final da campanha não incomoda os tucanos. “Isso já é uma coisa incorporada na campanha. Lula e Dilma já estão direto na campanha. Não é novidade nenhuma. Isso está todo dia na campanha. O governador Geraldo Alckmin também vai intensificar sua participação, mostrando a importância de haver uma boa relação entre a prefeitura e o governo do estado”, diz o vice-líder tucano. “Mas o eleitorado paulistano tem dose de conservadorismo muito forte. O eleitor se sente independente e não está nem aí para os apoiadores de campanha”, acrescenta.
Tiro no pé
Em meio a tantas divergências, os dois voltam a concordar em outro ponto: o apoio de Maluf a Haddad, que fez a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) desistir de ser vice do petista, não acrescentou nada ao PT. Pelo contrário.
“A foto [de Lula, Maluf e Haddad] foi infeliz. A presença de Maluf na campanha de Haddad é nenhuma. Os malufistas estão com o Russomanno. Só nos trouxe prejuízo, porque o voto mais progressista não gostou. Mas esse voto voltará pra gente”, acredita Paulo Teixeira. “Ele tem razão quando diz que os malufistas estão com o Russomanno. O PT deu um tiro no pé com o Maluf. Ganhou um minuto de TV e perdeu votos”, afirma Vanderlei Macris.
Questionado quem apoiaria num eventual segundo turno, caso Serra não avance à rodada final, o deputado tucano desconversa com bom humor: “Nossa conversa fica só até o primeiro turno. Depois a gente conversa”. Paulo Teixeira diz nem considerar a hipótese de o petista não enfrentar Russomanno no segundo turno. “Acredito que ele vai ficar na frente do Russomanno. Vai pegar o voto anti-Serra, de uma classe média que preferia o Serra mas que agora viu que ele está ladeira abaixo”, afirma o petista. Façam suas apostas. O caldeirão paulistano ferve.