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“O SR. DEMÓSTENES TORRES (S/Partido – GO. Para as alegações finais. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, Sr. Defensor, população de Goiás e do Brasil, o Direito tem algo caro para quem o estuda: não se julga a adjetivação, julgam-se os fatos. Chamar uma mulher de vagabunda é algo que a crucifica para o resto da vida. Como é que ela vai se defender? Como é que ela vai provar a sua honestidade? Como é que ela vai provar a sua honradez, se, desde o início, ela foi jogada no chão.
Aqui, senhores, eu me defendi de várias adjetivações. Fui chamado, pela imprensa, de bandido, pilantra, psicopata, braço político, desonesto, uma pessoa que tem dupla personalidade, que coloquei o meu mandato à disposição de uma quadrilha, que era um despachante de luxo.
PublicidadePor isso, senhores, os códigos, quaisquer códigos, desde o de Ética até o Código Penal, exigem que o fato seja devidamente explicitado. É o que se chama, em Direito Penal e Direito Civil, em qualquer direito, de fato típico. Está lá escrito no Código Penal. “Matar alguém. Pena de 6 anos a 20 anos”. Está escrito! Mas se um promotor escreveu: fulano de tal matou o outro, a denúncia é considerada inepta. Ela não vale nada. Cansei de fazer denúncias. Você tem que dizer assim: no dia tal, às tantas horas, no lugar “x”, fulano de tal, portando um revólver calibre tal, desfechou dois tiros que foram a causa suficiente da morte de fulano, atestado num laudo de exame cadavérico.
Faz-se o exame e o perito atesta que a morte se deu em decorrência daqueles tiros. Porque pode ter atirado na canela, ele caiu, um carro passa por cima e ele morreu.
Então, senhores, eu gostaria de me defender dos fatos. Desde o primeiro minuto eu vim aqui me defender dos fatos. Acusaram-me de cinco fatos. Primeiramente na representação, eu derrubei todos esses fatos. Depois, na peça inicial do Relator, vieram outros fatos, e eu os derrubei também. Até que, não tendo mais o que fazer, começaram a dizer isso e aquilo: é despachante de luxo, é braço político. Como vou me defender disso? É como acusar a mulher de vagabunda. Como é que ela se defende disso? Em tudo que ela disser está absolutamente equivocada.
Eu não quero aqui discutir legalidade de provas. Para mim, as provas aqui valem, embora elas não valham nada, porque elas não provaram nada contra mim. Essa é a grande verdade.
As acusações mais sérias que eu reputo, acusação de dinheiro: os R$3 mil. O perito provou – o perito provou! – e o Conselho de Ética não quis ouvir, que os R$3 mil tem alguém no fundo falando – e eu li isso aqui – e pede para eu cobrar do Cachoeira que ele está devendo R$3 mil para alguém. E é isso que eu faço. E é isso que o perito provou.
O R$1 milhão que estava na minha conta, o Procurador-Geral disse que estava na minha conta.
Eu entreguei meus extratos no período que ele pediu, e mais um ano, e o dinheiro não estava lá.
Quanto aos R$20 mil, o próprio Relator acabou de dizer aqui que é uma pilhéria, porque a pessoa diz que vai levar os R$20 mil para outra em Goiânia, e eu estava, naquele dia, em Brasília. O perito também mostrou essa trucagem.
Senhoras e senhores, o projeto que está na Câmara, que todos falam “o tal te pega”, já estava na Câmara quando eu entrei aqui, há quase dez anos. O projeto está na Câmara até hoje, quase dez anos depois, no mesmo estado em que se encontra. Basta olhar na Internet. O que eu fiz foi prestar uma informação, e errada, como disse o próprio Relator.
As provas não foram feitas. As provas periciais não foram feitas porque o processo era político, não era isso? Que, no processo político, basta julgar a pessoa pelo que nós entendemos que ela é. Não precisa de nada, de nenhum lastro.
