Bastou apenas uma hora e quarenta minutos para que Ademirson Ariovaldo da Silva, assessor do Ministério da Fazenda, Antonio Palocci, conseguisse irritar à CPI dos Bingos. Em um dos depoimentos mais curtos já prestados à comissão, ele negou ter participado das negociações para a renovação do contrato da multinacional GTech, que operava as Loterias Federais, com a Caixa Econômica Federal (CEF). Ao contrário, o assessor disse que só ouviu falar da empresa pelos jornais.
O discurso não convenceu os parlamentares. "O depoimento foi péssimo. Ele negou tudo", afirmou o relator da CPI, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Por conta do fiasco, os membros da comissão devem analisar amanhã um requerimento que pede uma acareação entre Ademirson, o advogado Rogério Buratti, o ex-chefe de gabinete do Ministério da Fazenda Juscelino Dourado e o ex-assessor da prefeitura de Ribeirão Preto Vladimir Poleto. Todos estariam envolvidos na negociação para a renovação do contrato da GTech com a CEF.
A transação, segundo vários ex-diretores do banco, causou rombos milionários nos cofres da instituição e está sob suspeita. A CPI desconfia que Buratti teria utilizado sua proximidade com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e com o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz para interceder na renovação do negócio em troca de propina. O caso motivou a abertura da CPI.
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O depoimento foi marcado por negativas. Ademirson afirmou nunca ter negociado com Buratti, Poleto e Barquete os termos da renovação do contrato entre a Caixa Econômica e a GTech. Negou ainda ter feito qualquer negócio ilícito. Mas os integrantes da CPI disseram que os sigilos telefônicos levam a comissão a desconfiar das declarações do assessor de Palocci.
Pelos dados, no dia em que seria renovado o contrato entre a CEF e a Gtech, Buratti telefonou para Ralf Barquete que, oito minutos depois, ligou para Ademirson. No total, foram 14 ligações. "É impossível que o senhor não esteja nesta triangulação que está sendo mostrada. O que sinto é que o senhor terá de voltar a esta CPI com outros companheiros", afirmou o presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB).
Já o senador Tião Viana (PT-AC) disse que as afirmações de Ademirson coincidem com suas responsabilidades como assessor da Fazenda. O depoente disse, no início do depoimento, que cuida apenas da agenda do ministro e anota telefonemas destinados a Palocci. "Na minha opinião, ele foi convincente", disse.
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