Hoje faremos um exercício mental. Imagine-se em pleno centro de qualquer capital de estado brasileira. Qualquer uma. Em um dia útil, e sob a luz do sol. Aliás, quanto mais claro o dia, melhor – tudo fica mais visível sob o brilhar da luz intensa.
Contemple, agora, a sede do Poder Judiciário local. Um Tribunal de Justiça, repleto de brasões e insígnias. Acompanhe, então, um Oficial de Justiça, em sua missão de intimar alguém. A apenas 3 km daquele vetusto prédio, ele só conseguirá cumprir seu mandado, pleno de expressões como “Excelência” e “determina”, após negociar com traficantes portando fuzis pelas ruas.
Lance seu olhar a uma Secretaria de Educação. Nela planeja-se a formação da geração que nos sucederá. Pois é. E a 3 km dela as escolas e seus professores estão sob as garras de criminosos, que não raramente decretam “toque de recolher” quando algum comparsa morre trocando tiros com policiais.
Falando em policiais, contemple uma Delegacia de Polícia. Prédio austero, decorado por distintivos. Enquanto isso, a 3 km dele, os agentes da lei só podem transitar pelas ruas se em grupo e pesadamente armados, como que para um conflito – inclusive, em alguns locais, somente a bordo de um tanque de guerra.
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Olhe, finalmente, para algum fino bairro residencial. Maravilhe-se com os prédios modernos, símbolo de progresso e pujança. Ofusque sua vista com o brilho das fachadas de vidro sob a luz do sol – mas que sua cegueira não o impeça de ver o pânico dos moradores, materializado em grades e alarmes, diante da audácia de criminosos gerados a apenas 3 km de suas residências.
O mais incrível é que tudo isso acontece à luz do dia. Às claras. Cotidianamente. E todo mundo sabe disso – só não quer conversar sobre isso, preferindo encontrar conforto na “sensação de segurança” dos muros e barreiras policiais montadas “do lado de cá” e na aparência de um falso progresso. Afinal, como filosofava Victor Hugo, “as ilusões sustentam a alma como as asas a um pássaro”.