Luiz Rogério Costa *
Vivemos dias atípicos. Aos 52 anos de idade, tenho me surpreendido com a forma aguerrida com a qual nós, brasileiros, temos nos posicionado no campo da política e em relação à correta condução do país.
Ter e defender posições, especialmente em relação aos aspectos políticos e sociais do nosso país, é algo salutar. Em um passado nem tão distante, lembro-me de achar que havia demasiada alienação em relação a assuntos que deveriam ser de interesse de todos.
Agora tudo mudou. No trabalho, no restaurante, no barbeiro, na recepção dos consultórios médicos, à menor menção de um acontecimento no campo da política – ou mesmo durante a simples veiculação da imagem de um político – os comentários surgem de pronto. Normalmente, pronunciam-se aqueles espectadores que são contra: “devia estar preso”, “comunista”, “fascista”, “ladrão”, “golpista” e por aí vai.
Enfim, como já disse, tudo mudou, porém não me parece que para melhor. Vejo que, atualmente, muitas pessoas buscam se entrincheirar em suas posições, alvejando mortalmente qualquer consideração vinda da trincheira contrária e, por consequência, qualquer possibilidade de racionalidade ou de mínimo consenso.
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E é assim que os diferentes começam a se parecer, semelhantes que se tornaram na incapacidade de ouvir opiniões contrárias sem preconceitos, ou na absoluta inaptidão a conciliar ideias.
PublicidadeTambém eu, admito, sou titular de teimosias, certezas e verdades – não necessariamente no campo da política – mas, ainda assim, me impressiono com a incapacidade reinante de se focar no consenso, na ausência do desejo de se buscar uma base comum, na firme postura de evitar qualquer empatia.
Há outra novidade: se no passado a praça pública foi o ponto de encontro das pessoas e, consequentemente, o local de debate entre as diferentes opiniões e conceitos, agora é a tecnologia que faz colidirem – sim, colidirem, pois atualmente não se trata mais de debates, mas de embates – as visões divergentes sobre políticos, política e as soluções para um Brasil melhor.
As manifestações na internet correspondem à face mais visível dessa nova forma de se comunicar. Lá preponderam o desprezo pela ideia alheia, o tom jocoso, a discordância imotivada. Mas é também na intimidade do nosso smartphone que nos deparamos com as diferentes opiniões sobre a mesma coisa, isso graças ao poderoso Whatsapp.
Uma manifestação contrária entre grupo de amigos pode gerar um desagradável e prolongado duelo de palavras entre pessoas que até então só haviam encontrado afinidades em seu relacionamento.
Recentemente, recebi mensagens quase simultâneas de dois antigos colegas de trabalho. Duas pessoas íntegras e bem-intencionadas, não tenham dúvidas. O primeiro, sujeito sério, carola, me enviou mensagem em que um religioso ataca uma emissora de televisão em virtude das mensagens que veicula, as quais, supostamente, pregariam a destruição das famílias. A conclusão? Boicotem a emissora.
Em seguida, o outro colega, que privilegia uma visão mais à esquerda do mundo, manda uma mensagem em que um religioso ataca a mesma emissora pelo fato de, supostamente, tentar manipular a mente do povo brasileiro. A conclusão? Boicotem-na e não renovem a concessão da emissora.
É como já disse: os diferentes começam a se parecer, pois buscam a mesma solução, ainda que após percorrerem caminhos diferentes. Se buscassem os pontos de identificação, talvez tivessem mais chance de sucesso. E aí, diante do radicalismo de suas conclusões, eu começo a ficar confuso: será que vale a pena uni-los?
* Luiz Rogério Costa é administrador de empresas e servidor público federal.