O Supremo Tribunal Federal matou isso, jogou por terra, numa decisão por unanimidade, no ano de 2006, num mandado de segurança relatado por S. Exa. o Ministro Gilmar Mendes, no dia 1º de junho.
Diz o mandado de segurança:
O processo administrativo-parlamentar [é um processo administrativo] por quebra de decoro parlamentar instaurado contra deputado federal [e, logicamente, contra senador, porque as disposições da Constituição são as mesmas para deputado federal e para senador] encontra sua disciplina no Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados [e, consequentemente, do Senado] e no Regulamento do Conselho de Ética daquela Casa Legislativa, a partir do disposto nos incisos III e IV do art. 51 da Constituição, e se legitima perante o rol dos direitos e garantias fundamentais da Carta de 1988, quando seus dispositivos são fixados pela competente autoridade do Poder Legislativo e preveem ampla possibilidade de defesa e de contraditório, inclusive de natureza técnica, aos acusados.
O Supremo decidiu por unanimidade. A perícia tinha que ser feita. E por que é que a perícia não foi feita? Porque, segundo dizeres no próprio Conselho de Ética, era preciso ter pressa. Era preciso julgar rapidamente.
Eu quero dizer aos senhores: a pressa não significa absolutamente nada. Por várias vezes, o Sr. Relator e o Sr. Presidente disseram que a defesa tentava procrastinar o processo.
Eu quero lembrar aqui para V. Exas. um processo absolutamente ruidoso que aconteceu com o Sr. Relator.
Em 2004, diz a Folha de S. Paulo:
A Operação Vampiro foi uma ação da Polícia Federal, desencadeada em maio de 2004, que levou à prisão empresários, lobistas e servidores acusados de manipular compras de medicamentos para o Ministério da Saúde, então chefiado por Humberto Costa. O alvo principal da quadrilha era a compra de hemoderivados, daí a inspiração para o nome.
Em 2006, a advogada, brilhantíssima, do Dr. Humberto Costa diz o seguinte, em outra matéria do jornal O Estado de S. Paulo:
A advogada do ex-Ministro Humberto Costa, Marília Fragoso, acusou ontem o Procurador da República Gustavo Peçanha de ter agido de má-fé e sem nenhuma lógica jurídica na denúncia contra o petista.
Vejam que eu não tenho nem denúncia contra mim.
Em entrevista por e-mail ao Estado [aí veio o Procurador], Peçanha destacou que Costa não foi denunciado porque Luiz Cláudio [que era alguém que trabalhava dentro do Ministério] também o foi, mas porque as provas nos autos indicaram a sua participação. Há diálogos interceptados mediante autorização judicial [vejam a semelhança com o meu caso] que demonstram o envolvimento de Humberto Costa com diversos membros da organização criminosa e sua adesão aos crimes cometidos pela quadrilha.
Então, vejam o que disseram a respeito do Senador Humberto Costa.
Segundo a advogada dele, Marília, o ex-Ministro vai provar a sua inocência na Justiça.
E, em 2010, o jornal O Globo:
O Tribunal Regional Federal da 5ª Região absolveu, nesta quarta-feira, por unanimidade, o ex-Ministro da Saúde Humberto Costa das acusações de corrupção passiva e formação de quadrilha no escândalo da Máfia dos Vampiros, que desviou cerca de R$2 bilhões na compra de remédios superfaturados.
A decisão foi justificada por falta de provas.
O que eu quero de V. Exas. é o mesmo tratamento que foi dado ao Senador Humberto Costa. Ele provou que era um homem honrado. Ele provou que era um homem decente. Foi acusado. Foi grampeado. O grampo acusava que ele participava. O procurador disse isso. Eu quero esse direito. Por que a minha cabeça tem que rolar? Eu provei aqui várias vezes que sou inocente. Eu quero este direito, eu quero o direito do tempo; o direito que toda pessoa tem, o direito da ampla defesa e do contraditório. Por que me negaram o direito da perícia? Era o único direito que eu tinha. Foi negado, porque era preciso chegar ao dia de hoje com pressa.
