José Caldas da Costa
No princípio, eram cabras e ratos. E assim foi até a forma final, quando nasceu Caparaó – a primeira guerrilha contra a ditadura militar, lançado pela editora Boitempo (SP). Usando técnicas de jornalismo, que desenvolvi desde a adolescência quando comecei a fazer meu primeiro jornalzinho mimeografado em Alegre (ES), fui em busca de resposta para o menino de sete anos que viu as tropas passarem nas ruas de sua cidade para reprimir o “bando de subversivos”, como disse o sargento do Tiro de Guerra ao menino crescido, já então com 18 anos.
Depois, quase ao final do trabalho, entre as dúvidas sobre a validade do método adotado nesse resgate histórico, surge o aval de um mestre, Eric J. Hobsbawn, um dos maiores historiadores do século XX: “As palavras são testemunhas que muitas vezes falam mais alto que os documentos”.
No prefácio de Carlos Heitor Cony, a profecia: “A saga do grupo de dissidentes da Marinha, Exército e Aeronáutica que, entre 1966 e 67, tentou estabelecer um foco de guerrilha na crista do maciço do Caparaó (onde está o Pico da Bandeira, considerado até então ponto culminante do Brasil) daria filme e romance de ação. A aventura tem todos os elementos para entusiasmar espectadores e leitores: cenário magnífico e hostil, idealismo ardente, amor e separações, intriga internacional, divergências internas”.
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Pois não é que deu filme? Pelas mãos do jovem cineasta paulista Flávio Frederico, nasceu Caparaó, não baseado, mas com forte inspiração no livro. E em um ano ganhou três importantes prêmios de cinema, em festivais realizados no Brasil. O projeto de Flávio Frederico acelerou quando, pesquisando a história da guerrilha, encontrou-se com o autor, que estava finalizando o livro. “O Caldas abriu todas as suas fontes, me ajudou a encontrar a maioria dos guerrilheiros”, diz Flávio.
O máximo que o livro ganhou de críticas, até agora, é que, por vezes, é didático demais, conforme Márcia Mendes de Almeida, na Carta Capital de 13 de junho de 2007. Ela, porém, finaliza: “Se outras reportagens fossem obsessivas como esta, a recente história brasileira estaria desentranhada e salva”. E Vitor Graize, de A Gazeta (ES), complementa: “O livro preenche uma lacuna existente na bibliografia sobre a ditadura militar e os movimentos armados de esquerda, que buscaram combater o regime”.