O empresário Abel Pereira e o ex-ministro da Saúde, Barjas Negri, têm mais chances de serem indiciados por tráfico de influência do que pela participação no escândalo do dossiê Vedoin. Essa foi a principal conclusão de um destacado integrante da CPI dos Sanguessugas, que pediu para não ser identificado, após o depoimento de Pereira nesta quinta-feira (23).
A raiz dos problemas do empresário e do ex-ministro é uma reunião no Ministério da Saúde entre ambos e o prefeito do município de Jaciara (MT), Valdizete Martins Nogueira. O encontro, no dia 11 de julho de 2002, serviu para a celebração de um convênio entre a prefeitura e o Ministério da Saúde para a construção do primeiro hospital público da cidade.
A obra foi orçada em R$ 495 mil e, segundo o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), não houve licitação e a única empresa habilitada para o certame foi justamente a Cicate, construtora do empresário Abel Pereira. A última liberação dos recursos para obra, de acordo com os dados da comissão, foi feita no dia 24 de dezembro de 2002.
Ao ser questionado pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC), Pereira disse que se sentia a vontade de participar da obra porque já tinha uma "infra-estrutura" de obras na sua fazenda, que também está localizada em Jaciara. "Meio milhão em meio ano e ele ainda ganhou a concorrência", destacou a senadora petista.
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Quando esteve na CPI no último dia sete, Negri (PSDB), atual prefeito de Piracicaba (SP), apresentou uma versão confusa para explicar o seu relacionamento com Abel Pereira. O empresário é acusado de tentar negociar a compra de informações sobre a máfia das sanguessugas com o também empresário Luiz Antonio Vedoin. O ex-ministro se limitou a dizer que "o Abel é empresário de Piracicaba e eu sou prefeito, preciso ter articulação com os empresários do município." E completou: "Não tenho relação estreita com ele."
Mas sobre o caso de Jaciara, Negri negou que a liberação dos recursos com a intermediação do empreiteiro e conterrâneo possa lhe causar qualquer problema. "Mas isso não é nenhum pecado. Pecado é ter caixa-dois. O meu está declarado", disse tentando alfinetar os petistas na comissão.
No mesmo depoimento, o ex-ministro se confundiu outra vez na hora de explicar uma doação da Cicate para sua campanha em 2004. No primeiro momento, negou ter recebido recursos das empresas de Abel Pereira, mas, confrontado com sua própria prestação de contas, vacilou: "Alguma empresa dele contribuiu, mas não sei ao certo qual". Nesta quinta-feira (23), Pereira confirmou que fez doações de R$ 15 mil de pelos três empresas de sua propriedade.
O integrante da CPI que falou ao Congresso em Foco também acredita que o empresário possa ter sido usado pela família Vedoin para "cacifar" a venda do dossiê para os petistas ligados à campanha de reeleição do presidente Lula.
Segundo os Vedoin, Abel teria recebido, como parte das propinas em troca das liberações no Ministério da Saúde junto a Bargas Negri, R$ 601 mil em 15 cheques ao portador. Os recursos, segundo Luiz Antônio Vedoin, teriam sido depositados nas contas de empresas indicadas por Pereira. A CPI conseguiu cópia de apenas nove desses cheques repassados até agora pela Polícia Federal.
O relator da comissão, senador Amir Lando (PMDB-RO), pediu, após o depoimento do empresário, cópia dos outros cheques e do verso dos comprovantes onde estariam impressas as indicações de depósito. A comissão também trabalha com a suspeita de que os mesmos cheques possam ter sido compensados em um factoring ligada ao empresário. Trata-se da Money Credit, cuja um dos sócios é a esposa de Pereira, Raquel Aparecida. (Lúcio Lambranho)
Abel diz que Vedoin ofereceu dossiê contra petista
O empresário Abel Pereira reafirmou hoje (23) que se encontrou com Luiz Antônio Vedoin, líder do esquema dos sanguessugas, em agosto deste ano no shopping Iguatemi, em São Paulo. Ele disse que no encontro Vedoin ofereceu um documento que poderia comprometer a campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo.
