Ricardo Ramos |
Partido mais preservado entre os suspeitos de terem participado do suposto esquema do mensalão e do pagamento de caixa dois a aliados do PT, o PP passa hoje por duas verdadeiras provas de fogo. Uma delas é o depoimento à CPI do Mensalão de João Cláudio Genu, chefe de gabinete do líder José Janene (PR). A outra é a apresentação da lista de “cassáveis”, a ser divulgada em conjunto pelas CPIs dos Correios e do Mensalão. Diferentemente do PTB e do PL, partidos cujos integrantes já são alvos de processo por quebra de decoro parlamentar, o PP adiou o quanto pode, por habilidade política de seus pares, a ida de seus quadros partidários a uma das reuniões das duas CPIs. Ainda lotado no gabinete de Janene, Genu desapareceu da liderança do partido desde que, no final de junho, foi acusado de carregar dinheiro para a tesouraria do PP, em pleno Congresso Nacional. Terá de explicar aos parlamentares o motivo dos milionários saques feitos nas contas do empresário Marcos Valério, no Banco Rural, entre 2003 e 2004. Leia também A quebra do sigilo bancário de Valério apontou que Genu sacou R$ 850 mil do Rural entre setembro de 2003 e janeiro de 2004. A lista entregue há exatamente um mês pelo empresário à CPI dos Correios revelou, no entanto, que os saques chegam a R$ 4,1 milhões ( veja quadro ). Em depoimento à Polícia Federal no dia 30 de julho, o chefe de gabinete de Janene confirmou que realizava saques para o partido na agência do Banco Rural, em Brasília, sob as ordens do então tesoureiro do PP, o contador Pedro Ribeiro Barbosa, morto em julho do ano passado. A operação era feita com o aval da cúpula partidária. Após pegar os envelopes com dinheiro das mãos da diretora-financeira da SMP&B, Simone Vasconcelos, na agência do Rural, Genu carregava-os para a sala do 17º andar, do anexo II, do Senado. É lá que funciona a tesouraria do partido. Dali, a grana era rateada, segundo Genu disse à PF, entre Janene, o presidente do PP, Pedro Corrêa (PE) e o ex-líder da bancada na Câmara Pedro Henry (MT). Genu afirmou, contudo, que não sabia quanto transportava para a tesouraria nem qual destino era dado ao dinheiro. O nome do desconhecido João Cláudio Genu apareceu no escândalo há três meses, quando reportagem da revista Época o apontou como o transportador do mensalão. Genu, que segundo a revista, era apelidado de “João Mercedão”, por conta da predileção por carros importados, tinha renda e padrão de vida incompatíveis com seu salário de pouco mais de R$ 5 mil. Cada um por si O sumiço de Genu dos corredores da Câmara é proporcional à desarticulação da bancada de 55 deputados do PP. “Desde que mudei para o partido, nunca teve uma reunião de bancada”, afirma o deputado Jair Bolsonaro (RJ), que voltou em abril para a legenda, após passagens pelo PTB, a convite de Roberto Jefferson, e pelo PFL, do prefeito do Rio, César Maia. Desde então, os encontros políticos no apartamento de José Janene – apelidado de “pensão” por conta do entra-e-sai de deputados – rarearam. A degustação dos famosos quibes de Dona Cleide, cozinheira da casa, já não atrai mais deputados e senadores de vários partidos. “Entre Pedro Henry, Pedro Corrêa e Janene, o mais apreensivo é Janene”, observa um deputado do partido, com trânsito na cúpula. Henry, aliás, mora no mesmo prédio do líder da bancada, com quem se encontra quase diariamente. Até hoje, contudo, o PP saiu incólume das denúncias sobre o partido. Assim que veio à baila o nome de Genu, a CPI dos Correios apressou-se para convocá-lo. Em vão. Nenhum dirigente do partido foi chamado a depor, nem mesmo os requerimentos de convocação de dois ex-funcionários de Janene foram aprovados. Mesmo uma denúncia vinda de dentro do PP foi abortada: a convocação de Benedito Domingos, secretário-geral e ex-tesoureiro do partido. Logo após da entrevista de Roberto Jefferson no dia 6 de junho para a Folha de S.Paulo , Benedito, que ocupa a presidência do PP no Distrito Federal, afirmou ao Correio Braziliense saber que colegas do seu partido recebiam ajuda “financeira”. “Havia um zunzunzum no partido de que as pessoas tinham apoio financeiro. Eu só não sabia que vinha do PT e que se chamava mensalão”, disse, ao revelar que esses acertos seriam feitos na “pensão” de Janene. Benedito Domingos, a quem a cúpula ameaçou destituir do cargo, revelou ainda que Pedro Henry lhe fez uma oferta: uma boa ajuda financeira para abrir mão da presidência regional do PP. À época, Janene e Henry negaram as acusações. A CPI dos Correios transferiu para a CPI do Mensalão a responsabilidade de ouvi-lo. Porém, não há data marcada. Na CPI dos Correios, aliás, a abertura do único elo das investigações sobre o PP foi determinada ontem, com o depoimento de três dirigentes da corretora Bônus-Banval. Segundo o empresário Marcos Valério, a corretora, na qual uma das filhas de Janene fez estágio, repassou R$ 3,515 milhões ao partido. “Não houve qualquer acordo com o PP na CPI dos Correios”, garantiu o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). “Se tivesse e se eu soubesse de algum, denunciaria na hora”, afirmou, categórico. Paes ressalvou que a comissão dos Correios não investigou o partido, pois transferiu tal atribuição para a CPI do Mensalão. Essa atribuição, na verdade, foi repassada em meados de agosto. O principal interrogador de Genu hoje vai ser deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG). O relator da CPI do Mensalão também é velho conhecido de Valério: recebeu dinheiro do empresário na campanha de 1998. Obs.: O depoimento de João Cláudio Genu à CPI do Mensalão foi adiado em virtude da leitura do relatório parcial hoje. A Secretaria de Comissões não informou a data de um novo depoente dele à comissão. |