Eduardo Militão
Um dos três réus acusados de armar um golpe nos empréstimos consignados da Câmara dos Deputados disse à Justiça nesta segunda-feira (5) que nunca recebeu nenhum centavo do produto dos crimes dos quais é suspeito. O hoje desempregado Marcelo Raimundo da Silva, 31 anos, foi denunciado por estelionato junto com Madson Luís de Lima Bentes e Francisco da Costa Cunha Júnior. Apesar disso, o suspeito disse que sabia estar envolvido em uma fraude.
Todos os três tinham alguma ligação com o gabinete do deputado Nilson Pinto (PSDB-PA). O parlamentar não foi arrolado no processo. Em 2006, a Polícia Legislativa da Câmara prendeu em flagrante Madson, Raimundo e Costa.
Segundo as investigações, eles faziam parte de uma quadrilha de estelionatários que fraudava documentos de servidores da Câmara para obterem empréstimos consignados em bancos conveniados à Casa. Até contracheques de funcionários falecidos eram usados para simular altos salários, o que permita financiamentos mais altos, que nunca eram pagos. O golpe causou prejuízo de R$ 350 mil às instituições financeiras:
O TAMANHO DAS FRAUDES
Fonte: Inquéritos 6, 8, 12 e 13/06 da Polícia Legislativa da Câmara
Acusado
Banco
Valor
Madson
GE Capital
53.620,22
Costa
GE Capital
27.454,78
Émerson
GE Capital
50.010,00
Costa
Alfa
48.510,00
(não informado)
Alfa
54.285,28
Raimundo
BGN
63.867,60
Raimundo
Santander
51.367,14
TOTAL
R$ 349.115,02
No depoimento da tarde desta segunda-feira, Marcelo Raimundo afirmou à juíza Geilza Cavalcanti Diniz, da 2ª Vara Criminal de Brasília, que passava por uma situação difícil à época dos fatos. Mas Émerson Assunção Silva – que acabou assassinado posteriormente – ofereceu-lhe ajuda. Era um empréstimo, mas Raimundo não precisava pagar nada.
“Que [Émérson] apresentou Madson ao interrogando, dizendo ainda que o interrogando não precisaria pagar o empréstimo”
Raimundo ainda afirmou estar ciente de que se tratava de uma tramóia. “Que quando fez o contato com Emerson tinha consciência de que eles iriam praticar uma fraude”, disse no depoimento. Apesar disso, o acusado afirma que não teve nenhum benefício e não recebeu nenhum centavo do golpe.
“Que Madson lhe disse que tinha facilidade para conseguir o empréstimo porque trabalhava na Câmara; que não chegou a receber qualquer quantia; que segundo Emerson, o dinheiro seria depositado na conta do interrogando, mas isso não chegou a ser feito”
Não apareceu
A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Distrito Federal disse que um dos réus não foi ouvido porque simplesmente não apareceu na audiência. A reportagem apurou que se trata de Madson. O outro réu, Francisco da Costa Cunha Júnior vai ser ouvido em Belém (PA) pelo Tribunal de Justiça do Pará.
Depois que a juíza Geilza Diniz receber por escrito o depoimento de Costa, vai dar a sentença do trio. Se forem condenados por estelionato, podem pegar de um a cinco anos de cadeia mais multa. Entretanto, a pena pode ser reduzida em até dois terços ou ser limitada ao pagamento da multa caso os danos sejam considerados pequenos.
Também foram ouvidos hoje funcionários da Polícia Legislativa da Câmara e do departamento de pessoal da casa e uma gerente de um dos bancos lesados.