Senhores, o julgamento com clamor público é terrível. Eu me lembro de conversas particulares com um ex-colega nosso, o Senador Marcelo Crivella, que ele nos dizia o seguinte: o julgamento de Cristo. As pessoas presentes, doidas pela crucificação. Pilatos tentava provar que ele era inocente: “Mas não tem nada, não existe nada!” Pilatos mandou dar uma surra em Cristo. Era a Páscoa judaica, período em que era tradição liberar um preso. Mandou buscar um preso, Barrabás, um homicida. “Levem Barrabás!” “Não, nós queremos Cristo.” E ele lavou as mãos e cometeu o pior delito da história por ter lavado as mãos.
Eu peço aos senhores que não lavem as mãos em relação a mim. Deixem-me ser julgado pelo Poder Judiciário! Deixem-me ser julgado pelo povo do meu Estado!
Dizem que o maior crime que cometi foi ter usado um rádio. O meu advogado aqui não é essa figura brilhante, um dos melhores advogados do Brasil; o meu advogado é esse rádio que eu utilizei. Não foram gravadas 250 mil horas? Em que momento aparece a minha voz pedindo dinheiro, pedindo propina, cometendo ilegalidades? O maior advogado que tenho é esse rádio. Mais de três anos de grampo, quase quatro anos de gravações. O que existe contra mim? Nada. O que existe contra mim? Nada, nada, nada, nada.
Eu digo aos senhores: esse rádio – foi dito aqui hoje de novo – foi utilizado pela quadrilha, mas foi utilizado também por secretários de Estado.
Ele foi utilizado também por vereadores. Ele foi utilizado também por Deputados Estaduais. Ele foi utilizado por Deputados Federais e por diversas outras autoridades. Ninguém duvida que eles não fossem membros da quadrilha. Aliás, o Procurador-Geral da República, os delegados, todos os procuradores que participaram do processo dizem: “Demóstenes não é membro da quadrilha”.
Senhoras e senhores, eu não menti aqui. Eu jamais menti aqui. Eu tenho uma conduta parlamentar impecável. Os senhores são um atestado disso. Quantas vezes eu procurei um Senador, neste ou no outro mandato, ou qualquer pessoa, qualquer Ministro – eu mencionei aqui o nome dos Ministros com os quais eu me relacionava – para pedir qualquer favor para Carlos Cachoeira ou para qualquer outro? Qualquer conduta criminosa, onde apareceu isso?
Eu não posso ser julgado para dar o exemplo! Eu não posso ser julgado porque os outros, lá da Câmara, obtiveram o direito de se defender e eu não!
Eu não posso ser julgado porque seis governadores também se relacionavam com Carlinhos Cachoeira; dezenas de Deputados Federais.
Os outros não têm nada. O bandido sou eu?
O meu tratamento tem de ser isonômico. É isto que peço à Casa: deem-me o direito, que foi dado a tantos outros, de fazer a minha defesa!
Senhores, eu não menti; mas, mentir não é quebra de decoro. Vou repetir isso aqui, porque disseram: “Demóstenes defende a mentira”. Não defendo, não.
O que eu quis dizer aqui e disse, disse para todos: o parlamentar quando usa a tribuna, o parlamentar quando escreve um texto, quando ele está na Comissão, ele não pode ser julgado pelo que ele fala porque senão não sobra ninguém. E vou dar um exemplo para os senhores do que acaba de acontecer com o Senador Humberto Costa.
O Senador Humberto Costa diz o seguinte: “Cachoeira, com o devido respeito, é um verdadeiro anjo da guarda do Senador Demóstenes“. E diz: “A esse propósito [vejam só o que ele está dizendo] chamou-me a atenção, ouvindo as conversas telefônicas, o fato de, no carnaval do ano passado, ter o representado se deslocado, em tão poucos dias, de Goiânia para Angra dos Reis, de Angra dos Reis para Búzios, voltando de Búzios para o Centro-Oeste. Se não fosse por avião, essa triangulação não seria possível”.
