Congresso em Foco – Quem é o Pastor Everaldo?
Pastor Everaldo – Nasci num lar humilde, na favela do Acari, no Rio de Janeiro, em 22 de fevereiro de 1956, numa família rica da graça de Deus. Aos oito, nove, dez, 11 anos já experimentei o trabalho como camelô na feira. Depois, aos 12, 13 anos fui servente de pedreiro. Aos 14 anos fiz um concurso para office boy no Instituto de Resseguro Brasil e em 8 de julho de 1970 tive o privilégio de ter minha carteira assinada. Trabalhando, estudando, me formei. Hoje sou um empreendedor, corretor de seguros, atuário, casado, pai de três filhos, com uma netinha de oito anos, um netinho de um ano. E o nosso ideal é ver um Brasil onde o Estado brasileiro sirva ao cidadão. E não como é hoje. Hoje o governo é um governo que se serve do cidadão brasileiro, suga o sangue, o suor do trabalhador com a quinta carga tributária mais elevada do planeta e na hora de prestar os serviços de saúde, de educação e segurança pública são serviços que eu os qualifico de submundo, nem de terceiro mundo. Então nós acreditamos que em um país que tem o potencial do Brasil não pode acontecer o que aconteceu nos últimos dez anos. Um jornal da grande imprensa publicou no dia 3 de março deste ano que nos últimos dez anos foram fechadas mais de 32.500 escolas na área rural deste país. O pacto federativo constitucional diz que os municípios ficavam com 22% do bolo nacional, os estados ficavam com 38% e o governo central com 40%. Hoje os municípios estão com 12% aproximadamente, números redondos, os estados com 23% e o governo federal com 65%. Então o município onde o cidadão mora, onde precisa de escola, de saúde, de mobilidade urbana e de segurança pública recebe cada dia mais obrigação, mais demanda do cidadão e menos repasse de recursos, tanto é que os prefeitos – nós participamos de vários encontros dos prefeitos, tanto em Brasília como em Porto Alegre — querem, com justiça, o aumento no repasse do fundo de participação dos municípios (FPM). Eles pediram mais 2%. Eu me comprometi a refazer o pacto federativo, refazer não, consertar, reparar essa infâmia que fizeram contra os municípios brasileiros e, a partir de janeiro, a gente já vai trabalhar com esse aumento no FPM para que as demandas do cidadão possam ser minimamente atendidas
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Por que o senhor quer ser presidente do Brasil?
Quero ser presidente porque eu acredito no Brasil, acredito nos brasileiros e porque as nossas propostas do Partido Social Cristão e a minha proposta representam o anseio da população brasileira demonstrado nas últimas pesquisas. Mais de 70% querem mudança. Nossas propostas representam a verdadeira mudança que esse país está precisando.
Qual a sua opinião sobre legalização das drogas, aborto e casamento de pessoas do mesmo sexo?
Eu defendo a vida do ser humano desde a sua concepção. Sou contra a legalização das drogas e sou a favor da família como está na Constituição brasileira. Nós estamos num país democrático, aqui não é Cuba, não é Venezuela, aqui é democracia. Eu respeito a todos, mas defendo – e tenho o direito e a liberdade de defender os princípios que acredito – o casamento para mim é homem e mulher. Hoje existe uma droga legal no país, que é o álcool. Você chega a todas as delegacias, estatisticamente comprovado, de dez da noite às duas da manhã, mais de 50% dos registros são consequências do álcool. Então, isso é muito pernicioso. Nós somos contra qualquer droga. A droga é um mal que não se pode deixar abater sobre a nossa juventude, principalmente. No meu Rio de Janeiro, na avenida Brasil hoje, aqueles dependentes de crack ali jogados nas ruas é uma coisa deprimente para o ser humano. Há aqueles que argumentam que a legalização pode ajudar a combater a violência e ampliar a arrecadação. Esse imposto (que pode ser recolhido com a legalização) para mim é um imposto amaldiçoado.
PublicidadeO senhor é contra a adoção de crianças por casais do mesmo sexo?
Sou contra a adoção.
Como o senhor está vendo esse debate energético no Brasil?
