“Se alguém traiu alguém, eu pergunto a vocês: quem traiu quem? Eu saí do Partido dos Trabalhadores por alguns motivos: pela traição do partido aos princípios pelos quais eu ingressei nesse partido”, defendeu-se ela.
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Marta deixou a legenda no mês passado, momento em que o PT enfrenta desgaste ético, por conta das denúncias da Operação Lava Jato, e programático, em razão das alterações de direitos trabalhistas incluídas no pacote de ajuste fiscal. Diante da crise, o partido argumentou que as justificativas de Marta não passavam de “demagogia mal disfarçada”.
“Apesar dos motivos enunciados em sua carta de desfiliação – um arrazoado de justificativas infundadas, enviado à imprensa antes mesmo de ser enviado ao PT – as reais razões da saída se devem à ambição política da senadora e a um oportunismo eleitoral”, diz a ação.
Em seu discurso, Marta rebateu os argumentos do PT, primeiro, enumerando-os: “E o que disse como argumento? Que eu sou uma oportunista, que eu estou querendo sair do Partido dos Trabalhadores porque quero ser estrela, porque quero ser prefeita, e vários outros argumentos da mesma ordem”. Depois, afirmou que não faria parte da traição de bandeiras que ela própria ajudou a criar.
Ainda direcionou suas críticas às condutas administrativas da presidenta Dilma. Segundo a senadora, o governo provocou um “desarranjo total” e foi incapaz de pedir desculpas ao povo brasileiro pelos erros cometidos na política econômica do país. As consequências dos erros, garantiu a senadora, será um preço que todos irão pagar, principalmente a classe trabalhadora.
Confira a íntegra do discurso de Marta Suplicy:
“Prezado Presidente, obrigada pela deferência.Caro Senador Humberto, caros Senadores e Senadoras, hoje o Partido dos Trabalhadores requereu, na Justiça Eleitoral, o meu mandato. E o que disse como argumento? Que eu sou uma oportunista, que eu estou querendo sair do Partido dos Trabalhadores porque quero ser estrela, porque quero ser prefeita, e vários outros argumentos da mesma ordem. Além disso, que é um partido que me acolheu generosamente e que eu traí.
Primeiro, o PT não me acolheu, não. Eu ajudei a construir esse partido durante 35 anos. E esse Partido tem bandeiras hoje que foram construídas muito também com o meu esforço, a minha contribuição e a minha determinação em fazer com que elas acontecessem. Eu digo bandeiras simbólicas, mas também bandeiras concretas, que hoje o Partido apresenta em seus programas eleitorais. Se alguém traiu alguém, eu pergunto a vocês: quem traiu quem? Eu saí do Partido dos Trabalhadores por alguns motivos: pela traição do Partido aos princípios pelos quais eu ingressei nesse Partido. Por isso, eu saí do Partido dos Trabalhadores.
Princípios éticos – hoje basta abrir a página do jornal para ver no que o Partido está envolvido – e princípios programáticos – e o dia de hoje aqui é o maior exemplo. O Partido dos Trabalhadores hoje trai a sua essência, a sua criação, a defesa do que se portou, do que se batalhou a vida inteira.
Eu não faço parte disso. Eu não faço parte disso e não sou eu que estou traindo. Não sou eu que estou traindo esses princípios. Quem traiu esses princípios foi o Governo também, o Governo de quatro anos que acabou com a economia brasileira, que criou uma catástrofe, um desarranjo total, que foi incapaz de pedir desculpa ao povo brasileiro e depois incapaz de propor um plano de reestruturação da economia destruída nos quatro anos que antecederam!
Isso que nós estamos aqui votando como ajuste não é um ajuste. Isso é uma correção de rumo, que foi necessária, que é preciso agora haver e que vai cair em cima dos trabalhadores, primeiro, por causa de erros crassos, por falta de habilidade política, por falta de humildade de pedir desculpas ao povo brasileiro e de pedir a união desse povo brasileiro para conseguir sair do lugar onde hoje nós estamos e que está sendo tão difícil – todos vão pagar –, principalmente para a classe trabalhadora.
Então, eu quero dizer: caros Senadores e Senadoras, hoje aqui, cada um que está votando, cada um que ponha a mão na consciência e pense um pouco para que vai servir esse ajuste. Ele vai, por acaso, mudar a situação que nós temos? Porque nós não temos um plano. Foi chamado o Ministro, na Comissão de Economia, para nós ouvirmos o plano. Que plano nós ouvimos? Ia ser, segundo o Senador Calheiros, o Plano Levy. Eu lembro do seu entusiasmo, Senador: o Plano Levy. Onde está o Plano Levy?
Nós vemos o Plano Levy brigando com o Plano Barbosa, brigando com o Plano Mercadante, brigando com o Plano Dilma, brigando com os trabalhadores, brigando com os banqueiros e brigando com os empresários. Quem apoia esse Governo? Isso é uma pergunta também.
E eu quero continuar falando a cada um de vocês que agora vão votar.Nós temos que ter hoje uma atitude que permita que isso não caia nas costas do trabalhador brasileiro. Porque eu posso imaginar como estão os grandes líderes desse Partido se sentindo hoje: precisa fazer, precisa ter que fazer, precisa ter que ajustar, a situação é tremenda. Mas eu fui muito tempo dessa Bancada do Partido dos Trabalhadores e sei muito bem a dor que cada um, hoje, sente. Mas o pior é que é uma dor para nada, porque na confusão que esse Governo está, eu não sei do que vai servir votar essa questão hoje de forma positiva.”
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