Eu não fui a Búzios. Eu passei o Carnaval do ano passado com um amigo, o Senador Edison Lobão Filho. Saímos daqui e fomos lá. E o Senador Edison Lobão Filho me autorizou a falar isso aqui, porque eu não sou alcagueta de Senador. Eu, quando ando com um Senador, entro na casa de um Senador, viajo com um Senador, não ligo para repórter político dizendo o que aconteceu em viagem e mentindo, muitas vezes, a respeito desse fato.
O que quero dizer para os senhores é que eu respeito os senhores.
O Senador Humberto Costa mentiu? Eu provei aqui que ele não falou a verdade. O PSOL vai representar contra ele, porque ele mentiu, e pedir a cabeça do Senador Humberto Costa?
Isso não se chama mentira, senhores. Isso é uma dedução legítima do Parlamentar. Isso é uma dedução que ele tem. Ele usou Protágoras e, certamente, ele leu acerca de Protágoras. Protágoras é o pai do relativismo – claro que o relativismo nasceu muito depois. Todo fato tem diversas versões.
Eu provei que ele está errado, assim como provei, em todas as circunstâncias, que ele estava errado em relação a mim.
Disse o Senador Humberto Costa também – só para ficar em alguns detalhes: “Tudo posto, é de se concluir que a vida política do Senador Demóstenes Torres, desde 1999, gravita em torno dos interesses de Carlos Cachoeira, no ramo dos jogos de azar”. Quando o jogo em Goiás era absolutamente legal.
Muito bem. O jornal Diário da Manhã, do dia 22 de novembro de 2001, dá mostras de que, um dia antes, tinha acontecido uma blitz em Goiás, quando eu era Secretário de Segurança Pública, e desbaratado todas as quadrilhas de jogo do bicho do Estado de Goiás, três meses antes de eu sair da Secretaria de Segurança Pública:
Por determinação do Secretário Demóstenes Xavier Torres, foi determinado que o jogo do bicho deve ser extinto no Estado de Goiás, a exemplo das gravadoras de CDs piratas [que já tínhamos acabado também com elas, clandestinamente]. As operações desencadeadas ontem alcançaram sucesso absoluto. Isso nunca aconteceu antes no Estado de Goiás.
E no jornal O Popular, assinado por um jornalista já falecido, Orlando do Carmo Arantes, em 23 de novembro de 2001:
Os nomes deles surgiram nos depoimentos de funcionários de centrais do jogo do bicho, detidos na quarta-feira, como supostos donos de três das quatro bancas estouradas há dois dias. (…) Contravenção prevê pena de quatro meses a um ano de cadeia. Nesse caso, não há necessidade de abertura de inquérito, apenas o indiciamento em Termo Circunstanciado de Ocorrência. (…)
O Popular tentou ouvir todos os acusados de envolvimento com a rede do jogo do bicho.
Júlio César de Almeida Ramos, outro acusado pela Polícia, também negou participação. Era irmão do Sr. Carlinhos Cachoeira.
O Sr. Carlinhos Cachoeira não está me protegendo desde 1999? Como é que, em 2001, eu faço uma operação contra o jogo do bicho, mando acabar com a banca do irmão do Sr. Carlinhos Cachoeira e mando instaurar um TCO? Está provado aqui, então, que o Relator também faltou com a verdade, mas é o Protágoras, que ele mesmo citou, é o relativismo, que surgiu muito depois. Mas Protágoras é fonte inspiradora. Cada fato tem diversas vertentes. Então, o Senador Humberto Costa não mentiu. Ele simplesmente se equivocou e não pode perder o mandato por isso.
Nesse período que eu vivi, eu fui perseguido como um cão sarnento. Tudo que aconteceu na minha vida e o que não aconteceu veio a público. Mandaram jornalistas para todos os lugares do Estado de Goiás e do Brasil. Por que não apareceu o meu nome envolvido com desvio de merenda escolar, com fraudes em hospitais, com superfaturamentos, com desvios os mais diversos possíveis? Eu fui investigado como ninguém foi investigado no Brasil, dia e noite, e não apareceu nada, nada, nada, nada.
