Roseann Kennedy *
Com a agenda centrada no Nordeste, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, tentou sugar o máximo de transferência da popularidade do presidente Lula e dos governadores aliados na região esta semana. Adotou tom semelhante ao de seu mentor e pediu votos acusando o adversário de ignorar os nordestinos.
Num discurso em Fortaleza, por exemplo, Dilma disse que domingo o eleitor vai escolher entre “um que sempre deu as costas para o Nordeste e outro que sempre valorizou esta região”. A provocação ao presidenciável José Serra continuou em Caruaru, no agreste pernambucano, onde Dilma fez um trocadilho com o nome do tucano para afirmar que há dois projetos na disputa eleitoral: um para o Brasil seguir em frente e outro para voltar ao passado e “descer Serra abaixo”.
A penetração da, até meses atrás, desconhecida candidata junto aos eleitores nordestinos é hoje surpreendente na região. Em Caruaru, por exemplo, assisti à maior carreata desde o início desta campanha. A população foi às ruas para acompanhar o ato político por quase três horas, num percurso de mais de cinco quilômetros.
Identificação da candidata com a região, sinceramente não percebi nenhuma, impressão confirmada na declaração de muitas das pessoas às quais perguntei: “Por que você vai votar em Dilma?” e “o que você conhece da história política de Dilma?”. As respostas foram quase uníssonas e limitadas a “ela é a mulher do Lula”.
Na terra do presidente Lula, onde ele ganhou em 2006 com quase 80% dos votos e onde o atual governador aliado do governo tem a maior popularidade do país, tendo sido eleito em primeiro turno com a maior votação proporcional do Brasil (quase 83%), essa associação basta.
O governador, frente à popularidade que tem, adota postura semelhante ao presidente Lula para tentar alavancar a candidatura de Dilma no estado. Eduardo Campos parece ignorar o horário de serviço para fazer campanha eleitoral. Faz atos no Recife no meio da semana mesmo sem a candidata. Largou o Palácio do Campo das Princesas em plena tarde de terça-feira para fazer carreata no agreste e chegou até a transferir o feriado do Dia do Servidor Público de 28 de outubro para a segunda-feira que passou, numa tentativa de evitar que as pessoas estiquem o feriadão no próximo fim de semana e se abstenham de votar.
E por que tanto empenho político? Eduardo sabe que é mais fácil administrar um estado alinhado com o governo federal. Surfou em facilidades do presidente Lula nos últimos quatro anos, o que lhe rendeu a votação estrondosa deste ano. Quer continuar navegando em mares favoráveis nos próximos quatro. Fora isso tudo, é notória a vontade do governador de mostrar cacife político e simpatia do presidente Lula. À boca miúda, a explicação entre interlocutores políticos vai além: ele também sonha, um dia, ser candidato à Presidência da República com aval de Lula.
* Repórter e comentarista da CBN, escreve esta coluna, exclusivamente para o Congresso em Foco, de segunda a sexta-feira.
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