Eduardo Militão
Acusado pela Polícia Federal de ter recebido um carro no valor de R$ 110 mil como propina, o ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares (PSB) disse ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) que comprou o veículo com recursos próprios, mas não soube informar quem levou o dinheiro até a concessionária. O ex-governador negou ter recebido qualquer presente de empresários em troca de favorecimento em obras no estado.
De acordo com os inquéritos da Operação Navalha, Tavares recebeu um Citröen C5 contrapartida pela aprovação de medições irregulares de obras para a empreiteira Gautama e pelo direcionamento da licitação para pavimentar a rodovia BR-402.
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No depoimento que prestou à ministra do STJ Eliana Calmon, no último dia 21, o ex-governador declarou que, apesar de ter conta bancária, costuma pagar seus compromissos em dinheiro vivo. O carro foi comprado numa concessionária de Brasília em março do ano passado, quando ele ainda comandava o governo do Maranhão.
Tavares disse que usou um cheque-caução, no valor de R$ 10 mil, oferecido por Geraldo Magela Rocha, seu assessor à época, para “garantir o negócio”. Magela foi presidente da Radiobrás no governo José Sarney.
O ex-governador disse não se lembrar de quem levou o dinheiro até a concessionária. “O dinheiro em espécie pertencente ao depoente [Tavares] estava em Brasília e foi levado à Citröen por alguma pessoa a seu mando, não se lembra, talvez um de seus filhos”, relata a ministra. O cheque de Magela foi resgatado logo em seguida.
De acordo com escuta telefônica de 15 de junho do ano passado, Zuleido Veras, dono da Gautama, pergunta ao assessor do governador se a namorada de Tavares estava usando o carro comprado por Magela.
“ZULEIDO pergunta se o carro que Ela chegou foi o que Ele (GERALDO) comprou. GERALDO diz que não e que o carro que compraram (GERALDO e ZULEIDO) para Ele ficou onde está (BRASÍLIA).”
Questionado pela ministra sobre o diálogo, Magela confirmou que ele e Zuleido se referiam, de fato, ao Citröen C5. Mas ele não soube explicar por que o dono da Gautama lhe questionou sobre o veículo.
O ex-assessor negou qualquer possibilidade de que o carro tenha sido dado como propina a Tavares. “Depois, o ex-governador José Reinaldo foi mandando o dinheiro por pessoas conhecidas suas aos pedaços, mas pagou o carro em espécie, sendo, então, devolvido ao depoente o cheque que emitiu como caução”, relata o inquérito do STJ.
Em sua defesa, Tavares afirma que declarou a compra do veículo em seu imposto de renda deste ano (ano-base 2006). Segundo ele, os recursos utilizados no negócio já haviam sido declarados em 2006.
Pontes inúteis
De acordo com o inquérito policial, pontes executadas pela Gautama ligam o nada a lugar nenhum no Maranhão. “São elevações perdidas no meio dos campos, em locais ermos, sem estradas. São hoje obras abandonadas, não constando, em muitas delas, sequer a placa de identificação.”
O ex-governador disse que em apenas quatro das 33 pontes construídas em seu governo houve “problemas”. Segundo Tavares, as pontes integram a BR-402 e foram feitas antes da rodovia por estratégia de construção. “Por serem elas mais trabalhosas, com mais dificuldade de construção, com restrição de realização de obras no período de chuvas, para depois ser licitada a parte da pavimentação da estrada”, justificou.
Tavares declarou que durante sua gestão (2003-2006), a Gautama ganhou apenas uma licitação para a execução de obras públicas no estado. O ex-governador atribuiu a vinculação de seu nome à máfia das obras públicas aos seus adversários políticos locais.
“Eu acredito que meu nome tenha sido envolvido por pressão de grupos políticos que forneceram dados falsos às pessoas que estavam cuidando do inquérito”, disse Tavares após o depoimento. “No Maranhão, há uma guerra política enorme. O grupo que perdeu as eleições dominava a região há mais 40 anos e detém meios de comunicação muito fortes” , afirmou, em referência à família do senador José Sarney (PMDB-AP).