Aí começaram a inventar. E a invenção foi muito grande, por sinal. Não vou citar os veículos de comunicação nem os jornalistas, porque os respeito. Mas eles não me respeitaram. A imprensa do Brasil me deve um pedido de desculpas, porque inventou contra mim.
O Estadão – desculpa; eu disse que não ia falar o nome –, no dia 28 de abril de 2012, diz o seguinte – uma jornalista: “Demóstenes quadruplica o seu patrimônio – Demóstenes quadruplica o seu patrimônio – quatro meses depois da eleição”. Aí vem: “A certidão do cartório de registro mostra que o Senador pagou R$400 mil à vista [foi a minha mulher quem pagou, declarado no Imposto de Renda] O restante teria sido financiado pelo Banco do Brasil”. Teria sido; o contrato está aqui – para pagar em trinta anos. A última prestação eu vou terminar de pagar quando tiver 80 anos de idade, no ano de 2041. O apartamento tem 701 metros quadrados; a área total privativa, 469, 447 metros.
É grande, mas é quase 300 metros a menos do que disse o jornal, porque o jornal pegou a área total. Se contar o portão, o pé de pimenta que tem lá embaixo, aí dá 700 metros quadrados.
Então, a minha reputação foi sendo quebrada grão a grão dessa maneira. E mais: não adiantava dar explicações.
O Advogado Kakay disse: estão sendo descontados R$9 mil por mês da conta dele. Aí disse a repórter: “Contudo, não enviou holerite”. Ligaram para ele, às seis da tarde, a matéria ia sair no outro dia. E eu entreguei no Conselho de Ética a prova de que é descontada na minha conta a prestação do Banco do Brasil.
E diz também: “No entanto, o contrato de compra e venda não foi registrado”.
Está aqui o contrato, até porque o Banco do Brasil não vai financiar um imóvel por 30 anos se ele não for registrado. Registro 95.959, de 18 de maio de 2001. Está aqui.
Então, isso tudo foi dito para simplesmente me incompatibilizar com os Srs. Senadores e com tudo mais.
Leio outras coisas. Por exemplo: um dos repórteres que a gente lê todos os dias e respeita muito:
O patrimônio de Demóstenes.
O Senador Demóstenes Torres terá que explicar ao Conselho de Ética as discrepâncias entre as prestações de contas ao TRE e ao Imposto de Renda. Na eleição de 2006, declarou ter R$508 mil entre uma casa, quatro apartamentos, carros e tal. Quatro anos depois, o patrimônio caiu para R$374 mil. Sumiram casas e apartamentos.
Por quê? Porque isso aqui se chama separação judicial. Aqui está a prova do que aconteceu.
Eu fui moído, triturado, achacado na minha dignidade.
Só para ficar no último detalhe, na tentativa de me incompatibilizar com vários colegas, pegava na mão de um colega, saía no jornal. Nunca recebi um colega e vazei para quem quer que seja. No dia do meu julgamento na Comissão de Constituição e Justiça, saiu no jornal que eu tinha recebido uma Senadora e tinha me gabado de que ela tinha me dito alguma coisa.
Bastava pegar os vídeos da Casa para saber que a Senadora não foi lá, sabendo que a Senadora é uma mulher autêntica – o que tem de dizer, ela disse; no intuito único de provocá-la e jogá-la contra mim.
E assim foi feito. São inúmeros os exemplos. O meu tempo está acabando e não posso ficar só nesses exemplos.
“O Legislador e o Fora da Lei”, uma matéria, dizendo que eu, quando era Secretário de Segurança, enchia a minha cara de uísque em boteco – todo mundo que me conhece aqui sabe que eu não tomo uísque, todos os Senadores – e que ia dar cavalo de pau na rua. Agora, os senhores imaginem!
