Celso Lungaretti*
Até hoje os petistas insistem na narrativa do golpe, pois é bem mais fácil para eles se dizerem vítimas de uma ilegalidade do que admitirem que Dilma Rousseff cavou sozinha a sepultura do seu mandato, sob os olhares complacentes do partido, que viu o desastre se aproximando e não agiu incisivamente para evitar a pior derrota da esquerda brasileira desde 1964.
Ou continuam grasnando foi golpe!, foi golpe!, ou terão de fazer a autocrítica obrigatória nessas situações, aquela autocrítica que eles estão nos devendo desde 31 de agosto de 2016, quando Dilma foi privada definitivamente do seu mandato.
Como o processo de impeachment cumpriu, uma por uma, todas as etapas que a Constituição determina, quem tantas velas acendeu no altar da democracia burguesa e dos valores republicanos foi simplesmente cínico ao arguir golpe como desculpa para esquivar-se de suas responsabilidades históricas.
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A situação se repete agora com a narrativa da fraude. É de um ridículo atroz defender a impunidade de candidatos que estejam bem situados nas pesquisas de intenção de voto. Quem sempre aceitou a Justiça que está aí — uma Justiça de classe, cujo objetivo último é eternizar a dominação burguesa e a imposição da desumanidade capitalista — não pode pular fora apenas porque uma de suas decisões lhe será inconveniente do ponto de vista eleitoral.
PublicidadeIsto só nos faz lembrar a infinidade de decisões judiciais, prejudicando os explorados, que foram tomadas nas últimas décadas sem que os petistas jamais ousassem acusá-las de fraudulentas.
Ou seja: esse PT amansado que concorda em jogar o jogo no campo do inimigo e segundo suas regras, não tem direito legal nem moral de alegar golpe em 2016 ou fraude em 2018.
Só os terá se e quando admitir que a Justiça e a democracia burguesas não passam de biombos para mascarar a supremacia absoluta do poder econômico, que é quem realmente manda e desmanda enquanto os incensados três Poderes não passam de satélites gravitando ao seu redor.
Ocorre que tal admissão o obrigaria, por uma questão de coerência, a desistir imediatamente das ilusões eleitoreiras, da conciliação de classe, do reformismo e do populismo, reassumindo as bandeiras revolucionárias que atirou no chão ao longo da década de 1980.
E este é um passo que, definitivamente, o PT descaracterizado de hoje em dia não quer dar, daí preferir continuar adotando a moral da ambiguidade, nem que isto implique trocar as argumentações convincentes pelo panfletarismo barato, afugentando os cidadãos com um mínimo de espírito crítico.
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