Eu defendo o livre mercado, a livre concorrência. Nós vimos aí o que aconteceu, preços reprimidos, Estado querendo controlar. E agora nos jornais eu li aumento de 18%, 20%, até 35%. Então a população foi enganada. Disseram: ‘não, vamos reduzir’. E agora vem a conta para a população pagar. Isso eu não acredito. Eu acredito na livre concorrência, no mercado. Há 20 anos a gente comprava uma linha telefônica e ficava cinco anos para conseguir instalar. Ela tinha que ser declarada até no Imposto de Renda, né? Era patrimônio. Foi privatizado e o que é que aconteceu? Hoje todo mundo tem telefone. Estamos com tarifa cara e isto é uma vergonha, a gente não consegue completar uma ligação. Mas por quê? Porque as agências reguladoras que tinham que ter funcionários prestigiados, ganhando bem para fiscalizar de verdade, estão aparelhadas politicamente e não agem a favor do consumidor brasileiro. Então nossa política é essa: vamos passar para a iniciativa privada, mas colocar uma agência que realmente fiscalize preservando o bem estar e o bolso do cidadão brasileiro.
Para melhorar o serviço público, a melhor maneira é a realização de concurso?
Sempre meritocracia e pagar bem o funcionário. É isso que precisamos fazer: pagar bem ao funcionário. Não adianta a gente estar com a máquina inchada e pagando mal. Então, a gente reduzindo [a máquina], nós vamos qualificar, preparar mais o funcionário, dar qualificações e pagar bem. Funcionário merece. Quem trabalha, quem tem o mérito tem que ganhar bem para ficar satisfeito, para poder fazer o seu trabalho, desempenhar sem ser tentado por propostas, às vezes, digamos assim, perturbadoras. Funcionário ganhando bem, tendo a sua estabilidade, tendo a garantia de que vai poder exercer sem pressão política para abrir mão disso ou daquilo, tenho certeza de que as coisas vão funcionar.
O senhor acha realmente que o melhor caminho é a privatização e por quê?
O petróleo é nosso, não é? Agora a Petrobras é de meia dúzia. Se você privatiza a Petrobras, jamais vai ter barganha política. Então vamos dizer: você privatizou, colocou para a iniciativa privada. O que é que vai acontecer? Vai acontecer o que acontece com a Vale do Rio Doce hoje: contribuição de impostos. Hoje a Petrobras não recolhe, é isenta porque estatal não paga impostos. Vai passar a pagar e o Tesouro vai aumentar a arrecadação para servir a população: educação, saúde, segurança pública.
Como combater a inflação?
A inflação hoje ela é provocada pelo governo. Por quê? Se você reparar nos últimos meses aí, está acontecendo o quê? Déficit primário. O governo gasta mais do que arrecada. O que é que acontece? O governo vai ao mercado e tem que pegar dinheiro emprestado para custeio. A gente pega empréstimo para investimento, para gerar renda, para gerar emprego. Empréstimo é para isso. Quando o empréstimo é para custeio, para bancar essa máquina pesada, aí surgem essas dificuldades para essa inflação de governo. É o governo que está fazendo essa inflação. Então quando eu digo que vou cortar na carne, enxugar a máquina, reduzir o Estado para o mínimo necessário, o que vai acontecer? O Estado vai arrecadar e aí começará a gastar menos do que arrecada. Aí tem dinheiro para pagar a dívida e vai diminuindo essa dívida e reduzindo a inflação. Isso é uma meta que nós temos que perseguir com sacrifício só que o trabalhador brasileiro não tem condições de pagar mais nada. É o governo que tem que fazer a sua parte agora. Todo mundo trabalha com a meta de inflação tendendo para zero. Esse é que é o ideal, né? Inflação zero! Então não vou dizer aqui que vai ser 2%, 3%. Vai ser um trabalho assim dia e noite. Desde 2005 tem o decreto 5.378, que diz o seguinte: para colocar para o cidadão os direitos que eles têm. Você hoje chega numa repartição e tem que pedir ‘por favor, me atende’. Pedir ‘por favor’ para ser atendido quando o cidadão tem que ter lá o direito. ‘Olha você pode chegar aqui e pedir isso’. E o servidor é um servidor. Ele tem que dizer: ‘sim senhor, o senhor é meu patrão’. O cidadão que paga o imposto é o patrão. Então tem que chegar lá e atender bem. Igual a uma loja, a um comércio. Você chega lá e o vendedor: ‘pois não, o que o senhor deseja?’. E é a mesma coisa um servidor público, que tem que ser bem tratado, tem que ganhar bem para servir ao cidadão.