Em 1988, tive um acidente gravíssimo, quebrei minha perna e o braço. Fiquei vários dias no hospital. Tanto é que tentei tirar uma placa que eu tenho na coxa, em 2006, 2007. Fiquei internado no hospital Sarah Kubistchek. Muitos me viram aqui de cadeira de rodas, de muleta, de bengala, por muito tempo.
Senhores, francamente!
Eu digo para os senhores que eu não fui braço político de quem quer que seja. Aliás, fui. Fui braço político das crianças do Brasil, porque em todas as leis sobre pedofilia no Brasil eu estava lá fazendo para punir o pedófilo. Fui braço político do idoso no Brasil, porque relatei, com muita dignidade, o Estatuto do Idoso, que hoje recebe um benefício de prestação continuada de um salário mínimo, se não teve renda a partir de 65 anos de idade. Todo idoso que pega um transporte gratuito hoje tem um dedo meu ali.
Eu fui braço político dos pobres do Brasil, porque, no fim do Governo Lula, ele me escolheu – veja só – para ser o relator, aqui, da prorrogação do Fundo de Erradicação da Pobreza. Todas as bolsas que são distribuídas hoje no Brasil têm um dedo meu.
Do Judiciário, nem se fala. Todos os Ministros do Supremo, todos, me procuravam para resolver os problemas do Supremo Tribunal Federal: repercussão geral; uniformização de jurisprudência; interiorização de varas federais, não só do Supremo, do STJ, do TST. Perguntem a quais Ministros eu pedi algo de errado! Do Ministério Público, eu sou pai do Ministério Público! Pai do Ministério Público. Coloquei, no art. 129, o § 4º, que dá isonomia plena ao Ministério Público com a magistratura. Pai do Ministério Público. O Ministério Público recebe, hoje, como magistrado. Deve-se isso a mim. Da Polícia Federal, a Presidente Dilma Rousseff acabou de sancionar, na semana passada ou esta semana, a Lei de Lavagem de Dinheiro, o arcabouço dela. Da última parte, não participei, porque não pude participar. Fui eu que trabalhei junto com a Polícia Federal para construir aquele esqueleto.
Então, senhores: de trabalhadores e de empresários. A segurança pública, quantas leis? Da família: a alienação parental, a guarda compartilhada, tudo tem o meu dedo ali. Da mulher: ajudei a Senadora Lúcia Vânia, que foi a relatora, na Lei Maria da Penha. Ela me pediu, eu tive a oportunidade de discutir com ela. Dos crimes contra a dignidade sexual: fui eu que acabei com a expressão “mulher honesta”, que as feministas do Brasil não aceitavam. E com razão. O que é mulher honesta?
Senhores, eu sou, na realidade, um bode expiatório; um bode expiatório, como foi definido aqui por um Senador da República. Querem me pegar, porque vai ficar mal para a imagem do Senado. Um Senador com um patrimônio ridículo, depois de tudo que eu fui na vida: um imóvel financiado em trinta anos para pagar; um carro 2010; 20% de uma faculdade do interior de Minas, que nunca me rendeu um centavo! Os senhores sabem muito bem – e não é o nosso caso – que pessoas aqui na Casa que quiserem fazer rolo, espaço há. Eu nunca fiz, como os senhores nunca fizeram.
Eu quero dizer para os senhores que o que pega mal para a imagem do Senado é condenar sem prova, é punir um inocente, é a pressa que é inimiga da perfeição e que é madrasta da injustiça. É como dizia Ivan Lins: Hoje “Cai o rei de Espadas [E depois?] Cai o rei de Ouros; cai o rei de Paus; cai, não fica nada”. Porque precisa ter prova para condenar um Senador. É preciso ter prova. Essa história do julgamento político é porque os senhores aqui, ao contrário do juiz, não precisam dizer por que estão me condenando e por que estão me absolvendo. É por isso. Mas o julgamento tem de ter prova.
