Réu por peculato no Supremo Tribunal Federal (STF) e respondendo a mais de dez inquéritos por várias denúncias de corrupção, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), resolveu reagir e sair da defensiva, antecipando em quase dois anos sua campanha eleitoral para tentar se reeleger em 2018. Com movimentos calculados, o senador identificou seus adversários em Alagoas e escolheu os temas que podem turbinar sua pretensão de voltar ao Congresso: é contra o projeto da terceirização de mão de obra e rejeita as reformas da Previdência e trabalhista propostas pelo governo do presidente Michel Temer, seu antigo aliado e dirigente máximo licenciado de seu partido.
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Na quarta-feira (5), Renan acelerou sua campanha e atropelou seu próprio partido. Depois de indicar oficialmente a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) para presidir a prestigiosa comissão de Orçamento e os colegas Valdir Raupp (RO), Kátia Abreu (TO) e Raimundo Lira (PB) para compor o colegiado, o líder da maior bancada no Senado, com 22 parlamentares, cancelou o ato em retaliação às reações negativas da bancada às suas críticas abertas a Temer e ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
“Fiz um comentário no plenário que ele não poderia criticar o governo daquela forma sem consultar os demais membros da bancada. O Michel (Temer) pode errar, mas não cabe neste momento criar um confronto”, disse Rose de Freitas. Ao cancelar a indicação da senadora Rose para presidir a Comissão Mista de Orçamento (CMO), ao mesmo tempo o líder do PMDB se afasta ainda mais do governo e aborta uma manobra dos seus principais adversários políticos no Estado – o senador Benedito de Lira (PP) e seu filho o deputado Arthur Lira (PP) –, que indicaram o deputado Cacá Leão (PP-BA) para a relatoria do colegiado.
Entre os pares
O próximo confronto que Renan vai encarar será na terça-feira, dia da reunião da bancada do PMDB. A maior bancada de parlamentares no Senado vai decidir se acompanha o líder e o apóia no confronto com o PP dos seus adversários locais ou rejeita engrossar a sua campanha eleitoral antecipada. “O PMDB como um todo não pode se envolver nestas questões locais e comprometer a base do governo”, comentou um senador do partido.
Renan vai coordenar a reunião da bancada de senadores do PMDB disposto a se afastar ainda mais do Palácio do Planalto em direção a oposição. Mas sabe que não terá o apoio que imagina. Ele conta com os senadores Edison Lobão (MA), João Alberto (MA), Hélio José (DF) e Kátia Abreu (TO), esta ministra da Agricultura do governo Dilma Rousseff e também crítica ao governo Temer. Os maranhenses obedecem ao ex-presidente José Sarney e Hélio José é uma incógnita.
Há dias semanas Renan mandou recados a Temer. Disse que não queria e nem participava do governo com indicação de cargos. Esquentou as declarações quando declarou ter rompido com o governo de Eduardo Cunha, insinuando que o presidente cassado da Câmara e hoje preso me Lava Jato mandava na gestão Temer e que o governo perecia a medíocre seleção do Dunga. O senador chamou o governo de “errático” e disse que Temer não sabia para onde ir. Recebeu respostas igualmente duras.
Estratégia
Quando foi escolhido líder da bancada Renan ainda estava na presidência do Senado e sua eleição foi resultado de um acordo com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e Romero Jucá (PMDB-RR). Mas agora Renan perdeu poder. O acordo interno que o levou à liderança evitou que seus adversários Benedito de Lira e seu filho Arthur Lira ganhassem poder e cargos de órgãos federais em Alagoas. Também não impediu que Temer mantivesse Maurício Quintela Lessa, como ministro dos Transportes, ex-deputado do PR e aliado dos adversários de Renan, o que desagradou ainda mais o líder.
Renan não aparece bem em várias pesquisas pré-eleitorais. O risco de derrota é elevado e os adversários dele e do filho governador são conhecidos. Experiente na política – ex-deputado de vários mandatos e duas vezes presidente do Congresso, ex-ministro da Justiça do governo Fernando Henrique –, Renan escolheu os temas da campanha e detectou a rejeição no Nordeste das reformas da Previdência e Trabalhista para escolher suas bandeiras da campanha antecipada. E estas bandeiras são as mesmas da oposição e, especificamente, do ex-presidente Lula.
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