Segundo Abel Pereira, Vedoin pediu que fosse levada à cúpula do PSDB um dossiê contra o senador. Apesar da oferta, ele não aceitou a proposta e disse que não tinha contato nenhum com integrantes do PSDB. "Ele disse que o senador interveio na liberação de verbas [para a compra superfaturada de ambulâncias] e pediu que eu procurasse alguém do PSDB", afirmou.
O depoente também declarou que o único contato com Barjas Negri foi ter levado o prefeito de Jaciara (MT) a um encontro com o então ministro para que fosse realizado um convênio de construção de um hospital público na cidade. A empresa que fez a construção do hospital era de propriedade de Abel Pereira.
Nessas primeiras duas horas de depoimento, o depoente nega que tenha intermediado qualquer tipo de repasse financeiro para a família Vedoin. Neste momento, o sub-relator da CPI, Fernando Gabeira (PV-RJ), terminou sua argüição. Agora, o vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), faz alguns questionamentos a Abel Pereira. (Tarciso Nascimento e Lúcio Lambranho)
Abel Pereira nega ter feito lobby para Vedoin
O empresário Abel Pereira negou veementemente hoje, em seu depoimento, que tenha intermediado qualquer tipo de repasse financeiro para a família Vedoin, mas confirmou que empresas suas e de seus familiares doaram R$ 15 mil para a campanha de seu amigo e ex-ministro da Saúde no governo FHC Barjas Negri.
Abel Pereira declarou que a doação para a campanha eleitoral de Negri foi feita em 28 de setembro de 2004, com todas as notas contabilizadas. Ele admitiu que conheceu Barjas Negri em Piracicaba e disse que não se relacionava com Negri durante sua gestão na pasta da Saúde.
O depoente, que é empresário em Piracicaba (SP) e atua no ramo de terraplanagem e construção civil, é apontado pelo empresário Luiz Antônio Vedoin, líder do esquema dos sanguessugas, como o elo entre a máfia das ambulâncias e o PSDB. (Tarciso Nascimento)
CPI convidará ministros e o presidente do TCU
A CPI dos Sanguessugas convidará os ministros do Planejamento, Paulo Bernardo, e da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, para discutir propostas com o objetivo de encontrar mecanismos para que fraudes na liberação de emendas do Orçamento sejam evitadas.
Além dos ministros, o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Guilherme Palmeira prestará depoimento. O relator da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), quer sugestões sobre mudanças no Orçamento que possam ajudar no controle e eficiência dos recursos públicos da União.
"É uma proposta do relator para o controle eficaz do Orçamento, com o objetivo de evitar que episódios como esses [da máfia dos sanguessugas] se repitam ciclicamente", declarou o presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ).
De acordo com reportagem de Gabriela Guerreiro, da Folha Online, a CPI pretende marcar a audiência com os ministros e o presidente do TCU para o último dia de trabalhos da comissão, em dezembro. Como os ministros e Palmeira serão convidados a comparecer à comissão, eles podem negociar a data do depoimento ou até mesmo negar o convite. (Rodolfo Torres)
Militão nega envolvimento com sanguessugas
Acusado pela CPI dos Sanguessugas de utilizar suas emendas ao Orçamento para beneficiar o esquema de compra de ambulâncias superfaturadas para prefeituras, o deputado José Militão (PTB-MG) negou ontem, em depoimento no Conselho de Ética da Câmara, que tenha recebido qualquer comissão do grupo Planam para apresentação de emendas.
Ele observou que, dos sete municípios listados pelo sócio da Planam Luiz Antônio Vedoin, como beneficiados por emendas do deputado, apenas em Borda da Mata a empresa venceu a licitação. Segundo o parlamentar, os equipamentos foram destinados ao Lar Irmã Maria Augusta. "Nem sei quem são os dirigentes do hospital", disse Militão. (Tarciso Nascimento)
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