Ninguém pode decapitar um Senador por isso ou por aquilo ou porque quer. Jamais, fui despachante de luxo de ninguém. Quero confessar aqui para os senhores: de fato, levei empresários de Goiás e de todo o Brasil a diversas autoridades e, para isso, tinha que pedir a Senadores aqui para me arrumar as audiências porque fui um crítico do Governo. Qual o Ministro que me receberia e me arrumaria alguma coisa? Levei a todos que me pediram, e eu achava que valia a pena, que era bom para o meu Estado, que era bom para o Brasil. Quero dizer aos senhores que arrumei sim emprego na iniciativa pública e privada para muitas pessoas, e para nenhum ladrão e para nenhum corrupto, para pessoas que precisavam. Que voei em aviões de amigos, não de Carlos Cachoeira.
Senhores, quero dizer o seguinte: ontem me disseram, aliás, ontem, li uma pessoa me condenando, dizendo o seguinte: diga-me com quem andas que eu te direi quem és. Cristo andava com Judas. Isso é bobagem. Cada qual que pague pelo que fez. Se Carlos Cachoeira cometeu crimes, cana nele, a culpa é dele, a culpa não é minha. Não fiz nada, não existe uma prova contra mim, não existe uma denúncia contra mim.
Peço aos senhores que não entrem nessa história. Já pedi perdão por meus erros, e meu erro aqui foi o que a Senadora Ana Amélia disse e que cansei de dizer para os milhares de alunos para quem dei palestra no Brasil: além de ser honesto, tem que parecer honesto. Esse rádio, essa companhia, que foi companhia de muitos, deu a impressão para o Brasil de que sou desonesto, até pela repetição, até porque colocaram isso, mas eu não sou desonesto. Meu erro aqui, confesso para os senhores, foi ser intolerante, foi ser duro, foi não ter aprendido a ler os jornais. Hoje, sei que muita mentira é publicada. Hoje, sei que nada daquilo ou muito daquilo que vem de inquéritos policias, hoje, sei que muito daquilo não é verdade.
Quero encerrar, meu tempo está acabando, e dizer aos senhores, perdoem-me aqueles que, levianamente, ofendi e advirto os mais novos mais como um conselho mesmo: não entrem por esse caminho, isso é uma bobagem; pegar minutos de fama, ir para a televisão, aparecer atacando um colega. Eu aprendi duramente, amargamente, sofridamente. E, da mesma forma que eu pedi perdão, eu também aprendi a perdoar. E perdão é coisa dos homens, sim; perdão é coisa para homem. Nós temos inteligência para fazer isso, e meu perdão foi ter feito aquele discurso junto com dois colegas Senadores. Eu não sabia o que tinha ali, porque ninguém sabe, quem é que se recorda do que falou três anos atrás, dois anos atrás? Nem quinze dias atrás nós sabemos.
Eu peço aos senhores…
Quando me perguntaram: por que você não renuncia?
(Interrupção do som.)
O SR. DEMÓSTENES TORRES (Sem partido – GO) – Eu peço só dois minutos, para concluir.
Por que não renuncia? Porque eu não podia sair do Senado sem dar explicação para a minha mulher, para meus filhos, para minha neta, para meus amigos, para os meus eleitores. E porque quem cassa Senador é Senador, não é imprensa; quem cassa Senador são os senhores; somos nós.
Eu quero pedir aos senhores: por favor, me dêem a oportunidade de provar que sou inocente, não acabem com a minha vida, não me deixem disputar outra eleição em 2030 para Senador. O que eu quero é ter o direito que os outros tiveram. Se a justiça me condenar eu vou perder o mandato. Alguém aqui disse: “O povo é que tem que julgar”. E acho que foi o Relator. Concordo. É o povo que tem que julgar. Deixem o povo de Goiás me julgar.
Peço aos senhores, aqueles que consideram que sou inocente e os que estão em dúvida, não votem pela minha cassação.
Muito obrigado a todas as senhoras e a todos os senhores.”
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