O senhor é favorável à independência do Banco Central? Como avalia a regulação dos juros?
O Banco Central em lugar nenhum do mundo tem independência total. Um modelo que deu certo foi o do Henrique Meirelles [ex-presidente do BC]. Pessoa que foi equilibrada, trouxe o equilíbrio e com relativa independência tocou o Banco Central. Não existe um Banco Central independente 100%. Relativa independência, o máximo possível para ser o guardião da moeda.
O que fazer para possibilitar a retomada do crescimento?
Começar a tirar o peso do Estado, enxugar a máquina. Deixar o empreendedor brasileiro tirar essas amarras. Exemplo real: O empreendedor brasileiro que hoje dá entrada na Anvisa passa dois anos para ter uma resposta. Tem que tirar as amarras, diminuir, acabar com a burocracia, facilitar. Você chega nos Estados Unidos, quer abrir uma empresa. Você é turista, chega lá com seu passaporte direitinho e quer abrir uma empresa, você abre uma empresa em 24 horas. Aqui no Brasil, a média – se tudo correr direitinho – são 105 dias para você abrir uma empresa. Para se fechar nem se fala. Na hora que eu reduzir essa máquina, tirar esse sufoco, aí se pode pegar dinheiro para se fazer investimentos e facilitar a vida do empreendedor brasileiro com uma reforma tributária, simplificação dos tributos. É o que eu falo: mais Brasil e menos Brasília na vida do cidadão brasileiro.
Qual a sua posição sobre os programas sociais?
Eu tive o prazer de ser uma pessoa que ajudou a implantar o primeiro programa de Bolsa Família nesse país. Foi o cheque cidadão no Rio de Janeiro no governo em 1999. Nas primeiras famílias, mais de 70% nunca tinham entrado num supermercado para fazer uma compra de R$ 100, que era o “cheque cidadão”. E o relato daquelas mães – que nunca tinham entrado no supermercado para fazer uma compra de R$ 100 – e pela primeira vez puderam comprar um iogurte para o seu filho. Aquele programa exigia a obrigatoriedade de manter as crianças vacinadas e matriculadas nas escolas. Meu compromisso é o seguinte: nenhum brasileiro vai ficar com fome no Brasil. Eu, muitas das vezes, a melhor comida que eu comi foi a merenda escolar. Então eu sei o que representa ter uma boa alimentação. Jamais um brasileiro vai ficar com fome. Mas eu vou dar condições de cada beneficiário ser capacitado como eu, que aos 14 anos tive o privilégio de ter a minha carteira assinada. Então, a excelência de qualquer programa desse tipo é quando o beneficiário puder chegar e dizer ‘olha só, eu não preciso mais desse programa’. Então eu vou criar as condições para que haja capacitação e cada cidadão possa progredir na vida e ter essa dignidade que eu tive de ter carteira assinada, o seu salário, o seu holerite. Vamos melhorar para capacitar os beneficiários para que eles possam ter esse privilégio que eu tive.
Como o senhor enxerga o presidencialismo de coalizão?
Eu tenho um exemplo de governo que é o Itamar Franco. Itamar Franco assumiu o país numa situação difícil e chamou todas as forças representadas no Congresso Nacional, inclusive teve uma deputada que foi expulsa de seu partido, na época, porque aceitou participar do governo. A Luiza Erundina foi convidada pelo Itamar, aceitou participar do governo e foi expulsa do PT na época. Então o Itamar Franco chamou todas as forças e fez uma verdadeira coalizão em favor do Brasil. Colocou tudo com transparência e nos deixou um legado de um plano de estabilização econômica e elegeu um sucessor que não era nem do seu partido. Porque ele pensou no Brasil. Então eu acredito que é perfeitamente viável, com transparência, colocar para o Parlamento as suas propostas. E todos os parlamentares de todas as matizes políticas estarão sempre com transparência votando a favor do brasileiro. Eu acredito que cada projeto que você fizer e disser: ‘isso aqui é a favor do brasileiro’ e que é assim e assim, ninguém vai negar o voto. E como eu vou diminuir o estado, não vai ter diretoria de fura poço, então não vai ter barganha política.
