André Rafael *
A necessidade de tornar a carreira de professor da educação básica mais atrativa é reconhecida pelo governo e pela sociedade civil. Em razão disso, diversas ações têm sido tomadas, com destaque para a elevação do piso salarial.De fato, conforme a tabela abaixo extraída de estudo realizado pelo INEP, a remuneração do professor está cada vez mais próxima da remuneração de profissionais com escolaridade semelhante.
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Afirmar isso, no entanto, não é o mesmo que afirmar que a trajetória esperada de reajustes para a carreira docente será suficiente para atrair professores com o perfil adequado para a profissão.
Estudo realizado pelo iDados aponta que grande parte dos alunos de pedagogia e licenciatura advém de classes baixas, tendo também desempenho acadêmico inferior aos alunos de outras graduações. Além disso, há evidências de que poucos pais estão encorajando seus filhos a serem professores.
Não bastasse isso, o atual cenário social parece exigir uma profunda transformação do ambiente escolar. Nesse sentido, estudo do Instituto Inspirare mostra que os alunos querem uma escola diferente, assim como estudo do World Economic Forum indica que o mundo requer uma escola diferente.
Novos conhecimentos, habilidades e atitudes são requeridos, o que implica na necessidade de formarmos um novo perfil de professor.
Qual remuneração esse futuro professor deve receber? Não está claro. De um lado, há quem apresenta dados mostrando que o salário do professor brasileiro é bem abaixo do salário auferido em países avançados.
De outro lado, é fato também que o salário médio do professor na Europa é pouco acima da renda per capita da população, parâmetro que já foi ultrapassado no Brasil.
Essa última informação parece estar em linha com a própria visão dos professores. Conforme os resultados da Prova Brasil 2015, a maioria dos professores considera que o nível de aprendizagem dos alunos é mais impactado pelo meio social dos estudantes do que pela “baixa” atratividade da carreira de professor.
Tendo isso em vista, parece-nos que a mera elevação do salário dos professores está longe de ser medida suficiente para melhorar o nível educacional da sociedade brasileira.
Tão ou mais importante é a adoção de medidas para aumentar a renda familiar do aluno e valorizar o meio social em que ele vive.
Fonte: http://dataviva.info/pt/major/146F05/enrollments
Precisamos urgentemente romper a profunda desigualdade social que impera no Brasil.
Fonte: DataViva
Por esse ângulo, o problema fundamental não é quanto o professor ganha. O que precisamos resolver, de fato, é a desigualdade salarial existente no país. As carreiras de elite do serviço público e do setor privado ganham dezenas de vezes mais do que a renda familiar dos professores e dos alunos.
Nos países avançados essa diferença é muito menor. Em geral, um juiz europeu ganha de duas a três vezes mais que a média do trabalhador europeu comum. Aqui no Brasil, o juiz ganha 23 vezes mais.
Tendo isso em vista, consideramos que a medida mais urgente para valorizar o aluno e o professor é o ajuste das remunerações relativas da sociedade.
Para tanto, além de continuar aumentando o piso salarial dos professores, precisamos de uma reforma tributária que desonere a cesta de consumo da famílias, ao mesmo tempo em que aumente a alíquota marginal dos impostos sobre patrimônio e renda da camada mais abastada da sociedade brasileira.
Esse caminho já foi trilhado pelos países avançados.
Agora é hora de o Brasil mostrar que está disposto a aprender. Os professores precisam refletir sobre esse assunto, em conjunto com a comunidade escolar.
Precisamos tomar decisões urgentes.
A sinalização de um novo patamar remuneratório para professores e pedagogos é essencial para atrairmos mais talentos para essas profissões. Já a reforma tributária é fundamental para rompermos os efeitos perniciosos do excesso de desigualdade social.
Com essas medidas, daremos passos firmes em direção da oferta de uma educação de excelência para todos os brasileiros.
* Co-idealizador do Projeto Brasil 2030, André Rafael é especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental.