João Luiz Fonsenca dos Santos e José Rodrigues Filho *
Os jovens, na atual conjuntura, em busca de verdades e utopias, exigem uma ruptura urgente da sociedade brasileira, como se não houvesse amanhã, quando se observa que a voz das ruas é contaminada pelas passeatas. Perceberam que os políticos acreditavam mais em regras do que em princípios. Agora restam somente os movimentos de ruas para compor e recompor novos desafios. Não é um software que baixaram das redes sociais e instalaram para criar uma solução da crise do envelhecimento da política, diante do silêncio e incompreensão dos poderes públicos. De repente, deixam que as ruas possam decidir o mundo carregado de sonhos, na paisagem que trazem os inúteis disfarces de partidos políticos, adversos da representatividade das culturas de diferenças. O quadro parece não ter vida, diante de tanto descuido das feridas sociais, que deixaram cicatrizes para alimentar a ilusão de democracia, fora da zona de conforto da realidade social. Os jovens sepultam o falso, percebem que existe um destino, mas nenhum caminho, mesmo que a irracionalidade apele para ilusão como ideia de felicidade.
O conservadorismo e envelhecimento dos partidos políticos insistem em sedimentar as vantagens sociais com alternativas absurdas, entrando na ordem social de educação e legitimando a exclusão, usando o recurso da ilusão das várias copas como o circo dos romanos e os supérfluos das despesas superfaturadas na construção das arenas futebolísticas. Não existe preferência para lidar com as crises e aprender com elas. Com palavras de mudanças e bandeiras, os jovens, querem ordenar as coisas da vida com ajuda de uma mão segura, conectado a uma realidade que não seja silenciosa. Em resumo, a juventude procura uma saída num ciclo infinito de protestos, que silencia todos os poderes. Vai acontecer algo na sociedade brasileira?
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Ao apresentarem o novo, os jovens guardam seus sonhos e emoções nos cartazes, com visões de lisuras, de angústias para debater as irrealidades disfarçadas em progressos. Percebem, contudo, que muitas vezes os noticiários deformam a realidade e não revelam o desacerto das tramas ineficientes do jogo do cotidiano político, que legaliza o inaceitável, colocando em pauta os espíritos do grupo e o silêncio ausente das demandas da massa. Será que poderemos construir uma democracia com os partidos políticos que aí estão? Como elaborar uma reforma política que venha criar e fortalecer verdadeiros partidos políticos e não legendas de alugués? E os mensalões e enrequecimento ilícito de muitos gestores públicos e seus familiares? Em nome da democracia, deveremos tolerar a corrupção existente no país?
A voz alta é muda quando se quer tirar vantagem de qualquer coisa que aconteça. Naturalmente, todos os cupins sociais vão roendo nossa confiança em silêncio e incansavelmente, até que ela de repente desaba no pó, sem que os agentes sociais permitissem identificar as suas reais necessidades. Vivemos em tempos cínicos, quando se percebe que a grande vitória é aumentar a pressão pela obediência e, ao mesmo tempo, elevar a consciência dessas obediências. Na exuberância de maldades dos atos políticos ainda sobram sonhos de uma massa que segue sozinha, amortalhando ilusões e argumentos, querendo fugir para deixar de ser disfarce, contendo a atrofia e experiência de desejos verdadeiros, sentimentos de paraísos perdidos em buscas de medidas para o distanciamento da inquietude sem fim. Num país com inúmeros partidos políticos, para onde caminha esta massa desassistida?
O pronuncimanto da presidenta Dilma Rousself deixou claro que existe uma grande fenda entre o discurso político e os desejos desta massa desassistida. As exigências não parecem ser muitas. Acabar com a corrupção vergonhosa e acintosa e destinar estes desvios indevidos em educação, saúde e segurança. Em resumo, esta massa desassistida não está exigindo muito, a não ser um mínimo de ética política e garantias de seus direitos humanos, já garantidos pela constituição brasileira. Se os poderes constituídos e os partidos políticos não tiverem condições de levantar esta bandeira, todos igualmente, e oferecer isto a sociedade brasileira, que no momento tem a sua voz ouvida no mundo inteiro, depois de centenas de anos, estaremos diante de tamanha vil torpeza, vivendo nos piores dos mundos, onde o cinismo dos poderes públicos continua disfarçando o seu apodrecimento.
Publicidade* João Luiz Fonseca dos Santos é professor da Universidade Federal da Paraíba. Foi pesquisador e professor nas Universidades de Aix-en-Provence e Sorbone, na França.
* José Rodrigues Filho é professor da Universidade Federal da Paraíba. Foi pesquisador nas Universidades de Harvard e Johns Hopkins (EUA).