O senhor pretende diminuir o número de ministérios?
Já falei claramente. Vamos reduzir para 20 ministérios.
O que o senhor propõe para tornar o estado mais transparente visto que os portais da transparência ainda são instrumentos muito difíceis para o cidadão?
É só cumprir o que já existe hoje, não precisa fazer mais nada. Hoje já há as normas para fazer a transparência.
E o senhor considera essas normas satisfatórias?
É. Se fizer o que está previsto vai ser a transparência que a população precisa e quer.
Como o senhor vê o atual modelo de doações de campanha? O senhor recebeu doações de empresas?
Eu ainda não recebi, mas estou esperando receber. Sou a favor da legislação como está hoje, com total transparência. O que hoje dificulta é o seguinte: se uma empresa contribui parece que ela está interessada em determinada obra, por exemplo. Mas, à medida que eu enxugo o Estado, essa possibilidade de retorno é reduzida. As contribuições serão transparentes. Sou 100% favorável a manter como está hoje a legislação, com transparência total. Quem recebe diz ‘olha, eu recebi’. E quem doou diz que doou. Pronto! É isso que a população quer. A população está preocupada em saber a verdade dos fatos. Não quer que esconda. Falou a verdade, por si só ela é suficiente para esclarecer.
Como o senhor enxerga a reforma tributária?
Nós vamos fazer. Isso aí nós vamos fazer, vamos simplificar. Seria leviano falar em diminuição de impostos imediata. Eu tenho um compromisso: as contribuições Cofins, CSL, PIS, nós vamos extingui-las a proporção de 1/20 avos por ano em 20 anos, porque essas contribuições não entram no bolo da divisão, fica só para o governo federal. Para o trabalhador brasileiro eu já anunciei: a partir de janeiro todo trabalhador que ganha até R$ 5 mil por mês estará isento do Imposto de Renda na fonte. Isso é mais dinheiro no bolso do trabalhador brasileiro. Mas como é que se vai tirar isso? Hoje, se não houvesse transferência do Tesouro para o BNDES como é feito, isso aí estaria coberto. Só essa partezinha aí. Se eu não construir porto em Cuba, já garante isso aí. Se eu não comprar sucata de Pasadena, já garante isso aí. Isso é real. Nós estudamos, sabemos o que estamos falando. Os números mesmo nós não os temos porque não estamos no governo e não conseguimos. Mas o impacto seria de R$ 25 a R$ 30 bilhões.
Essa fatia do eleitorado de homossexuais e de defensores do aborto e da descriminalização das drogas é uma fatia importante do eleitorado. Como o senhor pretende conquistar?
Eu sou candidato de todos os brasileiros, todos os brasileiros. Governarei para todos os brasileiros. Eu nunca discriminei ninguém. Então vou continuar a minha vida dessa forma, tratando todos os brasileiros com respeito que a democracia exige de cada um. Eu quero dizer para todos os brasileiros que eu acredito no Brasil, acredito no brasileiro. E nós estamos num país democrático, um estado laico. A minha fé e a minha religião eu pratico na minha igreja. Temos que respeitar a todos. E dou exemplo nisso. Na minha equipe de comunicação, o responsável pela comunicação é um cara que se declara agnóstico, é uma pessoa nas origens do marxismo, leninismo. Outras duas pessoas que trabalham no partido [PSC], uma é católica e outra é espírita. Não discrimino ninguém. Graças a Deus nós estamos numa democracia, aqui não é Cuba, não é Venezuela é um país democrático, um Estado laico. E o que quer dizer laico? Laico é que não tem religião oficial, então cada um pode ter a sua sua fé. Então eu defendo isso e vou, meu compromisso é inverter a lógica desse Estado hoje. Vamos enxugá-lo ao mínimo necessário. O governo e o presidente da República vão servir ao cidadão brasileiro. Então nós acreditamos nisso e eu sempre falo: Deus abençoe você, sua família e abençoe o nosso querido Brasil.
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