A aliança PT-PMDB que elegeu o petista Arlindo Chinaglia (SP) presidente da Câmara terá entre as suas prioridades a tentativa de tirar espaços no ministério que estão hoje na cota da ala peemedebista do Senado. É o que informa o repórter Kennedy Alencar na edição deste domingo do jornal Folha de S.Paulo.
"Sentindo a pressão do grupo que assumiu o controle da bancada de 90 deputados do PMDB na Câmara, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador José Sarney (AP) defendem que o partido se una para ampliar seus espaços e não brigar pelos que já possui", diz o texto.
A política de ministérios de "porteira fechada" – todos os principais cargos de uma pasta para um único partido – passou a ser inconveniente aos planos do PMDB, maior partido da coalizão de 11 siglas que apóia o segundo governo do presidente Lula.
Sem esse sistema, o PMDB poderia conviver com outras legendas numa pasta. Exemplo: peemedebistas visam os Transportes, mas o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) quer voltar à pasta; o PMDB poderia dirigir o Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes).
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A cota atual do PMDB é de três pastas. O partido gostaria de dobrar sua representação, mas Lula resiste. Segundo a reportagem da Folha, os peemedebistas estão unidos contra a "porteira fechada", mas a atuação de Renan em favor de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) na disputa na Câmara deixou mágoas na Casa.
Deputados do PMDB alegam que o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e o da Funasa, Paulo Lustosa, usaram seus postos para buscar votos para Aldo. A Transpetro, poderosa subsidiária da Petrobras, é da cota de Renan. Lustosa também é afinado com este.
Renan: "Se houve derrota foi do PMDB na Câmara"
Reeleito presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), critica, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, os líderes do seu partido na Câmara. "Se houve derrota foi do PMDB na Câmara. O PMDB ganhou no Senado, mas perdeu na Câmara porque abriu mão do direito de indicar o presidente da Casa, conquistado nas urnas. Assistiu à derrota do líder da bancada para a primeira secretaria e trocou a relação direta com o presidente Lula, pela interlocução intermediária", disse Renan em entrevista a repórter Christiane Samarco.
Veja os principais pontos da entrevista:
Medidas Provisórias
"A avalanche de MPs amplia a insegurança jurídica, atrapalha o funcionamento do Legislativo e contribui para ampliar esse amontoado de leis. Mas, apesar disso, mostramos que é possível votar, e votamos muito. Pela primeira vez desde a Constituinte de 1988 aprovamos mais leis originárias do Congresso que do Executivo. Foi isto que garantiu a independência do Senado e desfez, aqui, a falsa disputa entre governo e oposição."
Coalizão
"Antes de saber como montar a coalizão, é preciso dar um fundamento, um objetivo a ela. Em vez de listar ministros, temos de estabelecer uma agenda para o País. Ainda em meio à crise, levei ao presidente uma agenda de crescimento. Alguns pontos dessa agenda foram adotados. Faltam ainda as reformas estruturais e medidas de impacto, como a desburocratização."
Votação do PAC
"A correlação de forças no Senado é muito apertada. A governabilidade exige que, além da coalizão, a gente mantenha entendimento permanente com a oposição em torno da agenda que não é de governo, é de País. O PAC vai ser aperfeiçoado no Legislativo. Compreendo melhor a prorrogação da DRU e da CPMF no contexto da reforma tributária, para que a gente não fique vivendo com uma carga tributária que prejudica a competitividade da economia."
Crise na base aliada
"A crise não é da base. É dos partidos, que estão todos divididos em correntes, e é anterior à eleição. O que está apodrecido é o sistema político-partidário que precisa ser revisto rapidamente. Votamos no Senado a reforma política, com o fim da coligação proporcional, com lista partidária mista, fidelidade e forma clara de financiamento de campanha. E há 11 anos já tínhamos votado a cláusula de desempenho. Vamos refazê-la, corrigindo os aspectos considerados inconstitucionais."
Derrota de Aldo
"Se houve derrota foi do PMDB na Câmara. O PMDB ganhou no Senado, mas perdeu na Câmara porque abriu mão do direito de indicar o presidente da Casa, conquistado nas urnas. Assistiu à derrota do líder da bancada para a primeira secretaria e trocou a relação direta com o presidente Lula, pela interlocução intermediária. Aldo Rebelo é um grande amigo, que admiro muito. Tivemos sempre o mais fraterno relacionamento, as famílias são muito amigas. Mas isto não cria dificuldade na boa relação que certamente terei com Arlindo Chinaglia, que foi sempre uma das pessoas com quem melhor me relacionei."
Divisões do PMDB
"O que foi e é recomendável é a união do partido, na defesa do fortalecimento do seu papel como maior bancada nas duas Casas. Sempre cisquei para dentro. Trabalhei pela união. Tanto que os oráculos vaticinaram o fim do PMDB e o partido foi o que mais cresceu na eleição. Não tivemos candidato ao Planalto por conta da verticalização, da diversidade regional e por não ter um nome competitivo."
Apetite do PT
"Do ponto de vista do Parlamento, não é difícil administrar (o apetite do PT). Tanto que conseguimos fechar um acordo. O PT contou com a boa vontade da bancada do PMDB e dos demais partidos, principalmente os da oposição. Do ponto de vista do governo, caberá ao presidente Lula responder."
Relação com o governo
"Meu cargo é institucional. Não exerço função partidária. Não cabe a mim fazer a interlocução do PMDB com o governo. Se em alguns momentos fui chamado pelo presidente Lula na condição de peemedebista, é porque o partido estava equivocadamente dividido, o que enfraquece suas lideranças. Nunca exigi exclusividade. Sempre fiz força para integrar o presidente Michel Temer, os líderes da Câmara e outros setores do partido nas conversas com Lula. Isto não quer dizer que eu vá parar de conversar com o presidente Lula. Primeiro, pela obrigação institucional do diálogo. Segundo, pela relação de confiança que existe de parte a parte."