A gafe da procuradora na CCJ do Senado
Em audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, a vice-presidente da Associação Nacional de Procuradores do Trabalho (ANPT), Ana Cláudia Monteiro, tentou fazer um agrado ao senador Roberto Requião, relator do projeto de abuso de autoridade.
Chamando-o de professor, ela citou um livro do senador sobre Direito Comercial. Requião pediu a palavra: “Um aparte por questão de fato: o Requião do Direito Comercial já morreu há mais de 40 anos”, provocando risos entre os demais presentes na CCJ e pedido de desculpa da procuradora.
A procuradora do Trabalho não prestou atenção a uma regra comum em Media Training, especialmente para agentes públicos que vão defender posições de carreiras profissionais. Todos têm que se preparar para participação em eventos públicos, buscando informações sobre o tema, debatedores e demais participantes do evento, para evitar gafes desnecessárias e conseguir comunicar suas mensagens com eficiência.
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Na “pós-verdade”, a opinião vale mais do que o fato
“Pós-verdade” foi eleita a expressão do ano em 2016 pelo dicionário Oxford, tamanha a sua influência no mundo midiático do século XXI. A palavra remete ao sentido de que atualmente são as opiniões, e não os fatos, que importam. O debate sobre a questão de notícias falsas é muito oportuno na semana em que se avalia os 100 dias do governo Trump. O presidente americano continua mais do que nunca um ativista frenético no Twitter, o que dificulta a sua “relação” com a imprensa. Veículos de comunicação no mundo inteiro publicam o balanço de sua administração.
Para derrotar Hillary Clinton na disputa à Casa Branca, não faltaram “pós-boatos” espalhados por Donald Trump. Ele disse que a sua adversária criou o Estado Islâmico e o que Papa Francisco era um de seus apoiadores. Nada disso era verdade, mas não importa, ele venceu. Para o filósofo Renato Janine Ribeiro, a campanha de Trump é o maior exemplo de “pós-verdade” e 2016 foi o ano em que a mentira ganhou força.
Na definição de Oxford, “pós-verdade” é um adjetivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. Mas o que significa “pós-verdade” não está claro para muitas pessoas.
A revista britânica “The Economist” tem dedicado espaço ao debate do tema, em meio a reflexões de suas consequências no mundo político. São atribuídos aos efeitos do fenômeno da “pós-verdade” veiculada nos boatos das redes sociais a eleição de Donald Trump, a vitória do Brexit e a vitória do “não” no referendo da Colômbia sobre o acordo de paz com as Farc. O assunto também foi abordado aqui no Cenas da Semana, de 18 de setembro de 2016.
Para o acadêmico Carlos Eduardo Lins e Silva, que prefere falar em pós-fato, a perda da credibilidade da imprensa e das instituições em várias partes do mundo contribuiu para a proliferação e disseminação de notícias falsas. Outro estudioso, jornalista Eugênio Bucci, pontua que o consumo de notícias virou um entretenimento e as pessoas buscam os conteúdos que gostam.
Qual é o antídoto para o veneno da “pós-verdade”? Mais jornalismo de qualidade, com investimento em apuração e checagem aprofundada de informações. Esta foi a conclusão dos profissionais reunidos no início de abril no Fórum “O Papel da Mídia Brasileira na Era da Pós-Verdade”, promovido pela Associação Nacional de Editores de Revista (Aner).
Em 2017, as discussões acerca do fenômeno da “pós-verdade” continuam a gerar dúvidas e questionamentos. Muitos outros pontos de vista sobre suas causas e efeitos irão surgir, na esfera da política e da comunicação.
Historiadores atribuem ao economista John Maynard Keynes a frase “quando os fatos mudam, eu mudo de opinião. E o senhor, o que faz”? Em tempos impregnados pela “pós-verdade”, cabe a pergunta: e quando não há fatos, mas opiniões, o que é possível mudar?
Para porta-vozes e gestores públicos e privados, a disseminação de conteúdos falsos exige maior acompanhamento de tudo o que é dito sobre instituições e empresas, para evitar que notícias falsas virem verdade. É preciso monitorar e providenciar correções sempre que necessário para uma proteção efetiva da imagem e da reputação institucional e pessoal.
Facebook admite campanhas de manipulação na rede
Em relatório divulgado nesta quinta-feira (27), o Facebook admitiu que sua rede social tem sido usada por “atores organizados”, inclusive governos, para “distorcer o sentimento político doméstico ou no exterior”. A gigante digital revelou que esses “operadores da informação” usam um conjunto de métodos, desde “notícias falsas, desinformação ou redes de contas falsas para manipular a opinião pública”.
A empresa diz que continuará com esforços de monitoramento de tentativas de manipulação e adianta que adotou medidas preventivas na França, onde as eleições estão em andamento.
A leveza do humor na charge do Globo, 25/04/2017